Uma velha limitação, que também está a desaparecer, é a falta de informação sobre os melhores locais para o negócio. Antigamente, comparar preços antes de fazer uma compra era um tormento.
Lembro-me de calcorrear atrás dos meus pais as ruas da cidade à procura de um artigo para o lar ao melhor preço. Sempre que estavam prestes a decidir-se, o meu pai resolvia ir visitar mais uma loja na tentativa de conseguir um preço ainda mais baixo. Ao fim do dia os meus pais estavam exaustos e confusos e eu arranjara uma dor de cabeça.
Também para os artigos menos caros, como electrodomésticos recorriam a anúncios publicados no jornal local sobre as baixas de preços que duravam «poucos dias» e que diziam respeito a um «stock limitado».
A qualidade comparativa era uma questão mais arriscada. Os artigos caros eram e são semelhantes em muitos aspectos, graças à produção em massa e aos oligopólios. Muitas vezes surgiam e surgem no mercado com diferentes roupagens, acessórios e opções. Sabia-se e sabe-se que por exemplo os vendedores de automóveis anunciam saldos de automóveis que estão praticamente reduzidos ao chassis.
Nem sequer um comprador diligente comparava as condições oferecidas por mais de um punhado de vendedores, em geral os dos arredores, que anunciavam no jornal local ou nas páginas amarelas ou que eram conhecidos de vizinhos ou amigos. Sabíamos que, se nos confinássemos a marcas nacionais e ou marcas internacionais conhecidas, não erraríamos muito. Mas se a nossa prospecção envolvesse produtos ou serviços complexos, ou únicos, ou daqueles a que as pessoas reagem de forma diferente consoante os seus gostos e temperamentos, não iríamos além da nossa zona de residência, o que nos permitiria vê-los com os nossos próprios olhos e obter informações em primeira mão.
Tudo isto está a mudar, porque as novas tecnologias de comunicação, de transporte e informação permitem comparações mais rápidas. Através da Internet, os compradores começam a obter dados mais fidedignos sobre os preços e a qualidade de uma vasta gama de produtos e serviços em todo o mundo. As universidades, hospitais, as empresas, os bancos e os vendedores de todos os tipos lutam para atrair mais clientes a uma distância muito maior, por vezes à escala nacional e até internacional. É como se, de repente, todos os produtos e serviços tivessem sido colocados uns ao lado dos outros num bazar global em que todos os preços e toda a informação sobre a qualidade sejam visíveis para todos os compradores. Quanto mais vendedores aparecem no bazar - que criam os seus próprios sites na Web, oferecem produtos online e contribuem com informações para vários portais - mais isolados e marginalizados ficarão os que não fizeram o mesmo. É a exposição no bazar, ou a morte. Mas os que participarem, terão de preparar-se para uma competição feroz.
Podemos negociar um empréstimo ou as condições de uma hipoteca na Web. Os clientes de empresas estão a solicitar aos fornecedores que forneçam as suas ofertas em leilões na Web. Os vendedores começam a oferecer descontos maiores em produtos remanescentes que de outro modo seriam postos de parte - aviões que se arriscam a partir com lugares vagos, camiões que regressam de uma entrega com contentores quase vazios, hotéis que chegam ao fim com quartos vagos, estações de rádio cujo espaço publicitário ainda não está totalmente preenchido,etc, etc.
Um dia, teremos o nosso próprio «cão de caça» electrónico, que pode ser programado para correr no ciberespaço e trazer-nos os melhores negócios que encontrar. E, à medida que aumentar o número dos que vendem os seus serviços no mercado aberto, mais numerosos serão os dados comparativos sobre a nossa experiência e as nossas competências que o bazar global oferecerá aos potenciais compradores. E seremos nós a ser descobertos.
Negócios que fazem luzir o olho, oportunidades com que nunca sonhamos...Exactamente o que pretendemos, vindo de qualquer parte do mundo, ao melhor preço. Ainda não chegamos a esta fase e talvez nunca chegaremos completamente, mas a tendência é inconfundível e está a acentuar-se rapidamente. Isto está a acontecer porque as novas tecnologias aumentam o número de opções e facilitam a descoberta e a mudança para algo melhor. O leque mais amplo de opções e a maior facilidade de mudança estão a intensificar a competição entre os vendedores. Por sua vez, esta competição exerce uma pressão cada vez maior sobre eles no sentido de oferecerem negócios fabulosos. Consequentemente as opções continuam a aumentar e a melhorar. Os negócios são ainda melhores, as oportunidades são maiores, e as hipóteses parecem ilimitadas. É um ciclo virtuoso, e nós, compradores, somos beneficiários.
Se a história fosse só esta, viveríamos felizes para sempre. Mas a vida não se limita a negócios fabulosos. Nós não somos apenas compradores e investidores. Quase todos nós temos de trabalhar para viver. Além disso, temos relações que são importantes para nós, que ajudam a definir quem somos e o que pretendemos da vida - as nossas famílias, os nossos amigos, as nossas comunidades. A economia emergente também está a alterar estes aspectos da nossa vida. E nem a nossa vida em geral nem a nossa vida profissional estão a mudar para melhor em todos os casos. A Era dos Negócios Fabulosos esconde uma armadilha. Aqui reside o dilema do nosso tempo.
Jorge Neves
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