Houve uma altura na minha vida, em que não era preciso muito para me aborrecer. Quando os outros não se comportavam da forma como eu esperava concluía que a culpa era deles e que precisavam de mudar.
Aos poucos, ficou claro que todos os que conhecia me incomodavam, de uma forma ou de outra. As minhas interações frustrantes com os outros raramente me levaram a questionar o meu comportamento ou a suspeitar que podia estar a contribuir para essas situações difíceis.
Agora consigo rir-me da situação, tendo compreendido que a única coisa que realmente precisava mudar era eu. Concentrei os meus esforços nisso e continuo a trabalhar na mudança até hoje. O meu conhecimento e a minha pesquisa sobre a Inteligência Emocional motivaram-me ainda mais.
Cada vez que tenho acesso aos meus sentimentos - senti-los totalmente - sei que estou a usar a minha Inteligência Emocional, a utilizar as informações que provêm dos meus sentimentos para me ajudarem a pensar. O modo como sinto e penso influencia a minha vida em todos os momentos. Tenho de ter consciência que as pessoas são como são e têm o direito de ser assim.
Não é tarefa nem responsabilidade minha mudá-las, mas aprender a relacionar-me com elas, tal como são. Quanto mais nos compreendemos uns aos outros, melhor podemos compreender a natureza humana e, em última análise, a nós próprios.
Procurar compreender a vida dos outros irá inevitavelmente ensinar-nos mais sobre nós. Quando observamos cuidadosamente as nossas reações em relação aos outros, geralmente descobrimos que o que não gostamos neles nos lembra coisas que tentamos resolver em nós. Ao aprendermos a aceitar-nos como somos, ficamos mais perto de aceitar os outros como são.
Por vezes um chefe difícil é uma bênção disfarçada. Os conflitos com o chefe podem lançar luz sobre os problemas que já estavam a desenvolverem-se. As lutas profissionais podem apresentar uma oportunidade para ficar consciente e tentar compreender a sua origem.
Uma questão muito comum é a existência de conflitos com chefes autoritários. Muitos líderes precisam de aprender a gerir questões de autoridade. Necessitam de se confrontar com a dor que ainda resta das relações não resolvidas de autoridade. Embora o processo possa ser longo, confrontar e assimilar estes sentimentos neutraliza-os, colocando o líder novamente no lugar do condutor, responsável, poderoso e livre para liderar.
Quando nos compreendemos honesta e afectuosamente, podemos começar a delegar-nos poderes, exercendo autocontrolo e autodisciplina. Podemos encontrar força ao transferir das outras pessoas para nós próprios a responsabilidade das nossas interações. Ao fazê-lo podemos descobrir maneiras novas e melhores de nos relacionarmos com quem consideramos ser frio, pouco simpático ou irritante, sem concentramos as nossas energias na tentativa de mudar o que está geralmente fora do nosso controlo.
Aprender a aceitar quem o deixa frustrado exige disciplina, mas pode fazê-lo.
Todos conhecemos a expressão " aguenta o barco" e provavelmente todos já tivemos de o fazer. Mas e se tiver que se relacionar com uma pessoa difícil durante um longo período de tempo, num cenário que exige interação contínua? A estratégia de "aguentar o barco" torna-se insustentável; é forçado a ir de uma solução provisória e a encontrar abordagens práticas para criar relações vantajosas.
Uma das medidas mais importantes que podemos tomar relativamente às pessoas "difíceis" é libertarmo-nos de todo negativismo que temos em relação a elas, antes de as voltarmos a encontrar. O simples exercício de escrever, na forma de uma carta, tudo (e refiro-me a tudo) o que sente por alguém resulta de uma extraordinária libertação de fúria e de negativismo.
Podemos precisar de escrever muitas cartas desagradáveis a alguém (obviamente as cartas não são para ser enviadas) antes de o processo de limpeza estar completo e poder encontrar essa pessoa novamente, sem hostilidade.
Porque razão escrever essas cartas é tão importante? Ajuda-nos a sentir totalmente as nossas emoções e, ao fazê-lo, assimilá-las. O passo seguinte é ler a carta e analisar o que escreveu. Isto possibilita uma análise mais lúcida da situação. Os pensamentos levam às palavras, que originam mais pensamentos. Começamos a ver o outro de uma maneira diferente e aprendemos a compreender-nos de forma mais profunda. Ao expressarmos os pensamentos e os sentimentos criamos oportunidades para novas interações que não são contaminadas pela antiga animosidade.
Nunca é demais realçar que não há melhor maneira de se libertar das emoções dolorosas, do que reconhecê-las e ultrapassa-las. Expressá-las em papel é uma boa maneira de o fazer, mas há muitas outras.
Assumir a responsabilidade pode também significar um pedido de ajuda, especialmente se o facto de confrontar os seus sentimentos sozinho lhe parecer demasiado difícil ou avassalador. Pode procurar ajuda de um amigo ou de um terapeuta. E, independentemente de a quem pedir, reconhecer que precisa de apoio é um sinal da sua determinação e da sua força, não de fraqueza.
Podemos todos ter o privilégio de servir como catalisadores no crescimento e desenvolvimento de outras pessoas. Para utilizar uma metáfora no mundo da eletricidade, podemos desencadear respostas negativas ou positivas nos outros, dependendo da carga das nossas baterias. Surgem oportunidades interessantes quando reconhecemos que influenciar a nossa própria fonte de energia nos permite influenciar a vida dos outros. Reserve algum tempo para analisar de que forma os seus pensamentos e as suas emoções são "carregados" e depois pense como é que a mudança no seu estado de espírito pode afetar as suas relações. Procure formas de aumentar os aspetos positivos e diminuir os negativos, e depois observe atentamente o que acontece nas suas relações. Ficará espantado ao ver quanto poder tem realmente. O processo de orientar os seus sentimentos e os sentimentos dos outros acontece em paralelo. Você tem o poder de criar paz.
Jorge Neves
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