Um autor inglês, de nome Richard Denny, depois de inúmeros estudos sobre o insucesso na liderança, identificou uma série de fatores susceptiveis de o influenciar. Apresentarei em seguida alguns desses fatores, bem como comentários sobre os mesmos.
Incapacidade de organizar detalhes
Uma coisa que por vezes se diz, é que a chefia deve-se preocupar com as grandes linhas... com aspetos «estratégicos». Isto não é mais, muitas vezes, do que uma boa desculpa para não ter que se pensar sobre como se devem fazer as coisas e «passar a bola» aos outros, para mais tarde os podermos culpar pelas nossas incapacidades.
A propósito deste fator, lembro-me daquela história do consultor americano que é solicitado, por um país asiático, para ajudar a resolver um «problema de guerra» que a marinha desse país tinha. O problema era o seguinte: o seu principal porto era muito vulnerável à penetração de submarinos inimigos que sistematicamente faziam muitas baixas entre os seus navios. Depois de muito pensarem, não conseguiam encontrar forma de melhor defender o porto, pelo que solicitaram auxílio externo para resolver esse problema.
O consultor americano, perito em estratégia militar, logo alvitrou uma solução brilhante: aquecer a água do porto a uma temperatura perto dos cem graus. Fazendo isto, o calor dentro dos submarinos tornava insustentável continuarem submersos e, quando viessem à superfície, bastava concentrar todo o poder de fogo neles e assim conseguiriam eliminá-los.
Brilhante, pensaram os generais seus «clientes» que logo se apressaram a pagar-lhe por tão precioso conselho. Após alguns dias, quando estavam todos empolgados e desejosos de pôr a ideia em prática, um ajudante de campo de um dos generais fez a pergunta ingénua de como é que estavam a pensar fazer para aquecer a água do porto. Confrontado com essa dúvida, o general pegou imediatamente no telefone e ligou para o tão famoso consultor que, quando confrontado com a questão, imediatamente respondeu: «Meu amigo, a mim pagaram-me para lhes dar grandes linhas de orientação. Agora, os detalhes sobre como as pôr a funcionar são da vossa responsabilidade.»
Falta de disposição para fazer o que se pede aos outros para fazerem
Quantas vezes não somos nós tentadas a «delegar» nas outras coisas menos motivadoras? Por vezes somos tentados a utilizar o poder de que dispomos para obter benefícios deste tipo. É óbvio que, quando o fazemos, experimentamos o prazer de quem se livra de uma «coisa chata» e justificamo-nos com o argumento de que a nós, chefes, compete-nos a nobre missão de nos encarregar-mos de coisas mais importantes.
Mas ponha-se na posição dos seus colaboradores! É difícil sentirem admiração por alguém que os encarrega sempre das coisas mais aborrecidas; sentir-se-ão, porventura, «usados e abusados”, sem nenhum empenhamento em fazerem bem aquilo que se lhes pede.
A liderança pelo exemplo é algo que desde sempre tem sido reconhecido como fundamental para inspirar os seguidores. Este tipo de postura tem várias vantagens. Em primeiro lugar pode ser muito útil como método de formação; se os nossos colaboradores nos virem a executar algo que no futuro será da sua responsabilidade, mais facilmente o poderão aprender. Em segundo lugar, permite realçar a importância das atividades que eles nos vêm executar; « se não fosse importante, o chefe não se preocupava em fazê-lo», pensarão eles. Em terceiro, e não menos importante, pode servir como fator de motivação para os colaboradores, uma vez que comprovam que os critérios de atribuição das tarefas nada têm a ver com o facto de a chefia se «querer descartar de as fazer».
O bom líder está sempre disposto a fazer aquilo que pediria a outro para fazer, mesmo que não faça tão bem quanto o especialista. Está sempre disponível para fazer, participar.
Expectativa de pagamento pelo que se sabe, em vez de pelo que se realiza
Segundo o autor acima atrás citado, muitas pessoas perdem a liderança porque, consideram-se capazes de fazer alguma coisa, de facto, não a fazem, mas pensam que devem ser reconhecidos apenas pela sua capacidade de saber, em vez da capacidade de realizar.
Penso que concordará comigo que para fazer é necessário saber, embora saber, só por si, não seja condição suficiente para realizar. Você não deve esperar que os outros o admirem por aquilo que você julga que sabe ou pela capacidade que julga que tem; é preciso demonstrar ambas através das realizações. Chamo a isto o síndrome do Dr., muitas pessoas só porque são licenciadas, mestres ou doutores, julgam-se merecedoras de tratamento especial sem que, para o conquistarem, façam alguma coisa por isso. Na sua opinião, o terem conseguido o título já revela que possuem um conjunto de conhecimentos que as torna mais competentes do que as que não têm. Esta
última conclusão pode ser verdadeira; mas será que é assim tão relevante no mundo empresarial? Nos negócios somos mais avaliados pelo que fazemos do que pelo nosso potencial «escondido». De nada adianta julgarmo-nos muito bons se os outros não encontram motivos para assim pensarem. Preocupe-se em mostrar o que vale, em realizações empresariais e conseguirá o respeito de todos os que lidera.
Medo da competição
Quer queiramos que não, a seleção natural existe. Vivemos num mundo onde só os mais aptos têm sucesso e muito da nossa vida é passada a competir. Se é bem verdade que muito da competição em que nos vemos envolvidos tem como adversário as nossas próprias realizações anteriores, outras situações existem em que os nossos adversários são os nossos semelhantes. Não conseguir viver de acordo com este cenário dificulta, por certo, o sucesso como líder no mundo dos negócios.
Mas quero aqui fazer-lhe um alerta! Quando falo em competir não estou a advogar a utilização de tácticas desleais; pelo contrário, penso que a competição é, não só necessária como também saudável, mas dentro de padrões eticamente corretos e claros. O «subir ou ganhar a todo o custo» é algo que, de forma alguma, advogo.
Ausência de pensamento criativo
Nada pior do que fazer sempre tudo «by the books». Um líder de sucesso, deve ser capaz de ser criativo e de surpreender os seus colaboradores com novas soluções para problemas antigos.
Muitas vezes a razão do fracasso de muitos líderes passa, não só por serem pouco criativos, como também por não aceitarem a criatividade dos seus colaboradores, transformando o que até poderia ser uma coisa desafiante e interessante em algo de monótono e fastidioso. Por vezes existe aquela defesa do próprio ego do líder, ao rejeitar as ideias que não são dele por considerar que se fossem boas ele teria de se ter lembrado delas. É bom que você não se esqueça que o seu valor como líder é demonstrado pelo bom desempenho do seu grupo e não pelas suas ideias muito ou pouco «brilhantes».
Síndrome do Eu
Nada pior para desmotivar uma equipa do que ter um chefe que usa o abusa do eu em vez dos nós. O nós, é algo que nem sequer existe no seu vocabulário deste tipo de chefes; utiliza o eu para se referir aos sucessos do grupo e utiliza o eles para falar dos seus fracassos.
O egocentrismo é uma incapacidade de, no relacionamento com os outros, termos em consideração os seus interesses, desejos e necessidades. As pessoas egocêntricas adoram falar dos seus feitos, as suas ambições, os seus desejos, esquecendo que as pessoas que os rodeiam também os têm.
Um bom líder deve ter a preocupação de demonstrar que se preocupa com o bem-estar dos seus colaboradores e reconhecer que os resultados do grupo se devem, não exclusivamente à sua pessoa, mas antes ao trabalho coletivo do qual ele faz parte.
Excesso de licenciosidade
Nada pior para um líder do que não conseguir ser respeitado pelos seus colaboradores. Este tipo de situações tende a alastrar rapidamente dentro dos grupos. Se um colega vê outro impunemente faltar ao respeito ao chefe, na próxima oportunidade em que pense conseguir tirar vantagens desse tipo de atuação, não hesitará em fazê-lo também.
Não ser respeitado significa abdicar de todas as fontes de poder e, logo, deixar de ser líder. Por definição, um líder é aquela pessoa que leva um grupo a atingir os seus objetivos. Se um chefe perde a capacidade de se fazer respeitar, perde também a capacidade de levar os outros a fazerem aquilo que ele quer; o grupo meramente fará aquilo que quiser e não o que o chefe quer. Ora isto não é liderança.
Mas atenção, fazer-se respeitar não é sinónimo de gritar! Ainda há uns tempos atrás numa visita que fiz a uma empresa minha cliente, deparei-me com um cenário que, se não fosse triste, quase dava para rir: o dono da empresa gritava a plenos pulmões com um dos seus colaboradores diretos, supostamente para se fazer respeitar. Qual não foi o meu espanto quando a resposta não se fez esperar: o colaborador, ao invés de se mostrar receoso desatou também aos gritos, criando uma situação de «espiral de gritaria». Para lhe ser franco não sei o que teria acontecido se eu não tivesse chegado; quem sabe... talvez alguma cena de pugilato...
No que respeita a este assunto, deixe-me terminar com um pensamento. ninguém pode aspirar a ter respeito de pessoas de pessoas que não respeite.
Deslealdade
Outro fator que é responsável pelo insucesso na liderança é a falta de lealdade. Um líder deve ser leal ao seu grupo na mesma medida que espera lealdade dele. Prometer e não cumprir, arranjar «bodes expiatórios» dizer mal nas costas, prejudicar os colaboradores, são algumas das coisas que podem arruinar, por completo, a capacidade de liderança.
Deixe-me, ainda, referir-lhe outro tipo de lealdade muito importante: lealdade para com a organização e para com os seus chefes. Se você não se mostrar leal para com o seu empregador, está a abrir um precedente para um dia mais tarde as pessoas não lhe serem leais. Mesmo que não concorde com as decisões do seu chefe, nunca o demonstre de uma forma negativa em frente aos seus colaboradores; se o fizer, estará a justificar este tipo de comportamentos.
Faça uma introspeção sincera e veja se não enferma de nenhum destes males. Seja honesto e não procure razões para justificar as suas falhas, se as tiver.
Estabeleça um plano de Acão para eliminar as coisas que considerar incorretas na sua conduta de líder. Vá controlando os progressos.
Não se esqueça; a liderança não tem a ver consigo...tem a ver com os outros...
Jorge Neves
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