segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

LIRERANÇA PESSOAL - AUTO-ESTIMA








 


Só existe um amor que aguenta tudo e dura toda a vida
É o amor-próprio.
                                                     (Molière)

  Para ser feliz, uma pessoa tem de aprender a viver com os outros. Mas tem de aprender igualmente a viver consigo mesma, porque é a sua única companhia de todos os dias e de todas as horas. Qualquer pessoa pode renunciar a algumas amizades, mas ninguém pode dispensar a companhia de si próprio.
  Viver bem consigo significa aceitar-se e manifestar o apreço por si, isto é, ter amor-próprio, apesar de todas as limitações pessoais.
  A autoestima, desde que  seja equilibrada, não afasta as pessoas umas das outras. Pelo contrário. Quem gosta de si cultiva as relações humanas mais positivas, pois não vive dependente da aprovação dos outros nem receia as suas críticas. Quem gosta de si está mais disponível para gostar dos outros.

 2.1. AUTO-ACEITAÇÃO
  A autoaceitação é a capacidade de abraçar tudo  o que há em nós. É a disponibilidade para assumir não só as capacidades  que apreciamos, mas também  as limitações que preferíamos não ter. Sem complexos.
  Fruto da educação, muitas pessoas ainda levam demasiado a sério as suas limitações físicas, psicológicas ou intelectuais. Apesar de possuírem qualidades, deixam-se assaltar e dominar pelo sentimento de vergonha. Menosprezam-se. Castigam-se. Chamam-se nomes ofensivos da sua dignidade: «Sou um estúpido...um imbecil...um incapaz...»
  Se essas pessoas fizessem o registo diário do número de vezes que manifestam apreço por si mesmas e que  insultam, ficariam pasmadas com o saldo negativo a seu respeito. Mas, em geral, as pessoas que se autocriticam em excesso nem se dão conta da sua atitude negativa. Cresceram com a ideia de que pouco ou nada valem. Tiveram uma educação repressiva. Ninguém lhes lembrou o seu valor. É por isso que agora se subestimam e encaram-se com tanta severidade. Chegam até a alimentar sentimentos de culpa, mesmo em relação a situações de que não têm qualquer responsabilidade.
  Há vantagens em admitir as próprias fraquezas  e aceitar-se como imperfeito. Quando somos autênticos, quando não escondemos as nossa limitações nem fingimos qualidades, os outros têm tendência a aproximar-se de nós e a mostrar a sua simpatia e até os seus elogios.
  Há também vantagens em admitir os próprios erros, numa autocrítica sincera. Os outros tomam atitudes generosas quando nos antecipamos a «confessar» as nossas faltas:

       «Reconheço o meu erro»
       «Devia ter sido mais cuidadoso»
       «Peço desculpa»

  Isto não significa que devamos abusar da autocrítica apenas como estratégia para conquistar a compreensão alheia. Muito menos significa que devemos usar a técnica do menosprezo ou do insulto conta nós mesmos como forma de despertar sentimentos de compaixão e de nos pouparmos às críticas dos outros. A autocrítica permanente não é uma atitude construtiva. Ninguém ganha o respeito dos outros faltando ao respeito a si mesmo.
  Uma pessoa com autoestima é tolerante para consigo, como procura ser tolerante em relação aos seus melhores amigos. Assume as suas limitações, sem perder o sentido de humor nem o respeito por si próprio.
  Sinal de inteligência é olhar para além das limitações. Foi assim que o homem conseguiu transformar ervas daninhas em perfumes, venenos em medicamentos e feras em animais domésticos. Foi assim, também, que muitas pessoas se tornaram famosas. Em vez de desperdiçarem tempo a lamentar as suas limitações, investiram todas as energias no desenvolvimento das suas capacidades.
  Aceitar-se e respeitar-se  é um processo eficaz de cooperar consigo mesmo. É dar a si próprio forças e gosto para ultrapassar dificuldades e desenvolver os talentos pessoais. Quem não coopera consigo não chega a lado nenhum.
  A autoaceitação tem efeitos positivos no desenvolvimento pessoal e nas relações  interpessoais. Quando uma pessoa se aceita como é, tem mais tendência a aceitar os outros como são e a viver em harmonia com eles.

2.2. O GOSTO DE SER DIFERENTE
  É natural a tentação de invejar as aptidões físicas  ou intelectuais dos outros. É natural a tentação de invejar a energia, a beleza, as habilidades ou o estatuto social dos outros. Mas, porque a inveja só faz mal ao próprio invejoso, o importante é dar atenção aos talentos pessoais e desenvolver o gosto pela diferença,
  Os outros têm pontos fortes invejáveis? E nós não? Será que  eles só têm qualidades e nós só defeitos? Será que nada há em nos que nos possamos orgulhar? Será que os dons da natureza foram distribuídos apenas aos outros?
  «Eu sou diferente, logo sou melhor...» é um raciocínio errado, porque complica a relação com os outros.
  «Eu sou diferente, logo sou pior...» é um raciocínio mais errado ainda, porque complica a relação consigo mesmo e acaba por dificultar a relação com os outros.
  «Eu sou diferente, aceito-me como sou e tenho até orgulho de mim...» é o único raciocínio positivo que facilita a relação consigo e com os outros.

  Podemos imitar as boas qualidades alheias. Podemos seguir  a luz de alguns mestres (líderes espirituais, professores, políticos ou cientistas). Mas não devemos atrofiar o nosso espírito  nem perder a nossa individualidade. Nascemos originais. Teremos de morrer cópias?
  A vida precisa de todo tipo de pessoas, como a floresta precisa de todo tipo de árvores e a orquestra precisa de todo tipo de instrumentos.
  Quando assumimos e desenvolvemos a nossa diferença, acabamos por viver melhor. Afinal, é agindo com originalidade, e não copiando os outros, que reafirmamos a nossa identidade e construímos a autoestima.
  Um adulto tem de  deixar de ser complexado. Deve fazer uma avaliação positiva de si próprio. Sem exageros da imodéstia, mas também sem o medo ou a vergonha dos inferiorizados, deve dizer a sí mesmo, em voz baixa ou em voz alta, quantas vezes forem necessárias:
      «Sou pessoa de valor»
      «Gosto de ser diferente»
      «Tenho orgulho em mim»

2.3. VALORIZAÇÃO DOS PRÓPRIOS ESFORÇOS 
   Muitos adultos procedem como crianças e adolescentes sem autoestima. Vivem dependentes dos outros. Precisam de recompensas para os  seus êxitos e estímulos para os  seus esforços. Esperam  consolo e apoio nos  seu fracassos. São facilmente influenciáveis. Chegam até a rejeitar as suas ideias para agradar aos outros. Fazem tudo para conquistar elogios e louvores.
  Quando somos  adultos, já não podemos contar com os pais ou professores generosos que estimulem os nossos esforços. Não devemos ficar à espera de que os outros manifestem apreço pelo nosso trabalho, pelas nossas ideias ou pela nossa pessoa. Precisamos de aprender a viver com autonomia, sem os aplausos alheios.
  Claro que  a aprovação alheia é saboroso e fortalece a  autoestima. Mas, afinal, de que  servem as opiniões positivas dos outros, se não sentirmos apreço por nós mesmos?
  Para muita gente, a ideia de cultivar o amor-próprio e felicitar-se a si mesmo (pelas qualidades, pelos êxitos e pelos esforços) é quase um «pecado». Talvez por causa da educação.
  Vejamos:
  A nossa sociedade considera  «mal-educada»   uma pessoa que censura os  outros e lhes falta ao respeito. Mas pouca gente se espanta quando essa mesma pessoa falta ao respeito a si própria. A nossa sociedade  considera  «bem-educada» uma pessoa capaz de apreciar as qualidades alheias. Mas muita gente ainda crítica, quando escuta essa mesma pessoa a manifestar apreço por si. Montaigne dizia: «Acredita-se sempre no indivíduo que  se  acusa a si próprio, mas nunca naquele que  se autoelogia.»
  É urgente mudar de estratégia. Embora sem os exageros do orgulho ou da vaidade, o adulto deve reconhecer as suas qualidades. Deve apreciar os  seus êxitos, por mais pequenos que sejam. Deve igualmente valorizar os seus esforços  quando eles são sérios e honestos, feitos com vontade de acertar.
  Felicitar-se pelos próprios sucessos é uma atitude saudável e relativamente fácil de tomar. Mais difícil é mostrar apreço por si mesmo, perante os resultados menos positivos.
  Temos de estimular os nossos esforços, pois eles dependem exclusivamente de nós. Afinal, esforçar-se, fazer o que está ao nosso alcance, é já em certo sentido, um êxito. Os resultados, esses não podem ser controlados por nós, pois dependem não só do esforço, mas também de outras circunstâncias a que por vezes, somos alheios.
  Tentativas e erros são companheiros inseparáveis. Na ciência. Na  arte. No desporto. Na escola. Na vida. Assim perante um insucesso (nos estudos, na vida familiar ou na vida profissional), a pessoa com autoestima sabe tirar partido dos seus erros, convertendo-os em experiência. Com toda a simplicidade  se diz, que « a forma  de evitar erros é ganhar experiência  e a forma de ganhar experiência é cometer erros».
  Tentativas e erros revelam-nos as nossas capacidades e indicam-nos o melhor caminho a percorrer. Tentativas e erros tornam-nos  mais maduros, mais experientes e mais competentes.
  São dolorosas as lições  dos erros. Ninguém fica satisfeito quando falha. Compreende-se que as pessoas que não prezam os seus esforços, mas  apenas os resultados, tenham mais medo dos fracassos. Compreende-se até que fiquem perturbadas, como se cada falhanço fosse uma prova da sua incapacidade.
  As pessoas que não valorizam os seus esforços têm tendência a insultar-se, sempre que as coisas não correm bem. Com frequência, desatam a bater em sí mesmas, sem respeito  pela sua própria dignidade: «Não consegui... Faço os mesmos erros... sou um estúpido...»
  A atitude mais sensata é a daqueles que sabem dominar e enfrentar o fracasso. Sabem que nenhum fracasso é definitivo. Quando falham, reconhecem os seus erros, mas não se envergonham nem se insultam. Comportam-se como seus amigos. São mesmo capazes de oferecer apoio a si próprios, mostrando compreensão e  apreço  pelos seus esforços:  «Estou frustrado por não ter conseguido, mas orgulho-me  de ter feito tudo o que estava ao meu alcance...»
  Palavras como estas, de otimismo e consideração por si mesmo reforçam a autoconfiança e são um bom alento para responder a novos desafios.

2.4. RELATIVIZAÇÃO  DAS  CRÍTICAS
  Ninguém fica satisfeito com a indiferença ou com as críticas alheias, sobretudo quando elas são injustas. É saudável defender o «eu» dos ataques e das ofensas. Mas é um erro alimentar ódios ou desejos de vingança, porque isso significa torturar-se e destruir-se.
  A psicologia moderna confirma que o ódio e o desejo de vingança deformam a própria personalidade. São doenças perigosas que trazem consigo a amargura e deixam cicatrizes para toda  a vida.
  Aquele que odeia passa o tempo a imaginar como vingar-se, julgando que, desse modo, anulará os seus aborrecimentos e encontrará satisfação. Engana-se. O ódio não ajuda a suportar melhor a situação, na medida em que pensar em desforrar-se é, antes do mais, pôr sal nas próprias feridas.
  Quando uma pessoa pensa em violência, mesmo que não concretize os seus pensamentos, está a queimar-se por dentro. Como  se diz: «um homem zangado anda sempre cheio de veneno».
  Jesus Cristo ofereceu aos homens um conselho cheio de sabedoria: «Ama os teus inimigos». Talvez não sejamos suficientemente bons para amar os nossos inimigos, mas podemos ao menos esquecê-los, por amor a nós mesmos.
  Uma pessoa com amor-próprio, em vez de se envenenar com sentimentos negativos, procura ter uma atitude positiva perante a incompreensão, a ingratidão e as críticas alheias. Essa atitude implica saber aceitar o inevitável, desprezar as ninharias e aprender com os outros.
  Os outros são responsáveis por aquilo que dizem ou fazem. Mas nós somos muito mais responsáveis pela forma como reagimos. A crítica é deles. A reação é nossa.

Aceitar o inevitável 
  É uma lei da Natureza. Há o belo e o feio. O doce e o amargo. O sol e a chuva. O calor e o frio. O êxito e a frustração. O elogio e a crítica.
  Na vida, há situações que não podemos evitar, como, por exemplo, desastres e doenças. Na relação com os outros, acontece algo semelhante. Não podemos evitar o encontro com pessoas egoístas e antipáticas que apenas se lembram de atacar os nossos erros e as nossas limitações.
  Num mundo frio e competitivo, são naturais a inveja e a maledicência, sobretudo em relação às pessoas que ultrapassam a mediocridade e se mostram superiores em alguma coisa. Conforme a sabedoria de um provérbio persa, «ninguém atira pedras a uma árvore sem frutos».
  As pessoas e as situações não mudam pelo facto de fervermos em sentimentos negativos. É inútil alimentar o ressentimento e o ódio. A preocupação não é eficiente. O que não podemos alterar temos de aceitar como adversidade natural e não como uma tragédia.
  Mostra a experiência que uma pessoa vive melhor consigo e com os outros, quando tem o bom senso de aceitar, com calma, a realidade da vida. Claro que é desejável um mundo melhor, mas este é o que temos. Não é possível imaginar o mundo sem pessoas antipáticas. Temos de  aprender a aceitar a realidade como primeiro passo para ultrapassar os efeitos negativos de qualquer aborrecimento. A capacidade de aceitar a realidade e alimentar pensamentos positivos não torna os outros mais simpáticos, mas ajuda a suportar as suas críticas.
  Não podemos evitar a visita indesejável das contrariedades. Também não podemos evitar palavras ofensivas ou observações injustas. A não ser que sigamos o conselho  bem -humorado de Hubbard: « Se queres evitar a crítica, não digas  nada, não faças nada, não sejas nada. »
  A aceitação do inevitável não é passividade ou resignação de vencido. É antes, um sinal de amor-próprio, na medida  em que permite uma melhor adaptação à vida.
Jorge Neves

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.