Há duas maneiras
de resolver conflitos:
através da violência
e através do diálogo
Cícero
O diálogo. Toda
a gente fala da sua necessidade, mas persistem muitas ideias falsas sobre o
diálogo autêntico.
Dialogar não é:
- uma simples estratégia de propaganda para manipular, pressionar converter ou impor ideias;
- uma competição verbal para medir forças, satisfazer vaidades próprias, atacar e destruir argumentos alheios:
- uma «conversa de surdos», onde os dois falam e nenhum escuta.
Diálogo autêntico supõe respeito
pelos interesses próprios e alheios. Surge deste modo, como estratégia ideal
para resolver conflitos e aproximar pessoas.
Estratégia para a
resolução de conflitos
São normais e até saudáveis os
conflitos de interesses. Não podemos evitar todos os problemas na relação
interpessoal. A questão está nas estratégias adotadas para a resolução desses
conflitos: o confronto agressivo ou o diálogo.
Optar pelo
confronto agressivo é olhar a vida como uma competição, em que uma parte domina
a outra. Uns ganham, outros perdem. É estratégia do perder/ganhar.
Acreditar no
diálogo é seguir a única via em que todos podem ganhar e ficar satisfeitos. É a
estratégia do ganhar/ganhar, que implica dar e receber (não só dar nem só
receber).
Compreende-se que
uma pessoa de caracter não ceda nem recue em questões de princípio.
Infelizmente, a maior parte das pessoas não consegue dialogar, porque se torna
exigente e teimosa, mesmo naquilo que é pouco importante. O diálogo implica que
haja cedências de ambas as partes. Só assim será possível encontrar as melhores
soluções.
O diálogo não
suprime os conflitos nem nos faz iguais. Mas facilita a compreensão, o respeito
e a tolerância. Diminui a cegueira das paixões. Humaniza as divergências.
Permite negociar acordos.
Mostra a
experiência que muitos conflitos violentos (entre pessoas, grupos ou nações)
foram evitados ou resolvidos pela aposta no diálogo.
Em situações
críticas, onde haja corte de relações, justifica-se a presença de um mediador
(pessoa competente e imparcial) que facilite a comunicação salientando os
pontos comuns e as vantagens do atendimento.
Quando sugem os
conflitos a fuga não é solução, porque significa falta de respeito pelos
próprios interesses e submissão aos outros. O confronto agressivo é uma opção
enganadora, na medida em que produz ódio e ressentimento. O diálogo é a única
estratégia criativa, capaz de gerar entendimento, confiança e cooperação.
Diz o povo: «A
falar é que a gente se entende».
A resolução de
problemas
Existem dois tipos de clima na
procura da resolução de problemas: O clima competitivo e o
clima resolutivo
No clima competitivo são usadas duas
estratégias:
- Estratégia da fuga, que se caracteriza por rejeição de si, falta de respeito pelos próprios interesses e submissão aos outros.
- Estratégia de confronto agressivo que se caracteriza por exagero de si, falta de respeito pelos interesses alheios e domínio sobre os outros.
No clima
resolutivo existe só uma estratégia única que se caracteriza por: Afirmação de
si, respeito pelos interesses próprios e alheios e abertura à cooperação.
Exigências para o diálogo autêntico
Resumem-se em quatro as exigências
fundamentais do diálogo autêntico: clareza de linguagem, valorização dos
pontos de acordo, firmeza nas convicções e abertura aos outros.
Clareza de
linguagem
Só pode haver diálogo quando a
linguagem utilizada é compreensível para os dois interlocutores. Se
o emissor e o recetor não sintonizam, perde-se a comunicação.
Não basta falar a
mesma lingua (o português ou inglês), porque o significado das palavras depende
das pessoas e das circunstâncias. Cada pessoa usa e interpreta as palavras à
sua maneira, consoante a sua experiência de vida, a sua motivação, a sua
cultura e o seu estatuto social.
Para evitar
equívocos e mal-entendidos a verdadeira pessoa de diálogo procura modos de
expressão ajustados à experiência e sensibilidade alheias. Transmite as suas
ideias numa linguagem clara e acessível. E distingue-se pelo esforço em
interpretar corretamente o sentido profundo das mensagens que recebe.
Valorização
dos pontos de acordo
A pessoa de diálogo encoraja os
outros a falar em primeiro lugar para descobrir todos os pontos de acordo
possíveis. Não explora pontos de conflito. «Ignora» afirmações negativas feitas
em termos magoados ou zangados. Deseja lançar pontes, não erguer paredes.
É tão honesto concordar como
discordar, dizer «sim» como dizer «não» Mas é mais simpático e eficiente
começar a conversa pelos pontos de acordo ou pelo lado da verdade a que o outro
for mais sensível:
«Estou de acordo consigo,
quando diz que...»
«Compreendo o seu ponto
de vista ...»
«Acho interessante essa perspetiva...»
Uma pessoa que se dispõe
a compreender e a respeitar o ponto de vista alheio tem mais hipóteses de
conseguir a concordância e a cooperação dos outros.
Há momentos em que
é saudável a discordância, porque dizer a tudo que «sim» destrói o diálogo. Uma
chave do fracasso seria concordar sempre com toda a gente. Porém, explorar as
divergências e mostrar permanente espírito de contradição não traz benefícios a
ninguém, porque não gera boa vontade. E só com boa vontade as pessoas conseguem
comunicar de forma positiva.
Firmeza nas
convicções
Dialogar supõe a existência de
convicções seguras e a capacidade de as defender com firmeza e vivacidade. Sem
medo. Uma pessoa de caracter e com autoestima não abana, sem motivos fortes,
ideias e valores fundamentais. Não se assemelha ao cata-vento, que
facilmente cede aos ventos de circunstância.
A pessoa de diálogo assume, com
franqueza a frontalidade, os seus princípios e os seus pontos de vista. Mostra
uma atitude de autoafirmação. Usa argumentos claros para justificar as suas perspetivas
e para convencer, mas não para ter a última palavra ou «encostar os outros à
parede». É persistente, mas não é orgulhoso nem ofensivo. Propõe a sua vontade,
de boa-fé, de modo positivo sem forçar os outros a aceitá-la. Aprendeu que nem
mesmo o bem se pode impor.
Abertura aos
outros
Dialogar é falar e escutar. Dar e
receber. Sem má-fé, preconceitos ou tabus.
A pessoa
dialogante não se fecha em si mesma e nos seus interesses. Defende com
entusiasmo as suas ideias, mas reconhece as suas limitações.
Essencialmente pacifica
e conciliadora, ela gosta de influenciar, como toda a gente, mas não se deixa
possuir pela arrogância de se julgar mais esperta e querer ter sempre razão.
Mostra disponibilidade para aceitar as discordâncias e aprender com a opinião
contrária, porque confia, que os outros nem sempre estão enganados. É
flexível. Não é intransigente. Não tem medo da mudança.
Ninguém é dono da
verdade certa e definitiva. Por isso, a pessoa de diálogo não humilha os outros
quando tem razão, nem se sente humilhado, quando encontra alguém mais
competente. É capaz de agradecer o contributo de uma ideia melhor, independentemente
da cultura, ideologia, ou religião do seu autor.
O diálogo entre as
pessoas (como entre as culturas) permitem ver melhor e mais longe. O jovem
criativo, o velho experiente e o técnico competente ganham sempre no confronto
honesto e na partilha com as pessoas.
Jorge Neves
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