O que devo fazer com a minha vida?
Foi com esta pergunta que numa manhã de Domingo a minha filha Ana me brindou há cerca de dois anos atrás.
Completava Ela: «Acabei a licenciatura e quero saber como é possível perceber o que hei-de fazer com a minha vida. Tenho lido bastante e participado em inúmeras actividades para ver se me ajudam a decidir, mas nem sequer consegui ainda dar o primeiro passo no percurso da minha carreira. Pai... Podes-me ajudar?»
Confesso que fiquei alguns momentos paralisado a reflectir sobre o assunto. O que me ocorreu passados uns minutos foi ajudá-la essencialmente ao dizer-lhe que não está sozinha. Prosseguindo, disse-lhe que muitos jovens sentem-se confusos no início da sua carreira. Vêem muitos dos seus amigos e colegas arranjar empregos de progresso rápido - ou pelo menos assim parece. Ouvem os pais dizer-lhes para trabalharem aqui ou ali, para tirarem Mestrados ou outra especialização. E tal como a Ana, lêem livros e participam em programas criados para os ajudar na resposta à pergunta de "O que devo fazer com a minha vida?"- mas a abundância de respostas apenas confunde mais as coisas. É suficiente para os fazer entrar em pânico, o que parecia ser o caso da Ana. Isso não faz mal; é natural. Mas não a ajuda a avançar.
Para isso tem de aceitar o facto de a maioria das carreiras não se iniciar com uma grande decisão sobre onde quer ir e com um jogo inteligente sobre como chegar até lá. Não, a maioria das carreiras são cíclicas. Começam com um emprego que pode combinar bem com as suas competências, interesses e objectivos. Geralmente, esse emprego acaba por não ser exactamente o certo, e, então, leva-a a outro emprego que, de certo modo, é mais adequado, que a conduz a outro emprego ainda mais adequado. E por aí em diante, até que um dia - geralmente anos depois de ter começado - vai estar no emprego que, na verdade, esperou durante toda a sua vida, o emprego que lhe transmite significado e objectivos. O emprego de que desejava ter tido conhecimento quando começou, mas tal era impossível - simplesmente porque ainda não tinha começado a trabalhar.
Mas, também tem de estar ciente, que esse mesmo emprego "perfeito" não estará isento de dificuldades e tribulações. Pode estar lá seis meses e depois apanhar um chefe horrível. Ou a empresa pode ser comprada e a sua função mudar ou acabar por completo. E, como tal, o processo terá de recomeçar.
O que quero dizer é que as carreiras são longas e imprevisíveis. Raramente são lineares. Andam aos "ziguezagues", param e começam, e dão muitas voltas inesperadas. O trabalho é árduo e o talento são importantes e a sorte também desempenhará o seu papel.
Para a Ana nessa altura, o essencial era começar. Aconselhei-a a informar-se sobre empresas (em Portugal ou fora) com índices de crescimento, tendências de mercados emergentes, pessoas influentes e novos fenómenos culturais. Que faça perguntas. Que reflicta sobre tudo, com a cabeça e com o coração. Que Aja-Aceite um primeiro emprego, mesmo que esteja longe do ideal. Apenas tem de ser um emprego para começar.
O emprego que a chama - a carreia para a qual está destinada - surgirá. Fará parte de um processo de vida que irá percorrer, como a maioria de todos nós, dando um passo de cada vez.
Foi desta maneira que procurei ajudar a minha filha Ana nessa manhã de um Domingo no ano de 2011.
Jorge Neves
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