Hoje é moda dizer-se que não existem problemas e sim "desafios". Não concordo com esta abordagem. Como é óbvio todos temos problemas; é um erro pensar o contraditório. Todos temos de enfrentar dificuldades ao longo da vida; é isso mesmo que ela é - enfrentar problemas, desafiando-os e descobrindo soluções. Pelo caminho, poderão dizer-lhe que os seus problemas não são reais. Os bons líderes ouvem os seus colaboradores e não ignoram os seus problemas. A resposta certa consiste em perguntar: "Tem sido capaz de definir qual é o verdadeiro problema?"
É frustrante que um marido ou mulher não tenha interesse em ouvir os problemas do seu companheiro e é motivo de fúria ouvir o outro dizer: "O teu problema não existe". Os problemas são bastante reais para aqueles que os sentem. Obviamente, aquilo que entende como sendo um problema é um problema. De igual modo, se a sua companheira ou companheiro sente que tem um problema, esse é um problema que precisa de ser levado a sério.
Como criaturas sociais que somos, tendemos minimizar a importância dos problemas. Ouvimos as nossas mães dizer tantas vezes: "Não vamos discutir agora, quando nos estamos a divertir tanto!" (é normalmente a mãe que assume o papel de conciliadora.) Se sentimos dificuldades em admitir que temos problemas e preferimos manter uma aparência de paz em vez de os aprofundarmos, arriscamo-nos a distanciar-nos deles.
Fazer de conta que um problema não existe apenas o torna maior e mais destrutivo. Aprendi isto há muito tempo. Como alguém um dia disse: "Se ignorares os problemas e tentares apenas basear-te nos aspetos positivos, estes não irão crescer, mas os problemas sim". Estas sábias palavras mudaram e melhoraram tanto organizações como relações.
Quando se nega os problemas numa organização, esta vai á falência.
Se negar os problemas numa relação, esta também irá "falir".
Quando a "Cortina de Ferro" caiu, todos os problemas existentes nos países comunistas se revelaram. Os governantes da Ex- União Soviética tinham sistematicamente negado ao seu povo e ao resto do mundo que se debatiam com sérias dificuldades. Talvez acreditassem que, admitindo essas dificuldades, a desagradável verdade pudesse dissipar o mito de que o comunismo era o sistema ideal. A recusa em reconhecer a existência de problemas e a incapacidade para os tentar corrigir provocou a inevitável queda do regime.
Em várias reuniões de formação com equipas de vendas, sobre motivação e liderança, usava por vezes pedras para representar os nossos problemas (ninguém nos pode acusar de lidar com problemas imaginários!)
Colocava em cima da mesa, em frente a cada participante, pedras de várias formas e tamanhos, sendo que cada tamanho pretende simbolizar a magnitude do problema.
Um dia, um empregado de mesa que nos estava a servir o café perguntou se éramos geólogos. "As pedras representam os nossos problemas", respondi-lhe. Ele compreendeu de imediato e contou-me como os seus problemas o faziam sofrer. "À noite, levo-os para a cama comigo. Mas tenho tantos que não há espaço suficiente para mim na cama e não consigo adormecer. Estou cansado ainda antes de ter começado o dia de trabalho". Sugeri-lhe que tentasse utilizar pedras para definir e determinar quais os seus problemas de forma a pode lidar com cada um de cada vez. Vários meses depois, esse empregado de mesa aproximou-se de mim entusiasticamente e disse: "Agora ando a dormir melhor!"
Muitos não se apercebem que quando um problema é definido e entendido fica a "meio caminho" para a sua resolução.
Os problemas que não tenham sido identificados e analisados, continuarão por resolver. Quando tira tempo para compreender qual é o verdadeiro problema, encontra uma forma de o atacar.
Sabe qual é a diferença entre um desafio e um problema? Um desafio pode parecer pavoroso, mas faz com que lhe surjam novas forças quando decide aceitá-lo. Pense no que acontece quando começa um novo emprego. Depara-se com muitas situações qua não lhe são familiares e sente-se nervoso, mas também entusiasmado. Quer ser bem-sucedido nesta nova diligência e procura fazer os esforços necessários para o conseguir. Em contrapartida, um problema tende a fazer com que sinta dominado, vergando-o como se tivesse uma pesada pedra no estômago. A análise do problema permite-lhe transformá-lo num desafio. A definição é clara e sente-se revitalizado.
A sua Inteligência Emocional é um extraordinário instrumento de resolução de problemas. Uma compreensão exata das nossas emoções torna-nos melhor a resolver problemas. Na minha experiência na formação de equipas de vendas, sei que é verdade.
Então, qual é afinal o seu problema? Qual é o seu verdadeiro problema? Nas várias formações que dei sobre motivação e liderança, questionava um participante de cada vez, depois de cada qual apresentar o seu problema específico. Logo no início concordei dirigir toda a minha atenção para o problema de cada um dos participantes e prometi não dar qualquer conselho relativamente ao problema de cada um. Fiz as perguntas e o participante responde. Esperando desvendar as principais questões, pergunto nos momentos críticos: "Qual é que pensa que é o problema?". A experiência ensinou-me que aquilo que inicialmente acreditamos ser o problema não o é. É incrível verificar a forma como o dito problema de um participante se pode alterar através de um diálogo que começa de uma maneira tão simples como esta:
"Tenho um problema no emprego"
"Qual é o problema"
"Estou entediado e sinto-me bastante cansado."
Por vezes, o participante acaba por decidir fazer algumas mudanças no emprego; um outro descobre que o verdadeiro problema está no seu casamento e outro apercebe-se que precisa de mudar completamente de carreira. Coloquei questões até que o participante esteja satisfeito por ter compreendido o problema na totalidade, sentindo-o e definindo-o até perceber que esse é o verdadeiro problema, porque faz sentido e, mais importante ainda, porque sente que está certo. Obviamente, nem sempre o que está no rótulo é o que dentro da garrafa. Cada problema contém elementos de emoção; é isso que faz dele um problema.
Quando "sente" qual é o problema, assimila as suas emoções e faz com que este se atenue. Quando o problema estiver completamente definido e entendido, terá um desafio pela frente!
Se nós não tivéssemos problemas nem desafios, pouco teríamos que nos fizesse seguir em frente e a vida poderia muito aborrecida. Existe um verdadeiro entusiasmo no desafio - como sabe, por vezes até entusiasmo em demasia! A minha vida, talvez como a sua tem sido recheada de problemas e desafios. Com o tempo, torna-se mais fácil aceitar esta realidade, não porque os meus problemas se tenham tornado mais simples, mas porque aprendi a gostar do jogo que implica definir, sentir e resolver esses problemas. É empolgante, uma vez que me faz avançar sempre e sinto-me como um pássaro a voar alto no céu.
Jorge Neves
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