segunda-feira, 27 de abril de 2015

GESTÃO E LIDERANÇA - O AMBIENTE






  Toda a gente deseja fazer um bom trabalho. Se lhe for facultado o ambiente adequado, fá-lo-ão.

  Criar um ambiente saudável para que as pessoas possam crescer e prosperar é muito importante.
  Utilizando como metáfora o acto de cultivar um jardim, a natureza mostra-nos de forma clara a importância da criação de um ambiente saudável, se queremos que haja crescimento.
  Se se perguntar a quem se dedica à jardinagem, o que aconselharia a fazer, de modo a criar um jardim saudável, não hesitaria em responder que para isso, deve arranjar um terreno que apanhe muito sol e que revolvesse bem a terra para a preparar para o plantio.
  Depois teria de semear a terra, regá-la, fertilizá-la, afastar as pragas e remover periodicamente as ervas daninhas.
  Se fizer isto tudo, na altura devida verá as plantas crescer e em breve terá as flores e os frutos.
  Quando chegarem os frutos, será correcto dizer que você foi responsável pelo seu crescimento? Bom... o responsável talvez não pelo seu crescimento, mas contribuiu para que ele acontecesse.
  Nós não fazemos as coisas crescerem na natureza. O nosso Criador continua a ser o único a saber que umas pequenas sementes que caíram no chão, um dia transforma-se-á num grande e frondoso pomar. O melhor que podemos fazer é criar as condições adequadas para que o crescimento ocorra. Este princípio é especialmente verdadeiro no que diz respeito aos seres humanos. Por exemplo, que para uma criança se desenvolver normalmente durante os nove meses do período  de gestação, é essencial um ambiente saudável dentro do útero. Na  verdade as condições têm de ser quase perfeitas. Caso contrário, pode acontecer um aborto ou poderão surgir outras complicações graves.  E depois do nascimento, a criança, precisa de um ambiente saudável e afectuoso para se desenvolver adequadamente.É muito fácil em reconhecer as crianças que são oriundas de um ambiente familiar hostil. Estou convencido de que uma educação adequada e a criação de um ambiente familiar saudável são essenciais, para que uma sociedade seja também ela saudável. Estou a começar a ficar convencido de que a solução para a criminalidade tem muito pouco a ver com o que acontece na cadeira eléctrica e muito mais com o que acontece em casa e na escola.
  Este princípio também se aplica à medicina. Por vezes as pessoas acreditam, erradamente, que vão ao médico para serem curadas. No entanto, apesar de todos os avanços da medicina, nunca nenhum médico consertou um osso fracturado nem curou uma ferida. O melhor que a medicina e os médicos podem fazer é dar assistência através da medicação e terapias, e criar as condições adequadas para que o corpo se cure a si próprio. Acredito que os terapeutas não têm o poder de curar os pacientes. No início era frequente os terapeutas acreditarem que podem curar as pessoas, mas com a experiência geralmente descobrem que não têm esse poder. O que um bom terapeuta pode fazer é criar um ambiente saudável para que o paciente estabelecendo uma ligação de afecto baseada no respeito, na confiança, na aceitação e no compromisso. Quando um ambiente terapêutico e seguro é criado, os pacientes podem finalmente iniciar o processo de auto-cura. Fica claro que a criação de um ambiente saudável é muito importante para que possa ocorrer um desenvolvimento saudável, especialmente entre os seres humanos. A metáfora do jardim é uma metáfora que uso e usei desde há muito tempo; familiar, empresa, comunidade etc. Para simplificar, penso na minha área de influência como um jardim que precisa de cuidados. Conforme já falei, os jardins precisam de atenção e cuidados, por isso pergunto a mim mesmo: de que é que o meu jardim precisa? O meu jardim precisa de ser fertilizado com apreço, reconhecimento e elogios? O meu jardim precisa de ser podado? Preciso de eliminar as pragas e as ervas daninhas? Todos nós sabemos o que acontece a um jardim se deixarmos as ervas daninhas e as pragas o infestem livremente.  O meu jardim precisa de atenção constante e eu acredito que se fizer a minha parte e cuidar do meu jardim, colherei frutos saudáveis.

  E quanto tempo é necessário para se colherem os frutos?

  Infelizmente, conheci muitos líderes que ficaram impacientes e desistiram do esforço antes de os frutos terem tido a oportunidade de se desenvolver. Muitas pessoas desejam e esperam resultados rápidos, mas os frutos só surgem quando estão prontos. E é exactamente isso que o compromisso é tão importante para um líder. Imagine um agricultor que tenta saltar etapas plantando a sua colheita no fim do Outono e que espera obter uma safra antes que comece o frio e a neve comece a cair! A lei da colheita ensina-nos que os frutos crescerão, mas que nem sempre podemos saber quando esse crescimento  ocorrerá.

  Outro factor importante para determinar quando irão os frutos amadurecer é o estado das nossas Contas Bancárias Relacionais.

  Mas que diabo é uma Conta Bancária Relacional?

  Descobri esta metáfora quando estava a ler o best-seller de Stephen Covey  "Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes".

  Todos nó conhecemos as contas bancárias financeiras nas quais fazemos continuamente depósitos e levantamentos, esperando nunca exceder o saldo. A metáfora da conta relacional ensina-nos a importância de manter saudável o equilíbrio, incluindo as pessoas que lideramos. Simplificando, quando conhecemos uma pessoa, temos um saldo neutro na conta da relação, porque não nos conhecemos um ao outro e ainda estamos a adaptar o terreno em que pisamos. No entanto, à medida que a relação amadurece, fazemos depósitos e levantamentos nestas contas imaginárias com base na forma como nos comportamos. Por exemplo, fazemos depósitos nestas contas sendo confiáveis e honestos, dando às pessoas apreço e reconhecimento, cumprindo a nossa palavra, sendo bons ouvintes, não falando nas costas das outras pessoas, utilizando as cortesias simples, como dizer olá, por favor, obrigado, desculpe, etc. Fazemos levantamentos sendo rudes, mal-educados, agressivos, quebrando as nossa promessas e os nossos compromissos, traindo os outros, sendo maus ouvintes, convencidos, arrogantes, etc.
  Os frutos podem demorar mais tempo a aparecer, dependendo do estado das nossas contas bancárias relacionais.
  Para as pessoas com as quais estabelecemos relações, é assim que se passa. Para as pessoas que acabámos de conhecer geralmente temos uma folha em branco a partir da qual podemos começar. Esta ideia da conta relacional ilustra a razão pela qual devemos elogiar publicamente as pessoas e nunca punir as pessoas em público. Isto, porque ao punir uma pessoa em público, estamos obviamente a envergonhá-la em frente dos outros e isso é fazer um grande levantamento da conta que temos com ela. Mas, além disso, quando humilhamos publicamente alguém, também fazemos levantamentos das nossas contas com todas as pessoas que estão a assistir, porque os castigos públicos  são constrangedores e terríveis de presenciar e as pessoas perguntam-se: «Quando é que vai chegar a minha vez?»
  O mesmo princípio também se aplica quando elogiamos e mostramos apreço e reconhecimento pelos outros publicamente. Não só fazemos um depósito na nossa conta com o destinatário do elogio, como também fazemos depósitos nas contas que temos com as pessoas que estão a assistir. As pessoas estão sempre a observar o que o líder faz. Tudo o que o líder faz envia mensagens.

  Em tempos encontrei um artigo na revista Psychology Today (Psicologia Actual) que achei interessante. O behaviorista que escreveu o artigo diz que não existe uma correlação entre o feedback positivo e negativo. Adaptando isto ao termo metafórico de «depósito e levantamento», ele afirma que para cada levantamento que um indivíduo faz da sua conta com uma determinada pessoa são necessários quatro depósitos para repor o equilíbrio. Uma proporção de quatro para um!

  Todos nós somos tendencialmente muito sensíveis, apesar da nossa calma aparente. Para sustentar esta afirmação, o artigo prossegue com a discussão de um estudo que foi conduzido com o objectivo de determinar até que ponto as pessoas tinham uma visão realista de si próprias. Então, um total de 85 por cento do público em geral considerava-se «acima da média» Questionados acerca da sua «sua capacidade de relacionamento com os outros», 100 por cento colocavam-se na metade superior da população 60 por cento classificavam-se nos 10 por cento mais altos e 25 por cento em 1 por cento da população. Questionados relativamente à sua «capacidade de liderança», 70 por cento achavam que se encontravam entre os melhores 25 por cento e apenas 2 por cento consideravam estar a baixo da média. E vejamos os homens. Ao serem questionados sobre as suas «capacidades em comparação com outros homens», 60 por cento classificaram-se nos melhores 25 por cento e apenas 6 por cento disseram estar a baixo da média.
  De um modo geral, as pessoas têm uma imagem demasiado inflacionada de si mesmas. Isto significa que devemos  ter cuidado quando fazemos levantamentos das contas dos outros, porque esses levantamentos podem sair-nos muito caros.
  É importante construir uma relação baseada na confiança. Podemos passar anos a esforçarmo-nos para a construir e essa confiança pode perder-se totalmente num momento de indiscrição.

  Isto parecem ser teorias muito bonitas e agradáveis, mas é mesmo assim na vida real quando se enfrentam superiores que só pensam no poder e que não estão minimamente interessados em pirâmides invertidas, amor, respeito e contas relacionais? O que é que uma pessoa deve fazer se trabalhar para alguém  com estas características?
  Pergunta oportuna. As pessoas que vivem muito concentradas no poder sentem-se, de um modo geral, ameaçadas pelas pessoas centradas na autoridade, o que significa que a situação se pode tornar desconfortável. Pode até custar-nos os nossos empregos. Contudo, existem poucos lugares onde não possamos tratar as pessoas com amor e respeito, independentemente da forma como estejamos a ser tratados.

  Para se resolverem os problemas das empresas disfuncionais, uma das primeiras coisas a fazer é começar por um estudo da atitude dos funcionários.
  Deve-se analisar sempre os resultados do estudo por departamento e até por turnos, para detectar de uma forma mais eficaz as áreas problemáticas.
  Mesmo nas empresas com mais problemas, que, consequentemente, apresentam resultados mais negativos, encontram-se sempre ilhas saudáveis de aparente tranquilidade no meio de um mar tumultuoso.
  Quando os resultados do estudo permitem identificar uma das áreas saudáveis deve-se assumir a responsabilidade pessoal de verificar in loco o que se passa naquele departamento específico. Aí por certo existe um líder. Apesar do imenso caos, da confusão, da política de poder e de outras disfunções que acontecem em toda a empresa, aí está um líder que se responsabiliza pela sua pequena área de influência e que está a ter um impacto positivo.
  Este líder não pode controlar toda a empresa, mas pode controlar a forma como se comporta todos os dias em relação às pessoas que lhe tinham sido confiadas.

  Como deve um líder proceder para que todos colaborem?
  - Você é que estabelece as normas de comportamento dos seus liderados.
  Como líder você é o responsável pelo ambiente que existe na sua área de influência e foi-lhe concedido poder para exercer as suas responsabilidades.  Desta forma, você tem poder para determinar os comportamentos dos seus liderados.
  Mas o que é que se entende por estabelecer as normas de comportamento? Será mesmo possível determinar o comportamento de outra pessoa?
  Claro que é! Você e eu determinamos constantemente os comportamentos  das  pessoas  que lideramos.
  Se um funcionário de apoio ao cliente começasse a desenvolver comportamentos menos próprios com um cliente, estaria a pôr o seu emprego em risco. Se os funcionários não seguissem as regras passavam rapidamente a ex- funcionários., Estabelecemos constantemente padrões de comportamento como condição para o funcionário manter o seu posto de trabalho.

  Nós não podemos mudar as pessoas. Lembra-se desta frase sábia dos Alcoólicos Anónimos. «A única pessoa que podes mudar é a ti mesmo.»
  Conheço muitas pessoas que realmente agem como se pudessem mudar os outros. Estão sempre a tentar corrigir os outros, a convertê-los à sua religião, convencê-los a mudar de ideias, qualquer coisa.
  Tolstoi disse que toda a gente quer mudar o mundo, mas ninguém quer mudar-se a si mesmo.
  A minha definição de motivação é qualquer tipo de comunicação que influencie a escolha. Como líderes, nós podemos providenciar as condições necessárias, mas as pessoas têm de fazer a sua própria escolha de mudar. Aquele princípio do jardim - não somos nós que fazemos o crescimento ocorrer. O melhor que podemos fazer é criar o ambiente ideal e o atrito necessário para que as pessoas possam escolher mudar e crescer.


  Jorge Neves