sexta-feira, 10 de maio de 2013

LIDERANÇA PESSOAL - A HABILIDADE DE FALAR








  Os prudentes falam,
  porque têm
  qualquer coisa para dizer;
  os insensatos, porque gostariam
  de dizer qualquer coisa.

                               Platão



  As palavras são facas de dois gumes. Tanto servem para cativar como para afastar os outros. Daí a importância de ponderar o que se diz e a maneira de dizer.
  Ninguém aprecia faladores imprudentes, por mais que estes se arrependam ou peçam desculpas pelas suas palavras. Falar de mais é sempre prejudicial para as relações humanas.
  Palavras uma vez fora da boca, não se apagam. Por isso, os bons comunicadores são prudentes. Só falam daquilo que sabem, por estatuto ou por experiência. Na dúvida preferem calar. E, quando falam procuram que nas suas palavras, haja CLAREZA, CONVICÇÃO e BREVIDADE


  Clareza

  O comunicador eficiente pensa antes de falar. Depois de saber exatamente o que quer dizer, escolhe palavras simples e familiares para transmitir, com clareza, a sua mensagem.
  Há pessoas que gostam de «fazer figura»., usando palavras complicadas e até expressões estrangeiras, cujo sentido não dominam. Querendo parecer mais cultas do que são, acabam por dar um espetáculo de ridículo pretensiosismo.
  Não se pode usar a mesma linguagem junto de superiores e subordinados, cultos e ignorantes, adultos e crianças. O nível de linguagem deve ser acessível ao ouvinte e estar de acordo com o seu estatuto social, a sua cultura, a sua idade e a sua experiência. Em qualquer caso, palavras simples são sempre menos traiçoeiras para quem fala e garante melhor compreensão por parte de qualquer ouvinte. A propósito Aristóteles recomenda: «Pense como as pessoas sábias, mas fale como as pessoas simples? 
  O bom comunicador pode brincar com as palavras, mas nunca sacrifica a clareza. Sempre que fala, pergunta a si próprio:

  «Eu desse o que queria dizer'»
  «Fui claro e direto?»
  «Os outros escutaram tudo o que eu disse?»
  «As minha palavras terão sido bem interpretadas?»

  «Ninguém falaria na presença dos outros se soubesse quantas vezes é mal interpretado», disse Goehe. Ele tinha razão. No ato de comunicar, aquilo que se ouve nem sempre coincide com o que se diz. Muitas vezes as pessoas filtram a mensagem, ouvem apenas aquilo que desejam ouvir. É preciso estar prevenido.
  O processo de perguntar aos outros se ouviram e compreenderam as nossas palavras pode ajudar a tonar a comunicação mais eficiente. Mas este processo é pouco seguro, porque muitas pessoas, por comodismo, têm tendência a dizer que «sim» que ouviram e compreenderam bem. Às vezes basta observar as expressões dos rostos para ver que não compreenderam. Os professores têm, frequentemente, esta experiência com os alunos. Há outro processo mais seguro para obter a garantia de que a mensagem chegou sem distorções ao destinatário. É o processo da reformulação em que se convida o ouvinte a resumir, por palavras próprias, o essencial daquilo que captou. Havendo dúvidas, clarifica-se a mensagem.
  O bom comunicador procura ser explícito. Não espera que o ouvinte (por mais íntimo que seja) leia os seus pensamentos ou adivinhe as suas intenções. E só fica descansado quando tem a certeza de que a sua mensagem chegou claramente ao destinatário.

  Convicção 

  Os bons comunicadores são modestos. Excluem da sua linguagem todas as expressões arrogantes, vaidosas ou exibicionistas que intimidam ou inferiorizam os ouvintes.
  É sempre descabida a atitude sobranceira de arvorar-se em «professor» que pretende dar lições aos outros, como se eles fossem «alunos» ignorantes. Os outros, mesmo os subordinados, têm de ser olhados de frente e não «de cima para baixo».
  Expressões dogmáticas do género «tenho a certeza absoluta» ou «não tenho dúvida alguma» ou ainda «raramente me engano» devem ser substituídas  por expressões  mais humildes como  «parece-me» ou «na minha maneira de ver» ou «creio não estar enganado». É que a verdade, à semelhança da paisagem, tem muitas perspectivas. A nossa é uma delas. Talvez não seja a melhor.
  Falar com modéstia não significa falar a medo, como quem duvida de si próprio e das suas ideias. Sobretudo quando se pretende influenciar alguém, é necessário transmitir autoconfiança, convicção e mesmo entusiasmo.
  Algumas técnicas de comunicação ajudam a cativar os outros. Exemplos:

  - um olhar sorridente;

  - um tom de voz moderado;
  - um ritmo de fala calmo, mas animado (sem excessos de pressa ou lentidão);
  - gestos vivos;
  - pausas expressivas;
  - bom humor;

  Estas técnicas simples, desde que usadas com naturalidade, tornam as pessoas mais próximas de nós e mais recetivas às nossas mensagens.


  Brevidade

  Os bons comunicadores são simpáticos. Fogem da maledicência e dos assuntos que entristecem, ferem, chocam, irritam ou humilham os outros. Evitam temas como desgraças, doenças, e mortes, junto de pessoas sensíveis. Preferem falar do que é positivo e do que agrada aos ouvintes. Gostam de criaR à sua volta um clima de boa vontade e otimismo.
  Como pessoas sensatas, os bons comunicadores sabem ser breves, sem serem apressados. Não perdem nem fazem perder tempo com «conversa fiada» ou com repetições desnecessárias. Tentam dizer muito em poucas palavras. Sabem que uma boa síntese vale um longo discurso.
  Afirma Voltaire que a «arte de aborrecer é contar tudo o que se sabe». As pessoas faladoras têm essa «arte». Não resistem à tentação de dizer tudo o que lhes apetece. São incapazes de «governar» a língua. Sofrem de incontinência verbal. Massacram os outros com as suas ideias, os seus gestos e as suas frustrações. Esgotam a paciência do ouvinte mais generoso. 
  Um bom comunicador é franco e aberto, mas não é maçador. Sabe o que diz, mas não diz tudo o que sabe. Diz o que é preciso, mas não mais do que isso. É discreto e oportuno. Mede as suas palavras. Seleciona o essencial a transmitir, considerando os interesses do ouvinte, a sua capacidade de assimilação e o seu estado de espírito.
  Enquanto fala, o bom comunicador procura olhar em frente para as pessoas, de forma suave e calorosa, não só para lhes captar a atenção, mas também para observar as reações à sua mensagem e ver, se há agrado ou desagrado, interesse ou aborrecimento, acordo ou crítica. As expressões do rosto dos ouvintes fornecem sinais suficientes para acelerar, travar ou mudar de direção numa conversa. Um bocejo, o fechar de olhos, o remexer do corpo ou um olhar vago e distante são indícios de saturação por parte do ouvinte. Não vale a pena continuar a falar, porque a mensagem já não passará.
  Falar é um apetite. Mas saber falar implica também saber calar.
  Ainda que fale de assuntos do agrado dos outros, o bom comunicador sabe calar-se antes de aborrecer. Ele conhece o segredo de deixar fome em vez de fastio.



  Jorge Neves
 


   


 

  

   


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