GESTÃO E LIDERANÇA - O MAU CHEFE

 

O que é melhor: trabalhar para um mau chefe numa boa empresa, ou para um bom chefe numa empresa fraca?

  Esta pergunta é bastante recorrente e espanta a divisão em relação à resposta.

  Para mim é uma questão muito fácil. Se tiver de escolher entre estas opções, trabalhe, sem dúvida, para a boa empresa. 

  Esta é a minha explicação. Se estiver numa boa empresa, os seus líderes, mais cedo ou mais tarde, encontrarão o mau chefe e destitui-lo-ão. Isso pode levar o seu tempo - meses ou até um ano ou mais. Nesse caso, até pode ser recompensado com uma promoção por ter apresentado bons resultados durante a sua provação. Afinal, toda a gente já passou por isto a certa altura na sua carreira: trabalhar arduamente para alguém temperamental, maldoso ou simplesmente incompetente.
  Mas mesmo que não seja promovido pela sua "tarefa de sofrimento" estará, de qualquer modo, melhor por ter aguentado. Poderá ficar onde está, na boa empresa, com um chefe novo melhor, ou avançar para uma oportunidade mais aliciante. Lembre-se: qualquer experiência que tiver numa empresa boa, rodeado de colegas inteligentes, vale a pena, e a reputação de uma boa empresa dá-lhe uma ótima referência de carreira mais tarde, se precisar dela.
   Agora, pense noutro cenário. Sem dúvida, ter um bom chefe é uma das melhores experiências na vida. Os bons chefes podem tornar o trabalho divertido, significativo e tudo mais. Os chefes bons podem fazer com que o trabalho pareça "casa" fora de casa. Podem fazer a sua equipa sentir-se como uma família. Em alguns casos, até podem fazê-lo sentir como se tivesse encontrado um amigo que há muito não via ou até como se tivesse recebido aprovação parental.
  Mas o bom chefe - numa dinâmica de empresa fraca - é um caixão de veludo. Todos os chefes se vão embora algum dia - avançam para cima, para fora ou lateralmente. E, um dia, o seu chefe bom também partirá. Na verdade, os chefes bons em empresas fracas são especialmente vulneráveis à mudança, porque têm o stress extra de "proteger" os seus colaboradores do impacto dos problemas maiores da empresa. Este fardo pode deixá-los esgotados ou deixá-los fora dos jogos de interesses ou ambas as coisas. De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde, eles partem.
  Por outras palavras, o sentimento que tem ao trabalhar para um bom chefe numa empresa fraca é apenas temporário. O seu chefe partirá, mas a empresa fraca permanecerá e não poderá fazer nada em relação a isso. Estará encurralado. Arranjar um novo emprego depois de ter trabalhado numa empresa com uma reputação medíocre ou fraca é difícil. É quase como se estivesse manchado.

  De certo modo, então, esta pergunta resume-se à escolha entre ganhos a curto ou a longo prazo.

   A curto prazo, trabalhar para um mau chefe, mesmo numa boa empresa, pode ser um inferno. Mas, a longo prazo, quando o chefe se for embora, pelo menos terá a oportunidade de seguir em frente.
  Trabalhar para um bom chefe a curto prazo pode, é claro, ser verdadeiramente agradável, mesmo quando a empresa estiver a desmoronar-se à sua volta. A longo prazo, porém, essas vibrações felizes voltarão para o atormentar. O seu chefe partirá e tudo o que tem é uma referência de segunda categoria e boas memórias.
  Faça um favor à sua carreira e vá buscar as suas memórias a outro lado.


  Jorge Neves