sexta-feira, 5 de abril de 2013

GESTÃO E LIDERANÇA - AQUELE MALDITO CHEFE






Nunca conheci alguém que não tivesse recordações de um chefe realmente bom. Por uma boa razão: os bons chefes conseguem ser, ao mesmo tempo, amigos, professores, coaches, aliados e fontes de inspiração.
  Podem moldar e promover a sua carreira como nunca esperou - por vezes, podem mesmo mudar a sua vida.
  Pelo contrário, um mau chefe quase pode matá-lo.
  Não literalmente, é claro, mas um mau chefe pode aniquilar a parte da sua alma onde nasce a energia, o empenho e a esperança. Num ritmo diário, um mau chefe pode fazer com que se sinta zangado, magoado e amargo - até fisicamente doente.
  Se for como a maioria das pessoas, ao longo de uma carreira de 30 e poucos anos terá tido uma mão cheia de 
Ótimos chefes, terá encontrado muitos mais bastante bons e apenas um ou dois perfeitos idiotas - pessoas que são constantemente desagradáveis e fazem com que queira atirar tudo ao ar e demitir-se.
  Há maus chefes de todas as formas. Alguns puxam para si o mérito todo pelo trabalho realizado; outros são incompetentes; alguns "beijam" os superiores, mas tratam mal quem está abaixo deles; há outros ainda que são fanfarrões e gostam de humilhar, têm variações de humor, retêm elogios e recompensas pecuniárias, quebram compromissos ou demonstram favoritismos.
  Ocasionalmente, existem maus chefes que conjugam várias destas características.
  Como é que chegam a chefes?
  Bem, por vezes até são bastante talentosos, ou são extremamente criativos. Podem também ter alianças políticas vantajosas ou mesmo um familiar bem posicionado.
  Por acaso, os maus chefes costumam ter vidas profissionais mais longas em determinadas indústrias, comércios ou serviços do que noutras. Aos escritores, artistas e produtores bastante talentosos, que são promovidos para gerir projetos é dada, muitas vezes, "carta branca" e o seu mau comportamento é desculpado como argumento de que são "génios" O Palácio de São Bento é também, muitas vezes, porto seguro para maus chefes. Os principais criadores de riqueza são frequentemente considerados insubstituíveis, e sabem-no, o que torna alguns ainda mais insuportáveis.
  Esqueçamos as especificidades de cada industria, comércio ou serviços. O mundo tem idiotas. Alguns deles são chefes.
  O que fazer então quando um desse idiotas é seu chefe?
  Não encontrará, porém, quaisquer respostas definitivas, uma vez que cada situação é única. Encontrará uma série de perguntas que, com boa dose de probabilidade, farão a abordagem adequada à sua situação, sendo que "adequada" significa que se ajusta aos seus objetivos na vida e no trabalho.
  Antes de avançarmos para essas perguntas, deixe-me falar-lhe sobre o princípio mais importante subjacente a esta questão.
  Independentemente de ter um mau chefe não se pode sentir como uma vítima. Um mau chefe pode fazer com que tenha vontade de se queixar aos que trabalham consigo, de lamuriar junto da sua família, de dar um murro na parede ou de ver televisão com uma bebida na mão. Talvez o faça desejar andar a navegar pela internet ou contactar agências de emprego à procura de um emprego em qualquer local, menos naquele onde está.
  Considerando bem as coisas, poderá acabar por sentir pena de si próprio.

  Isso nunca! 

  Seja qual for a sua situação profissional na empresa, ver-se como uma vítima é ter uma atitude demasiado derrotista. Em relação à sua carreira, é uma postura que lhe pode destruir as opções - pode até ser o início de uma "espiral da morte" que acabará com a sua carreira. Tenho um amigo, um comercial de uma multinacional, que passou de um emprego medíocre para outro depois de ter tido uma discussão com o seu mau chefe e se ter demitido extremamente zangado. Sozinho à procura de trabalho, sem quaisquer recomendações, tudo o que tinha para dizer aos potenciais empregadores era um rol de desgraças intitulado "fui lixado". Por fim, cinco anos mais tarde, acabou por se estabelecer num emprego equivalente àquele onde tinha começado, mas numa empresa menos reconhecida e com um salário 40 por cento mais baixo. Não deve ficar sempre perto de um mau chefe. Há situações em que precisa de sair. Independentemente da sua decisão, evite a habitual mentalidade de vítima. Sabe ao que me refiro. 


 Por favor!


  À semelhança de qualquer outro acontecimento desafortunado ou injusto que lhe suceda na vida, trabalhar com um chefe difícil é um problema seu. Compete-lhe a si resolvê-lo.

  Para o efeito faça a si próprio as quatro perguntas que se seguem. As respostas irão ajudá-lo a orientar uma situação deveras dolorosa - mas que cabe a si aceitar, resolver ou acabar.

  A primeira pergunta:

  Porque é que o meu chefe se comporta como um idiota? Por vezes, a resposta a esta pergunta é muito simples. O seu chefe está a comportar-se  como um idiota porque é isso mesmo que ele é. Pode ser excelente com os clientes e aceitavelmente razoável com os seus próprios chefes e colegas, mas trata mal todos os que estão abaixo dele e o seu comportamento revela-se - sob a forma de intimidação, beligerância, negligência, secretismo ou sarcasmo.
  Se o seu chefe adota uma atitude impossível apenas quando se dirige a si, então essa é uma situação bem diferente.
  Nesse caso, tem de começar a interrogar-se sobre o que terá feito para merecer a sua desaprovação. É isso mesmo - tem de interrogar-se se será a causa do comportamento do seu chefe. De uma forma geral, os chefes não são horríveis para as pessoas de quem gostam, respeitam e precisam. 
  Se o seu chefe tem uma atitude negativa para consigo - e essencialmente consigo - pode ter a certeza que tem a sua versão dos acontecimentos e a versão diz respeito à sua atitude ou desempenho.
  Terá que descobrir o que se está a passar.
  Comece por colocar a si próprio aquela pergunta, mas saiba qua a autoavaliação é difícil, para dizer as coisas de forma suave. Mesmo que tenha uma grande dose de maturidade e um estômago de ferro, é difícil ver-se da mesma forma que os outros o veem. O problema é que geralmente os profissionais têm uma ideia positiva do seu desempenho profissional e da popularidade junto da equipa - muitas vezes por um e dois ou mais valores acima.
  Esteja ciente disso enquanto realiza aquele que é, reconhecidamente, o difícil "teste do espelho".
  Pense bem no seu desempenho e insista em ver onde pode estar a falhar. Pense no porquê de os seus colegas poderem não o considerar um "jogador" de equipa. Encare as suas resistências e avalie a sua produtividade, o seu tempo de permanência no excretório, bem como a contribuição para o volume de vendas e receita. Talvez seja o tipo de pessoa que começa muitos negócios, mas nunca termina um. Talvez conclua muitos negócios, mas vangloria-se com algum exagero. Talvez os seus colegas não se sintam realmente "bem" com o facto de ter perdido um cliente há meses atrás.
  Por fim, encare a sua atitude perante a autoridade, porque poderá muito bem acontecer qua a causa do problema que enfrenta com o seu chefe se deva ao facto de ser, no fundo, uma pessoa que detesta chefes.
  Detestar chefes faz parte da sua personalidade. A este tipo de pessoas não faz diferença para quem trabalham, elas encetam qualquer relacionamento com a autoridade com um cinismo mal reprimido. Podem existir várias razões para esse comportamento - a educação que tiveram , as experiências no local de trabalho ou familiares, inclinações políticas. Na verdade, não interessa. As pessoas que detestam chefes, normalmente, deixam transparecer um negativismo moderado constante para com "o sistema". Quanto o fazem, os seus chefes sentem e retribuem isso.
  Procure não se juntar ao almoço com os colegas das lamúrias. Não faça parte dessa corrente. Não se sente à mesa dos sonhos perdidos.
  Na maioria das vezes, os chefes fartam-se da corrente das lamúrias e do facto destas pessoas minarem o ambiente, pelo que as excluem - mostrando-lhes na realidade, o que é ser um mau chefe.
  Talvez nada disto lhe seja muito familiar - em geral sente-se confortável  com a autoridade e a sua restante autoavaliação também não o fez chegar a grandes conclusões. O que fazer então?
  É altura de descobrir o que o seu chefe está a pensar. 
  Qualquer tipo de confronto é muito arriscado. O seu chefe pode estar apenas à espera de uma situação dessas para o mandar embora. Com efeito, pode ter esperança que as suas vibrações negativas acabem por fazer com que se dirija ao gabinete dele para perguntar: "O  que é eu estou a fazer de errado?", para que lhe possa responder: "Demasiadas coisas para que seja possível manter-se na empresa."
  Mesmo assim  tem de falar. Não há forma de dar a volta a isso. Lembre-se apenas que, antes de se deslocar para a reunião, tem que estar preparado com opções caso saia dele desempregado.
  Depois disso, vá em frente. Não seja defensivo. Lembre-se que o seu objetivo é deslindar o que o seu chefe não foi capaz de lhe dizer explicitamente, seja por que razão for. Talvez seja avesso a conflitos ou tenha estado apenas demasiado ocupado. Independentemente disso, o objetivo é conseguir saber qual é o problema que tem com a sua atitude ou desempenho.
 Se tiver sorte, o seu chefe será franco sobre as suas falhas e, em conjunto, poderão elaborar um plano para corrigir e conseguir que o seu desempenho ou atitude voltem a melhorar. Idealmente, à medida que for dando o seu melhor para se aperfeiçoar, também a atitude dele para consigo revelará a mesma transformação.
  Ironicamente terá menos sorte se descobrir que o seu mau chefe está satisfeito com o seu desempenho. Se for esse o caso, estará a ser desagradável consigo apenas porque não gosta muito de si.
  Isso coloca-o na mesma posição de quem trabalha para maus chefes que agem da mesma forma...apenas porque essa é a sua forma de ser.
  Para todos os que estão nessa situação, a pergunta que se coloca a seguir é:

  A segunda pergunta:

  Qual é o objetivo do meu chefe?  Por vezes, é evidente que um mau chefe está de saída. Os próprios chefes dele denunciaram à organização que estava a exagerar; ou ele próprio esclarece  que não consegue esperar para mudar para outro lugar. Em qualquer dos casos, a sobrevivência é apenas um jogo de espera. Apresente fortes resultados e tenha uma abordagem otimista até poder respirar de alívio.
  Está num barco diferente se tudo indicar que o seu mau chefe não vai tão cedo para outro lugar.
  A tabela abaixo tem como finalidade classificar por categorias os vários tipos de líderes para que o ajude a decidir sobre quem devia permanecer na empresa e quem deveria sair.
  A tabela divide os líderes consoante os seus resultados - bons ou maus - e a forma como vivem a missão e os valores da empresa, tais como ser franco, dar voz aos outros, ter dignidade entre outros valores.



  TIPO 1:                                                       TIPO 2:
_________________________________________________________________

  Bons valores / Bom desempenho                   Maus valores / Mau desempenho




  TIPO 3:                                                        TIPO 4:
 _________________________________________________________________

  Bons valores / Mau desempenho                    Maus valores / Bom desempenho



   Os chefes de tipo 1, que estão no canto superior esquerdo da tabela, são aqueles que se deseja compensar e promover e que constituem modelos para o resto da empresa. Os chefes de tipo 2 que estão no canto superior direito., têm de ir embora, quanto mais depressa possivel, e normalmente é isso que acontece.
 Os chefes de tipo 3, que estão no canto inferior esquerdo, acreditam verdadeiramente nos valores da empresa e praticam-nos zelosamente, mas não conseguem apresentar resultados. Estes indivíduos devem ser orientados e ser-lhes atribuído um mentor, dando-se-lhe mais uma ou duas oportunidades em outras áreas da empresa.
   A maioria dos maus chefes são os que se encaixam no canto inferior direito - tipo 4 - e são aqueles com quem é mais difícil negociar. Apesar do seu comportamento negativo, muitas vezes permanecem na empresa durante um longo período de tempo devido aos seus bons resultados.
  A maior parte das empresas tem, normalmente, conhecimento da existência destas pessoas e acaba por transferi-las. 
 No entanto, todas as empresas, mesmo as boas, mantêm alguns gestores neste quadrante durante mais tempo do que deviam. É um grande dilema para as chefias de todos os níveis hierárquicos. Estes ouvem os murmúrios de descontentamento dos que estão abaixo do indivíduo em causa, mas veem ótimos resultados à frente. Algumas vezes é preciso ter acontecido um ato divino para este tipo de chefes saírem. 
   Tal situação conduz a uma espécie de inércia organizacional.
  Normalmente, um mau chefe que apresente ótimos resultados não tem de morrer para que os gestores seniores o substituam, mas pode ter de acontecer um cataclismo para levar a uma tomada de decisão.
  Poderá não trabalhar numa empresa que deixe um mau chefe permanecer até que haja confusão. Mas é possível que a apresentação de ótimos resultados mantenha o chefe por perto indefinidamente. 
  Se sente que é esse o caso, a sua próxima pergunta deveria ser:

  A terceira pergunta: 

  O que me acontecerá se apresentar bons resultados e aturar o meu mau chefe?  Se pensa qua a sua organização, especialmente o chefe do seu chefe ou alguém do departamento de RH, irá compreender a sua situação difícil e mostrar-se solidário, deve acreditar plenamente que acabará por ser transferido para uma posição acima, ou equivalente, como recompensa pela sobrevivência. Enquanto espera, aguente-se onde está e dê o máximo ao trabalho.
  Eu, pessoalmente, tive a sorte de ter tido muitos bons chefes ao longo da minha carreira. Incentivaram-me, protegeram-me construíram a minha autoconfiança e apresentaram-me desafios que desenvolveram as minhas capacidades.
  No relacionamento com este tipo de maus chefes seja prudente. Poderá sentir o impulso de saltar hierarquias e ir falar com o chefe do seu chefe. Isso pode ser um suicídio. Em cerca de 90 por cento das vezes, pode sair-lhe o tiro pela culatra ao queixar-se ao chefe do seu chefe sobre o comportamento dele. O big boss até pode ter os seus interesses em conta quando chama a atenção do seu chefe relativamente ao comportamento dele, mas pode ter a certeza absoluta que a sua vida só poderá tornar-se mais desagradável a partir daí. Por alguma razão as crianças não se metem com os valentões. Infelizmente, esse princípio também se aplica ao trabalho.
  Haverá sempre um elemento de incerteza quando se está perante um mau chefe. Poderá presumir um final feliz ou ser-lhe prometido um. Mas existem poucas garantias. Apenas tem a certeza, neste tipo de situação, que ir trabalhar todos os dias não é divertido.
  Por esse motivo precisa de se questionar o seguinte:

  A quarta pergunta:

  Por que razão estou aqui a trabalhar? É raro um emprego ser perfeito em todas as vertentes. Por vezes, permanece num emprego pelo dinheiro ou pelos amigos; por vezes desiste do dinheiro e dos amigos pelo amor ao trabalho, ou pela localização do mesmo, ou ainda por não ter de viajar. Por vezes permanece num emprego porque a empresa tem tanto prestígio que sabe que isso o ajudará a conseguir um novo emprego assim que tenha mais alguns anos de experiência.
  Quando se encontra numa situação em que tem um mau chefe que não vai mudar tão cedo, precisa de avaliar as concessões que tem de fazer e perguntar: "Valem a pena?"
  Se a resposta for um "não", então comece a elaborar o plano de fuga que lhe permita sair com o mínimo prejuízo.
  Por outro lado, se a relação com o seu chefe lhe oferece algumas vantagens a longo prazo que compreende e aceita, então não tem escolha. Concentre-se no porquê da sua permanência e encare o seu mau chefe sob outra perspetiva. Ele não é tudo na sua vida - é o aspeto negativo de uma carreira, ou o acordo de vida que fez consigo mesmo.
  Mais do que qualquer outra coisa, consciencialize-se que se mantém sob a alçada de um mau chefe por opção sua. Isso significa que perdeu o direito de se queixar.
  Já não se pode considerar uma vítima.
 Quando as escolhas são suas, as consequências também serão.
  
  Num mundo perfeito, todos os chefes seriam perfeitos.
  Isso acontece tão poucas vezes, que existem filmes e livros inteiros dedicados a maus chefes, já para não falar de inúmeras canções populares.


  Quando tiver um mau chefe, comece por descobrir se é você o problema. Isso não é fácil mas, em muitos casos, um mau chefe é apenas um chefe desapontado consigo.
 Se estiver convencido que não é você o problema, interrogue-se se é provável que a sua empresa mantenha um mau chefe que apresente bons resultados.  Se a resposta for positiva, a única coisa que lhe resta é analisar as concessões que está disposto a fazer. O seu emprego vale o preço de aturar um mau chefe? Se for esse o caso, aguente e cale-se, para colocar uma variante no velho ditado.
  Se as concessões não valerem a pena, saia de bem com todos.
  E quando iniciar o seu próximo trabalho, lembre-se exatamente do que tornou o mau chefe nisso mesmo e como essa situação o fez sentir - para que, quando for altura de ser você o chefe, não cometer os mesmos erros.



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