terça-feira, 17 de abril de 2012

LIDERANÇA PESSOAL - O CONHECIMENTO DE SI







Tomar consciência 
 de si mesmo
 é o processo mais importante
 que acontece
 na vida de uma pessoa
                                          G.Allport


 
É fascinante a aventura de descobrir as outras pessoas. Não menos fascinante é a aventura de descobrir-se a si mesmo e tomar consciência das próprias capacidades e limitações.
 Uma pessoa que se conhece poderá, mais facilmente, os seus pontos fracos e desenvolver os seus pontos fortes. Desta forma, dará um passo decisivo na construção da auto-estima e da autoconfiança, atitudes facilitadoras da comunicação interpessoal.

1.1. Métodos

 Para o conhecimento de si próprio, existem três métodos complementares: a auto-análise, as opiniões alheias e os testes psicológicos. 

 Auto-análise 

 A auto-análise é um processo que consiste em observar-se e, por comparação com os outros, descobrir as próprias capacidades e limitações.
 Não há rigor científico na auto-análise. Ninguém consegue analisar o seu próprio «eu», objectivamente, como se analisasse outra pessoa. Ninguém consegue «fazer de conta» que é outra pessoa e ver-se, do lado de fora, como juiz imparcial. Mas, com um esforço de lucidez e honestidade, é possível conhecer-se, usando os comportamentos e as competências dos outros como padrão ou modelo de referência.
 Um processo de autoconhecimento é, portanto, comparar-se com os outros, embora haja perigo nas comparações excessivas, sobretudo quando temos tendência a comparar as nossas limitações com os talentos dos outros. É assim que aparecem frases reveladoras de complexos de inferioridade: 

    «Invejo as qualidades do João...»
    «Gostava de ter o feitio da Isabel...»
    «Eu só queria ser como...»

Comparar os nossos talentos com as limitações alheias é igualmente perigoso, porque pode conduzir aos complexos de superioridade.
Fazem mal aqueles que aproveitam a auto-análise como pretexto para alimentar complexos. O objetivo final da auto-análise é conhecer-se para lidar melhor consigo próprio. Sem severidade nem benevolência. Com verdade.

 Opiniões alheias 

A forma como nos vemos nem sempre coincide com a forma como os outros nos vêm. Acontece mesmo que os outros vêem em nós facetas que não conseguimos ver sozinhos. Convirá, pois dar atenção às opiniões alheias.
Muitas informações preciosas podem ser recolhidas nas observações que os outros fazem de forma espontânea. Mas nem sempre as reações espontâneas dos outros são suficientes para sabermos o que  eles pensam de nós. Nesses casos, é útil tomar a iniciativa de solicitar a opinião dos outros a nosso respeito.
Há pessoas, sobretudo adultos, com dificuldade em entrar neste «jogo» de pedir opiniões. Algumas pessoas preferem não falar desses assuntos. Outras preferem «falar pelas costas».
Vale a pena pedir aos outros que falem a nosso respeito. Essencial é variar o tipo de pessoas a ouvir, já que cada um de nós revela facetas diferentes na escola, na família, no trabalho ou tempos livres. Particularmente importantes são as opiniões sinceras de familiares, amigos, colegas e superiores hierárquicos.
Devemos ter em conta as opiniões alheias, mas não devemos julgar-nos apenas por aquilo que os outros pensam e dizem de nós. É difícil que os outros consigam fazer uma apreciação objetiva das nossas forças e fraquezas. Mesmo as pessoas mais competentes têm tendência a ver-nos à luz daquilo que sabem e sentem, à luz das suas motivações e dos seus preconceitos, à luz das suas simpatias e antipatias.
Na subjetividade das opiniões alheias, há dois casos extremos que merecem o maior cuidado. O primeiro caso é o das opiniões favoráveis: as pessoas, porque gostam de nós ou desejam agradar-nos, referem apenas as nossas capacidades e ignoram as nossas limitações. O segundo caso é o das opiniões desfavoráveis: as pessoas, porque são menos simpáticas ou menos delicadas, criticam as nossas limitações e ignoram as nossas capacidades.
Aqueles que desejam conhecer-se melhor têm de aproveitar todas as opiniões, favoráveis e desfavoráveis. Aprendemos com os amigos simpáticos, mas também com os inimigos. Por vezes, podemos até aprender mais com os inimigos, porque eles são sinceros e têm coragem de nos dizer na cara «verdades» que mais ninguém nos diz e que nós próprios não admitimos.
A verdade a nosso respeito está, em geral, no meio termo entre os dois extremos das opiniões favoráveis e das opiniões desfavoráveis.

 Testes psicológicos 

A ajuda de um psicólogo experiente pode ser fundamental para o conhecimento de si próprio. Sobretudo, se o psicólogo fizer também uso de testes.
Os testes são técnicas que permitem estudar, com rigor aproximado, determinadas capacidades de um indivíduo. Uns medem o nível intelectual. Outros revelam aptidões concretas. 
Hoje, a maioria das revistas divulga testes como se fossem «jogos de sociedade» Muitos desses testes não merecem crédito. De facto, só são válidos os testes concebidos e aplicados por pessoas competentes (psicólogos ou outras pessoas especialistas na matéria). E, mesmo assim, não devemos confiar neles incondicionalmente, porque nenhum teste consegue revelar, com rigor e objetividade, todas as dimensões da pessoa humana. A complexidade humana, mistura original de características inatas e de características adquiridas, ultrapassa todos os testes e todos os especialistas.


1.2.  Obstáculos 


Na relação com os outros, o homem vai-se descobrindo. Mas, apesar de todos os progressos, há muitos obstáculos que impedem o conhecimento de si. Dada a complexidade humana, ninguém consegue ter de si próprio uma imagem correta. Ninguém possui todas as informações a seu respeito. Ninguém vê, exatamente, todas as dimensões do «eu» ou facetas da sua personalidade.
Há dimensões conhecidas por nós e pelos outros. Há dimensões conhecidas por nós e ignoradas pelos outros. Há dimensões conhecidas pelos outros e ignoradas por nós. E, finalmente, há dimensões desconhecidas por nós e pelos outros.
Usando o esquema da «Janela Johari», para representar o grau de lucidez nas relações interpessoais, podemos afirmar que existem quatro dimensões do «eu»: o «eu» aberto, o «eu» secreto, o «eu» cego e o «eu» desconhecido. Estas dimensões ou facetas da personalidade diferenciam-se pelo facto de serem mais ou menos conhecidos pelo próprio e pelos outros.

    «Eu» aberto. É a área conhecida pelo próprio e pelos outros. São as facetas da personalidade que conhecemos em nós e damos a conhecer aos outros.

    «Eu» secreto. é a área conhecida pelo próprio e vedada aos outros. São as facetas da personalidade que conhecemos em nós e não revelamos aos outros.

    «Eu» cego. é a área conhecida pelos outros e ignorada pelo próprio. São as facetas da personalidade que os outros veem e nós não podemos ou não queremos ver.


    «Eu» desconhecido. É a área »escura» para o próprio e para os outros. São facetas mais profundas da personalidade de acesso direto, permanecem ignoradas, como se não existissem.


O homem vai conhecendo e dominando cada vez mais a Natureza. mas está longe de conhecer-se a si mesmo. Há em todos nós, talentos de várias espécies que nunca usamos, porque não chegamos a conhecer. Já dizia o filósofo grego Tales que «o mais difícil é conhecermo-nos a nós próprios». Apesar dos obstáculos, cada pessoa pode melhorar o conhecimento de si e descobrir algumas aptidões escondidas, aproveitando todos os métodos ao seu alcance. Assim, terá mais hipóteses de fortalecer a autoestima e a autoconfiança.



Jorge Neves