À medida que as novas tecnologias proporcionam a todos os compradores um leque de opções mais amplo e um acesso mais fácil a algo melhor, aumenta a insegurança de todos os vendedores. A maioria das pessoas prefere sentir-se segura, mas a insegurança não é perniciosa para a economia. Ela fomenta a inovação, o outro grande princípio da Nova Economia. Compreendê-lo constitui um dos passos para entender o que está a acontecer aos outros aspectos da nossa vida.
A falácia Neoludita
Mas, primeiro, impõe-se que destruamos um mito. Alguns futurólogos confundem insegurança com desemprego e queixam-se de que o avanço tecnológico acabará por destruir postos de trabalho. Estão tão enganados como os seus precursores, os ludistas ingleses que, no princípio do século XIX, destruíram os teares eléctricos que deixaram os tecelões sem emprego.
À medida que as sociedades se tornam mais prósperas e que a tecnologia permite que toda a espécie de coisas se tornem mais acessíveis, há uma parcela cada vez maior do rendimento pessoal que é gasto em desejos insaciáveis que se prolongam infinitamente para além das necessidades básicas da alimentação, vestuário e abrigo. Independentemente do grau de satisfação desses desejos insaciáveis, as pessoas desejarão sempre mais. É neste domínio que é de esperar que a economia cresça e que os postos de trabalho se multipliquem.
SAÚDE. Por muito bem que os seres humanos se sintam e por muito longa que seja a sua vida, eles desejarão sempre sentir-se melhor e viver mais tempo. É por isso que não há limites para a procura de aconselhamento, medicação, aparelhos, tratamentos e exercícios que prologam a existência física e o bem-estar.
ENTRETENIMENTO. Independentemente do número de pessoas que já gozam a vida, elas desejarão sempre mais divertimento, emoções fortes, surpresa, suspense, tililação, entusiasmo e prazer estético. Consequentemente, não haverá limite para a procura de filmes de entretenimento, vídeos, espectáculos teatrais, música, acontecimentos desportivos, viagens e histórias, nem para experiências que desafiam a morte.
ATRACÃO AOS OLHOS DOS OUTROS. Por muito belos que sejamos, desejamos sempre ser mais atraentes. Por isso haverá sempre um mercado ilimitado para coisas como vestuário á moda, cosméticos, vaporizadores para refrescar o hálito, aparelhos para os dentes, cintas para disfarçar a barriga, cremes bronzeadores, tintas para o cabelo, dietas e um sem número de conselhos sobre o modo de nos tornarmos mais sensuais, encantadores, convincentes, em suma, mais atraentes.
ESTÍMULO INTELECTUAL. Apesar dos danos psíquicos provocados pela terrível fase da educação oficial, a maior parte dos cérebros humanos continua a desejar ser provocada. Assim, não há limite natural para o desejo de notícias, informações, explicações, descrições históricas e justificações.
CONTACTO. Com excepção dos eremitas e dos misantropos, os seres humanos são animais sociais, dotados de uma necessidade insaciável de contactar com outros seres humanos. Por este motivo, haverá sempre um mercado ilimitado para meios mais expeditos, mais fáceis e mais baratos de contactarmos com os outros e também de sermos acarinhados, cuidados, massajados e sexualmente satisfeitos.
BEM-ESTAR FAMILIAR. Os seres humanos foram talhados para o altruísmo, sobretudo em relação àqueles cujos genes mais se parecem com os seus. Apesar das discussões familiares, não existe limite natural para a felicidade ou para a saúde que a maioria das pessoas deseja para os seus filhos e entes queridos mais próximos. Daí a abundância de bens e serviços destinados a cuidar, educar, inspirar e, de qualquer modo, garantir o bem-estar daqueles que amamos.
SEGURANÇA FINANCEIRA. O dinheiro não dá felicidade, mas é um meio de adquirirmos muitas das coisas que a dão. Por isso, existirá um mercado quase ilimitado para a consultoria financeira e de planeamento, para programas destinados a maximizar lucros sobre as poupanças e para seguros que protejam do azar.
Estes desejos não podem ser «satisfeitos», no mesmo sentido em que a fome, o sono ou até a ambição podem sê-lo. Mas talvez, com excepção da atracção pessoal, a satisfação não depende de conseguirmos mais do que os outros conseguiram; ela pode ser alcançada independentemente da posição relactiva em que nos encontramos. E como a oferta destes desejos depende mais das boas ideias do que da escassez de recursos, a satisfação de uma pessoa não se obtém necessariamente à custa da satisfação de outra.
Estas sete áreas representam mercados em muito rápido crescimento, nos quais uma grande parcela da mão-de-obra criará e distribuirá produtos, serviços e aconselhamento nas décadas seguintes. Essa mão-de-obra fará o seu percurso através de software, projectos de engenharia, páginas na web, serviços financeiros, análises estatísticas, partituras musicais, guiões para filmes e publicidade. As nova tecnologias ajudarão os criativos a executar todo este trabalho melhor e mais depressa, permitindo-lhes que dêem um curso mais livre à sua imaginação.
Outra parcela da mão-de-obra satisfará estas necessidades a nível individual, nomeadamente os cuidados com o corpo e o espírito, através daquilo a que hoje chamamos especialistas de entretenimento, instrutores de aeróbica, formadores pessoais, terapeutas de massagem, guias turísticos, guias espirituais, treinadores pessoais, professores, motoristas, empregados de mesa, etc., etc., etc. Além da assistência a prestar a bebés e crianças, aos doentes e deficientes, e cada vez mais, aos idosos. Na segunda década do século XXI, milhões de bady boomers debilitados precisarão de uma grande dose de atenção pessoal. E não se contentam com pouco. Esperam uma abundância de «Med-Meds» com infra-estruturas médicas. Mergulho de manhã e oxigénio à tarde.
A maior diferença entre o antigo e o novo trabalho é a pressão crescente em fazê-lo melhor, mais depressa e mais barato. Mas até que ponto? Não existe um limite. Até as barreiras científicas, outrora consideradas estanques, estão a ceder.
Jorge Neves
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