Uma vida sem sentimentos "problemáticos" poderia ser, e contornar o contacto com os sentimentos poderia parecer uma resolução prática para muitos problemas, mas iria privá-lo de muito daquilo que faz com que a vida valha a pena. Se reprimirmos os nossos sentimentos, não poderemos estabelecer uma verdadeira proximidade com alguém. No máximo, poderemos ter apenas a proximidade ilusória que o sexo casual, por exemplo, pode oferecer. Para desfrutarmos da maravilhosa experiência da proximidade genuína, temos de curar as feridas que anteriormente nos provocaram e não o podemos fazer sem estarmos em contacto com os nossos sentimentos - as ferramentas de que precisamos para nos aproximarmos realmente das pessoas.
Se não estiver em contacto com os seus sentimentos, não pode utilizar a sua Inteligência Emocional. O seu conhecimento terá falta de profundidade. Terá muitas dificuldades em criar relações com significado e ser um bom Pai/Mãe, Líder, membro de uma equipa ou um colaborador eficiente. Algumas pessoas escolhem divorciar-se dos seus sentimentos, talvez porque em algum momento, as emoções se tornaram demasiado dolorosas. Talvez tenham aprendido cedo que os sentimentos devem ser privados e não revelados. Outros parecem estar sempre zangados e muito agressivos, enquanto no seu íntimo anseiam por amor, ternura e compreensão.
Mesmo que fiquemos isolados das nossas emoções e tenhamos pouco contacto com elas, estas vivem no nosso subconsciente e influenciam a nossa vida, quer tenhamos consciência disso ou não. Não ter contacto com as suas emoções é não se conhecer a sí próprio.
Todas as emoções contêm informações ricas e importantes sobre si e o seu passado. Sem contacto com os seus sentimentos, perde a possibilidade de sarar feridas que tem há muito tempo e que permanecem no fundo da sua alma. Para viver uma vida mais rica e completa e para se relacionar com os outros, precisa primeiro de se relacionar e aprender a conhecer-se. Consegue isto contactando com as suas emoções e deixando que se desenvolvam. Os sentimentos precisam de uma saída e você pode fornecê-la apontando aos sentimentos e a si um caminho para seguir.
Quando não estamos em contacto com os nossos sentimentos, podemos ver-nos envolvidos em conflitos que não compreendemos e que resultam, talvez, de sinais que demos sem intenção. Os nossos corpos falam uma linguagem independente que raramente engana. A linguagem do corpo pode ser muito explícita. Muitas vezes, revela a verdade acerca do nosso estado de espírito e do nosso coração. Mesmo quando estamos separados das nossas emoções, os nossos corpos conseguem contar ao mundo o que realmente se passa.
Comunicamos os nossos sentimentos ao mundo, mesmo quando não temos consciência deles. Do mesmo modo, podemos consciente ou inconscientemente apanhar e interpretar sinais intencionais, enviados por outros.
Por vezes, a separação entre a mente e emoções é tão completa que resulta em doença. Não tendo outra saída, os sentimentos podem manifestar-se psicossomaticamente e provocar dores físicas. Quando não encara os seus sentimentos de uma forma realmente séria ou não lhes dá uma oportunidade para se libertarem, pode sentir o nariz a pingar ou uma comichão nos olhos. Uma constipação comum pode significar que o seu corpo está a "chorar". Tais constipações ocorrem geralmente numa sexta-feira depois do trabalho, quando o seu corpo tem finalmente uma oportunidade para descansar e chorar.
Muitas pessoas estão desligadas dos sentimentos e os seus corpos estão completamente rígidos.
Tive um amigo, que um certo dia, o encontrei a passear num jardim da cidade. Ele caminhava com um perfil rígido e hirto. O aperto de mão foi gélido. Contou-me que estava desempregado e vivia com uma angústia imensa. Ele é uma pessoa agradável e cheio de recursos. Ele precisava de gritar, chorar, libertar esses sentimentos negativos. Parecia uma bomba relógio por explodir, prestes a rebentar a qualquer momento.
O meu amigo nunca tinha ultrapassado os seus sentimentos negativos e que estes estavam prendê-lo. Tais sentimentos têm tendência para vir à superfície quando estamos perante um desafio, neste caso o de ter perdido o emprego. A pessoa, desperta uma grande quantidade de energia para manter os sentimentos negativos sob controlo, mantendo o sorriso congelado, como que a dizer: " Temos de ser positivos". O pobre do meu amigo estava perto de um esgotamento.
Sei por experiência própria, que os nossos problemas ensinam-nos muito e que nossa vida passa a ter significado quando encaramos as adversidades e as atribulações como meios para crescer e viver de uma forma mais completa.
Depois de nos esvaziarmos de tanto lixo que nos pesa tanto, podemos descobrir e revelar o melhor de nós. Só então podemos sentir a proximidade que queremos com aqueles que amamos. Podemos ser tentados pelo mundo material e pelos bens de consumo para preencher os nossos vazios interiores mas, no fundo, sabemos que não há substituto para a relação humana, a interação e a proximidade. Acima de tudo é importante sentir-se próximo de si e dos outros.
Jorge Neves
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