sexta-feira, 18 de outubro de 2013

REFLEXÕES POLÍTICAS - OS MILHÕES DE VÍTIMAS DO MERCADO MUNDIAL





  Mudar a localização de stocks, simplificar, extinguir,despedir - a economia de alto rendimento e de alta tecnologia devora a prosperidade e demite os seus consumidores.
  Anuncia-se um terramoto económico e social, cujas dimensões são ainda desconhecidas. Quer se trate da construção de automóveis ou da de computadores, do ramo químico ou electrónico, das telecomunicações ou dos serviços postais, do comércio retalhista ou da economia financeira, onde quer que os produtos ou serviços sejam transaccionados livremente através de todas as fronteiras, todos os que estão empregados serão arrastados pelo turbilhão da desvalorização e racionalização, aparentemente imparável. 
  Só na indústria alemã anualmente perdem-se milhares de postos de trabalho. E a situação da Alemanha é, em termos internacionais comparativamente boa. Nos outros países da OCDE, da organização das nações industrializadas e ricas e dos países vizinhos pobres, o número dos empregados bem remunerados diminuiu com maior rapidez. Desde a década de noventa milhões de pessoas procuram trabalho em vão nos estados da OCDE. Dos EUA à Austrália, da Grã-Bretanha ao Japão, a prosperidade de massas das nações líderes da economia mundial desaparece velozmente. 
  Até a actividade cuja função é descrever a decadência e para qual as más notícias significam sempre boas notícias começa a ressentir-se da mudança dos tempos: Jornalistas e documentalistas, investigadores e chefes de redacção serão sacrificados ao universo do tittytainment que se avizinha. Cada vez menos pessoas dos media produzem cada vez mais histórias, cada vez mais depressa; jornalistas da nova geração jamais poderão sonhar com uma colocação sólida e com um chorudo orçamento de despesas até aqui habituais nos «navios-almirantes» da imprensa e nas estações de televisão estatais e institucionais. O que antigamente era padrão natural está actualmente reservado e mesmo assim enfraquecido, aos trabalhadores de longa data e a algumas estrelas. Os novos profissionais têm de se contentar, porém, com contratos colectivos inseguros e miseráveis honorários calculados à linha. Até mesmo editores de livros e nomes conceituados da televisão e do cinema recorrem ao trabalho barato. Editoras sólidas hesitam em relação a novas colocações, pois o futuro do ramo é incerto devido ao aumento das matérias primas e a diminuição do interesse por parte dos leitores.
  Violentas rupturas relacionadas com o emprego ocorrem em grande escala, igualmente em ramos que, até há pouco, prometiam aos seus trabalhadores colocações vitalícias, independentemente dos altos e baixos da conjuntura mundial. A aparatosa diminuição do emprego ameaça não só os bancos e as companhias de seguros, como também as empresas de telecomunicações, as companhias de aviação e a função pública.
  A União Europeia com a Alemanha à cabeça oferecem aos lobos esfaimados da competição global uma suculenta presa.
  Não se vislumbra o fim da crise do emprego. Muito pelo contrário: após avaliação dos levantamentos por parte de várias instituições mundiais, as mesmas chegaram à conclusão que nos próximos anos mais de quinze milhões de trabalhadores irão temer pelos seus empregos a tempo inteiro.Estes valores duplicaram a cada década.
  Actualmente a zona Euro tem uma percentagem de desempregados de 12%, Portugal 18% e em Espanha são cinco milhões de desempregados que corresponde a 23%.
  Com efeito os ordenados no novo mundo do trabalho, que obrigará milhões de trabalhadores de ocasião a saltar de um trabalho temporário para outro, serão significativamente inferiores aos do sistema de tarifas salariais em vigor até aos dias de hoje. A sociedade dos dois décimos está cada vez mais perto.
  As consequências da mudança são sentidas por cada um, apesar do próprio emprego parecer ainda seguro. O medo do futuro e a insegurança grassam, a textura social degrada-se. Contudo, a maioria dos responsáveis recusa-se a aceitar a responsabilidade. Governos e direcções de grupos industriais e financeiros sentem-se impotentes e reclamam a sua inocência. Explicam aos respectivos eleitores e trabalhadores que a até agora inimaginável redução maciça de colocações ou seja da criação de novos empregos, seria consequência de uma inevitável modificação de estruturas. Já na década de noventa e seguinte o «neoliberal» alto comissário Martin Bangenam da União Europeia, opinava que com a manutenção de salários elevados, a produção em massa na Europa Ocidental não terá qualquer futuro. Juntamente com a China e com o Vietename há concorrentes à espera cujos custos salariais são os mais baixos possível. O jornal de gestores Wall Street Jounal constata: «A concorrência numa economia de trabalho global brutal cria um mercado de trabalho global. Já não há empregos seguros.»
  Os beneficiários da economia sem fronteiras gostam de explicar a crise como se fosse uma espécie de processo natural. «A competição na aldeia global é como uma grande cheia: ninguém lhe consegue escapar», profetizou já em 1993 o então director da Daimler-Benz. Henrich Von Pierer timoneiro do grupo Siemens, mais tarde repete a mesma mensagem com as mesmas palavras.
  O vento da competição transformou-se numa tempestade e o verdadeiro furacão está para chegar.
A integração da economia para além de todas as fronteiras não é, de forma alguma, determinada por uma lei natural ou por um progresso técnico linear que irrompe e ao qual não há qualquer alternativa. Ela é sim o resultado duma política governamental conduzida conscientemente desde sobretudo há duas décadas pelas nações ocidentais industrializadas, à qual se dá continuidade até aos dias de hoje.
  Inevitavelmente caminhamos para a sociedade dos dois décimos, ou seja 20% de pessoas incluídas par 80% de pessoas excluídas.

  ISTO SÓ PODE ACABAR MAL!


  Jorge Neves

  


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