quinta-feira, 12 de outubro de 2017

NA NOVA ECONOMIA TUDO VEM DE TODO A PARTE






  Antes, a distância era uma grande limitação. A maior parte daquilo que as pessoas usavam vinha de perto, e se elas viviam longe de outras, eram obrigadas a fazer quase tudo aquilo de que necessitavam. No século XVIII, «nas casas isoladas e nas aldeias espalhadas por uma região tão desértica como o Alentejo cada agricultor tinha de ser igualmente o talhante, o padeiro, mecânico da sua própria família.» Em meados do século XIX, a maior parte das economias ainda era local. As comunicações eram difíceis. Uma carta enviada do Algarve para o Minho demorava 15 a 20 dias a chegar.

  Em seguida, veio a era industrial moderna das máquinas a vapor, dos caminhos-de-ferro (a par dos vagões frigoríficos) e do telegrafo. Os alimentos podiam ser enviados para mais longe sem se deteriorarem. As mensagens podiam atravessar o país de um lado para o outro num período curto de tempo. Os materiais podiam ser recolhidos a muitos quilómetros de distância, enviados para centrais, onde eram processados, dobrados ou aparafusados em grandes quantidades, e surgir como produtos acabados que seriam enviados para todo o mundo.

  Com o século XX chegam navios de carga, auto-estradas percorridas por reboques gigantescos, grandes aviões a jacto que transportavam a carga em contentores do tamanho de vagões, cabos intercontinentais e, um pouco mais tarde, cabos de fibra óptica e satélites que transmitiam sinais electrónicos de uns continentes para os outros. Era possível instalar fábricas enormes em qualquer lado onde a mão-de-obra fosse barata e os transportes fossem adequados. Os estabelecimentos familiares deram lugar a armazéns, a que se seguiram grandes cadeias, grandes lojas de desconto, «Super-armazéns», «Hipermercados» e empresas de venda directa com catálogos garridos, cujos artigos são entregues ao domicílio - de um dia para o outro, se for essa a vontade do cliente - por mensageiros.

  No bazar global emergente, a distância está condenada a desaparecer. A economia está a afastar-se dos objectivos e a caminhar para serviços insignificantes que podem ser transmitidos para qualquer parte do mundo quase a custo zero. O valor do mercado de quase tudo irrompe de satélites ou desloca-se através de cabos de fibra óptica à velocidade da luz. Nos anos 80 cerca de 80 por cento do custo de um novo computador correspondia a hardware, e os 20 por cento restantes aos software. Hoje a razão inverteu-se e continua a aumentar. Não tardará que o hardware desaparecerá e será substituído por aparelhos com a espessura de uma bolacha ou mesmo a de uma folha de papel, que pouco mais não são do que software copiado e aperfeiçoado.

  Com tudo ao alcance de um simples clique no teclado, há menos razões para comprar localmente. As economias locais não irão desaparecer tão depressa, mas sofrerão um forte desgaste provocado pela Internet. Habitualmente, a nossa selecção de livros estava limitada ao que havia na livraria do nosso bairro ou ao que podíamos encomendar através dela; surgiram cadeias enormes com maior variedade, mais descontos e maior rapidez na execução de encomendas; seguiram-se livrarias electrónicas como a Amazon, através da qual é possível receber um livro qualquer em poucos dias, mesmo que vivamos a centenas de quilómetros de uma livraria. Hoje, os livros electrónicos podem transitar directamente do autor para o nosso computador. Dentro de pouco tempo, o conteúdo dos livros será enviado através da Web para a nossa biblioteca de livros digitais.

  Os filmes e os vídeos transitam directamente das salas de montagem para o nosso ecrã através da Internet; já começaram a chegar às salas de cinema por esta via. Conferências, seminários, livros, material educativo e testes passarão a emanar dos centros localizados algures e serão enviados para os estudantes, onde quer que residam.

  Passaremos a dispensar os vendedores de automóveis e os mecânicos locais. Uma grande parte do valor de um automóvel novo já reside nos pequenos mecanismos electrónicos que nos indicam a melhor maneira de seguirem as nossas instruções quando carregamos inocentemente no acelerador ou fazemos girar o volante. Dentro de algum tempo, os técnicos conseguirão, de qualquer lado, reparar estes minúsculos cérebros automóveis, tal como os técnicos das companhias de telecomunicações já conseguem reparar uma avaria da nossa linha sem se deslocarem a nossa casa. Será possível melhorar o cérebro do nosso automóvel - dar-lhe mais potência, aumentar a economia de combustível, conseguir um melhor desempenho em geral - sem levarmos o carro a uma oficina para fazer um transplante. Teremos acesso a um menu de novas funções através da Internet, seleccionando o que desejamos com um simples clique e, num abrir e fechar de olhos, estará um novo carro à nossa espera à porta da nossa casa. O custo da expedição, seja qual for a origem, será mínimo.

  Também os frigoríficos emitirão pedidos de socorro electrónicos quando algo correr mal e serão reparados online. Os sistemas de informação cada vez mais são reparados, reconfigurados e melhorados através da Internet.


  Há várias décadas que as barreiras comerciais estão a cair, mas a tendência dominante vai no sentido de serem transaccionadas menos coisas e mais intangíveis. Uma parte cada vez maior do comércio internacional corresponde a vídeos, música, filmes, programas de televisão, notícias, marketing, finanças, apoio jurídico e engenharia, que já não precisam de estar localizados junto dos seus clientes.

  É muito frequente ouvirmos falar em tecnologia e globalização como se trata-se de duas tendências distintas, mas elas estão a transformar-se numa e mesma coisa. O comércio e as finanças globais depende de avanços tecnológicos que conseguem deslocar instantaneamente símbolos digitais; e as tecnologias avançam porque a competição cada vez mais forte em todo o mundo permite fazer todo o tipo de coisas melhores, mais depressa e mais barato. Tanto a língua inglesa como os modelos de software amplamente utilizados começam a tornar-se sistemas universais de comunicação global, dado o elevado número de tecnologias que dependem deles.

  O facto de, numa economia avançada as pessoas gastarem mais em intangíveis do que em objectos tridimensionais leva a que algumas pessoas mais primitivas se sintam um pouco desconfortáveis, mas essa tendência não deve constituir motivo de preocupação. A grande maioria das pessoas que vivem em economias avançadas não têm grandes dificuldades em adquirir alimentos, vestuário e residência adequadas nem em satisfazer outras necessidades tangíveis na vida. O maior valor e o consumo mais ávido situam-se na esfera psicológica: rapidez e conveniência, entretenimento, estímulo intelectual, sentimentos de bem-estar e segurança financeira. É raro (infelizmente) o ser humano que se sente satisfeito nestes domínios; o aumento da riqueza abre o apetite para sermos cada vez mais ricos...


  Jorge Neves
 

terça-feira, 10 de outubro de 2017

NA NOVA ECONOMIA TEMOS O QUE EXACTAMENTE QUEREMOS





  Até há pouco tempo, a maior dificuldade em conseguirmos exactamente o que pretendíamos residia muitas vezes no custo suplementar de fabricar um produto à medida.

  Na era pré-industrial, os artesãos faziam quase tudo por encomenda, o que saía caro. Depois, surgiu a produção em massa - máquinas gigantescas movidas a electricidade; teares enormes capazes de tecerem grandes longas peças de tecido; máquinas que cuspiam fósforos, cigarros e pregos; tanques imensos onde se destilava e refinava petróleo, açúcar, álcool e produtos químicos; fornos de grandes dimensões para fabricar aço; grandes máquinas de moldes e de prensagem donde saíam acessórios de automóveis; e, a seguir, extensas linhas de montagem. À medida que aumentava a escala da produção, descia o preço dos produtos

  Mas a lógica da produção em massa ditava a uniformidade. Exemplo foi a linha de montagem de Henry Ford que reduziu o preço e democratizou o acesso ao automóvel, mas fê-lo à custa da redução da escolha. O seu slogan ficou célebre: «Qualquer cliente pode ter um automóvel da cor que desejar, desde que seja preto».

  Para assegurar o lucro, os produtores em massa tiveram de começar por investir e por prever o número de peças que conseguiriam vender e a que preço. O rigor da previsão era altamente compensador; os erros podiam significar a bancarrota. Cuidar das disparidades, estabilizando o mercado, foi a principal tarefa das empresas do século XX. Havia essencialmente quatro regras: (1) Evitar que os fornecedores aumentassem os preços, que a concorrência pudesse surpreender introduzindo inovações nos seus produtos e que ocorressem aquisições ou fusões entre produtores, permitindo assim que os pouco sobreviventes de cada indústria coordenassem programas informais subsequentes.
  Em meados do século, os economistas falavam com temor e com certo desconforto de «oligopólios», como os três grandes fabricantes de automóveis e os cinco maiores produtores de aço. (2) Se os oligopólios não evoluíam sozinhos, as entidades reguladoras fixavam preços e modelos. O facto de estas entidades protegerem os consumidores de operadores oportunistas e de serviços imprevisíveis não obstava a que elas fossem simultaneamente guardiãs da estabilidade industrial e baluartes contra os excessos da concorrência. (3) Para evitar greves selvagens e interrupções na laboração, os produtores acabaram por aceitar, a contragosto, a mão-de-obra organizada. (4) Por último, para reduzir o risco de que os consumidores adquirissem menos produtos do que fora previsto, os produtores embarcaram em campanhas maciças de persuasão.

  Para garantir um mercado amplo e estável para aquilo que era produzido em massa, os consumidores tiveram acesso a muitos mais produtos e mais baratos. Era um círculo virtuoso: a produção em massa gerou o marketing de massas, que aguçou o apetite pelo consumo de massas. Por sua vez, este aumentou o sistema de produção em massa. Mas, curiosamente, as opções eram limitadas para que se colhessem todos os frutos da eficiência da grande escala, e os produtos não mudavam muito de ano para ano. Era um baixo preço a pagar pelo benefício.

  O sistema emergente da Nova Economia, que começou nos anos 70  tem vindo a aumentar, da produção em números para a produção em valor, da mais estandardizada para a mais personalizada e que se tem pautado pelo aperfeiçoamento rápido de bens e serviços, na indústria do aço, nos plásticos, nos produtos químicos, nas telecomunicações, nos transportes, na finança, no entretenimento e em muitos outro sectores. Cada vez mais, as tecnologias digitais permitem que os vendedores criem produtos à medida para satisfazer determinados compradores mas continuem a reduzir os custos de produção. Não é necessário garantir um mercado grande e estável para todos os produtos.
  Aparelhos electrodomésticos à medida do cliente, musica personalizada, vitaminas feitas por encomenda e medicamentos adaptados aos nossos genes são outros tantos benefícios que o futuro próximo nos reserva.

  As economias de escala continuam a ser importantes, mas menos do que eram. E a tendência não vai no sentido de produzir uma grande quantidade sempre da mesma coisa. Aliás, numa época em que os clientes adoram o que é novo e único, a produção em larga escala pode ser arriscada. Qualquer empresa que se dedique a algumas linhas de produção está ameaçada em termos competitivos. O tempo de permanência dos produtos nas prateleiras está constantemente a diminuir - fundamentalmente as novas ideias, o novos produtos e as novas maneiras de fazer negócio - alteram subitamente, sem aviso prévio, as regras da concorrência de uma determinada actividade industrial. Sim, as empresas estão a fundir-se em monstros gigantescos de telecomunicações - entretenimento - Internet - finança, e o leque de vendas a retalho continua a diminuir. Mas, na maior parte dos casos, a vantagem deste tipo de concentração não reside na escala da produção, mas sim no marketing e no reconhecimento da marca. A larga escala e a estabilidade do mercado já não são requisitos essenciais para a produção a baixo custo. Isto significa que elas estão menos dependentes de um fluxo de oferta e de um mercado de massas previsível. A força competitiva consiste hoje em ser melhor, mais rápido e mais barato do que os rivais. O marketing e a publicidade de massas estão a dar lugar a um marketing específico e dirigido a clientes únicos. As audiências das redes de televisão estão a diminuir. As revistas de grande tiragem estão a perder leitores.

  As empresas mais dinâmicas transferem-se agora para novos mercados, porque não precisam de produzir em grande escala para serem bem-sucedidas. Os músicos contactam directamente com os ouvintes através da WEB, contornando as grandes empresas  discográficas que antes eram intermediárias. Os adeptos do comercio electrónico dispensam as bolsas de valor e os correctores e, se quiserem, negoceiam, online, vinte e quatro horas por dia, à margem do resto da humanidade. Quase todos os dias são lançadas revistas para todos os gostos, algumas das quais completamente insípidas. E é possível encontrar uma vasta panóplia de produtos diferentes, disponíveis por encomenda.

  As micro-empresas contratam designers para criarem sites e pagam uma avença mensal a um fornecedor de serviços da Internet para os acolherem; alugam um software para as encomendas e para a facturação; alugam uma linha de um servidor seguro para transacções com cartões de crédito e contratam um banco para geri-las.

  As barreiras reguladoras têm vindo a desaparecer, em grande parte porque as empresas mais recentes e os inovadores de ponta assim o desejam e estão a ganhar força económica suficiente para abrir portas ou para saltar por cima delas. Os velhos muros estão a desmoronar-se.

  Isto não quer dizer que todas as empresas industriais de larga escala e todo trabalho de rotina que as suporta tendam a desaparecer. Refiro-me ao sentido da mudança. Uma das consequências mais importantes das novas tecnologias de comunicação, transportes e informação é a alteração da concorrência - reduzir as vantagens da escala da produção pura e simples e recompensar os produtores que conseguem aperfeiçoar rapidamente produtos e serviços e inventar outras que de
liciem ainda mais os clientes.

  Os compradores estão a conseguir ter um acesso muito melhor exactamente àquilo que pretendem.


  Jorge Neves

domingo, 8 de outubro de 2017

NA NOVA ECONOMIA A ERA DOS NEGÓCIOS FABULOSOS







  Estamos a entrar na Era dos Negócios Fabulosos, em que  as opções são quase ilimitadas e é fácil mudar para algo melhor. Este é o primeiro princípio da Nova Economia. Compreendê-lo é dar o primeiro passo para entender o que está a acontecer nos outros domínios da nossa vida. Tudo o resto é uma consequência.

  E quem não deseja um negócio melhor? Só os indolente, ou loucos ou os complacentes congénitos é que ignorariam um produto que é obviamente melhor (sem ser mais caro) e mais barato (e da mesma qualidade), um investimento rendível, um emprego mais compensador, uma comunidade mais confortável. Devemos isto a nós próprios e à nossa família.

  Devemos isto ao capitalismo. O sistema só funciona se as pessoas procurarem fazer os melhores negócios. De outro modo, os produtores não conseguem inovar nem investir, desperdiçam dinheiro e orientam os seus esforços no sentido errado. Quando milhões de pessoas procuram constantemente algo melhor, o mercado disciplina todos os intervenientes. Todos têm de dar o seu melhor para satisfazer os outros. Todos os recursos são optimizados. As pessoas trabalham muito. As economias avançam. 

  As pessoas movem-se. Quando não estão a mudar estão a recomeçar. A própria noção de nos «instalarmos» - de assentarmos de nos estabelecermos - vai contra a nossa maneira de ser.

  A insistência numa situação melhor e permanente não é um exclusivo da sua cultura. Durante a maior parte da sua história, a Humanidade viveu em pequenas aldeias rodeadas por densas florestas, extensas savanas, montanhas quase intransponíveis ou outro terreno igualmente perigoso e misterioso. As viagens estavam recheadas de perigos, e a informação era escassa. A maioria das pessoas vivia em comunidades em que tinha nascido. A história da civilização ocidental moderna - as grandes vagas de descoberta, expansão e invenção que começaram a formar-se no século XV - pode ser entendida, em parte, como a procura contínua de uma vida melhor.

  Motivado por um misto de curiosidade e de ambição, o capitalismo ocidental cresceu e alastrou. As etapas históricas constituem capítulos bem conhecidos dos manuais: a Era dos Exploradores, a Era do Imperialismo, a Era da Produção em Massa conduziram às grandes consolidações industriais no despontar do século XX. Mas os manuais são simplificadores. A História nunca foi tão ordeiramente sequencial nem tão inocente como estes capítulos dão a entender. Houve períodos de confusão e de retrocesso, de reacção e de repressão sangrenta. O que podemos afirmar com segurança é que aqueles que desejavam algo melhor, e que dispunham dos melhores meios para o alcançar, ganharam terreno. Se a História é escrita pelos vencedores, é ganha pelos ambiciosos.

  O mundo está no meio de outro grande começo. A Era dos Negócios Fabulosos. Ela começou nos Estados Unidos há várias décadas e desde então tem vindo a ganhar força. E o seu ritmo está prestes a conhecer uma aceleração drástica. Assenta na tecnologia e na imaginação. Alia a Internet, os satélites, as fibras ópticas, grandes saltos no domínio da informática (através de circuitos com a dimensão de alguns átomos), uma expansão substancial da banda larga (transmitir mais depressa dados digitais para residências e escritórios através de redes de fibra óptica e de constelações de satélites), um mapa do genoma humano e instrumentos para seleccionar e combinar genes e até moléculas. Está criado um gigantesco bazar, em tempo real, de opções e de hipóteses quase infinitas.

  Descobrir e mudar para algo melhor é hoje mais fácil do que em qualquer outra época da história da humanidade e, dentro de poucos anos, será ainda muito mais fácil. Estamos a caminho de alcançar exactamente aquilo que queremos de um momento para o outro, seja qual for a sua origem, aos melhores preços.


  Jorge Neves

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

NA NOVA ECONOMIA ABRANDE O SEU RITMO DE TRABALHO E VIVA MELHOR





  O mundo em que hoje vivemos mostra-se precário. Um horrendo ataque terrorista demonstra que nunca podemos estar seguros. Ele destrói a nossa confiança naquilo que é permanente e previsível. De repente, as preocupações pessoais, que eram grandes antes do ataque, parecem-nos triviais.

  Ao mesmo tempo na esfera económica, a turbulência é muito maior do que há alguns anos. O dinheiro desloca-se mais depressa. Criam-se novas empresas que florescem e, em seguida, desaparecem, num abrir e fechar do olhos. Os postos de trabalho aparecem e desaparecem. A imaginação fornece novas ideias, que logo são substituídas por outras. É cada vez maior o frenesim gerador de bolhas especulativas que depressa incham e logo rebentam. Exemplo as empresas de informática que alastraram por vários locais.

  Ideias, falatório, ruído, capitais especulativos «coisas novas», notoriedade e modas efémeras de toda a espécie redopiam à volta do mundo, congregando energias à sua passagem e dissipando-se em seguida como tornados ao chegarem a terra firme.

  A economia global parece estar em alvoroço. É provável que esteja a evoluir com uma exuberância que alguns qualificarão de irracional, porque esse surto de crescimento aumentará drasticamente, para logo cair a pique. Todavia, ao atribuirmos estas alterações comportamentais ao domínio do irracional, estamos a esquecer uma realidade fundamental: encontramo-nos perante um tipo de economia, assente em inovações rápidas e em surtos de procura. Os investidores e os consumidores não são irracionais pelo facto de se envolverem em actividades especulativas mais febris do que as anteriores, de movimentarem mais depressa o seu dinheiro, de recorrerem a um leque de opções mais amplo ou de mudarem de uma coisa para outra, a uma velocidade vertiginosa. A Nova Economia é que os convida a tal comportamento.

  A turbulência está a aumentar. Para sobreviverem todas as grandes empresas tentam transferir os riscos da incerteza para outras. Entre os destinatários dessa transferência figuram os subcontratantes mais pequenos. E os empregados? Quando a empresa é boa, os empregados sentem-se mais prósperos do que antes - as opções de compra de acções,os bónus, o preço do trabalho regular e extraordinário e os planos de participação nos lucros aumentam. Quando a empresa é má, eles sentem-se relativamente mais pobres, porque todos estes sofrem uma redução, e alguns empregados perdem os seus postos de trabalho. Deste modo, qualquer pequeno aumento ou diminuição nos lucros se repercute rapidamente na vida de um grande número de pessoas.

  Estes mesmos aumentos e diminuições fazem ricochete a nível global. As exportações e as importações de um país sobem ou descem a pique, consoante as convulsões que ocorrem no seio de um importante parceiro comercial. O capital financeiro foge de um sítio para o outro, consoante as moedas estão em subida ou em queda ou se registam lucros ou prejuízos. As oscilações registadas nos balanços das filiais no estrangeiro geram uma volatilidade que é ainda mais direccionada para a casa-mãe.

  Não é consensual que esta turbulência crescente seja justificada por maiores taxas de produtividade, por um crescimento mais rápido e por uma maior flexibilidade da economia no seu conjunto. Nem que, bem feitas as contas, esta nova economia nos proporcione uma vida melhor. Afinal, uma economia forte não é um fim em si mesma. Do mesmo modo, uma sociedade não existe para reforçar a sua economia. Uma economia devia ser avaliada pelo modo como apoia e fomenta os valores mais profundos de uma sociedade.

  O problema reside em tirar proveito da nova economia e, ao mesmo tempo, preservar ou aumentar os valores que nos são caros, como a paz de espírito, a  família e a comunidades, que hoje se encontram ameaçados. Talvez uma recessão temporária conduza a este tipo de reflexão.

  Aliás, as inquietações mais profundas desta época não são apenas de natureza económica. Prendem-se com o desgaste das nossas famílias, a fragmentação das nossas comunidades e o desafio que é manter a nossa própria integridade. Elas fazem parte integrante da economia emergente, a par dos enormes benefícios como a prosperidade, a inovação e as novas opções e oportunidades.

  O terrorismo criou outro nível de inquietação. O facto de se ter presenciado um assassínio em massa e de se saber que tal pode voltar a acontecer está a levar muita gente a reavaliar as suas prioridades. A família, a amizade e a comunidade parecem mais próximas do cerne da nossa vida do que a carreira profissional, a riqueza e a posição social.

  Encarar a luta por um melhor equilíbrio entre o que fazemos para ganhar a vida e o que fazemos com a nossa vida sob um prisma exclusivamente pessoal e privado equivale a ignorar as tendências mais abrangentes que afectam os pratos da balança. Não se trata apenas de uma opção pessoal nem de uma questão de equilíbrio individual. Trata-se igualmente de saber como é que a economia deve funcionar e como é que o trabalho deve ser organizado e recompensado.

  Trata-se de criar uma economia mais humanizada e uma sociedade mais equilibrada.


  Apesar da turbulência económica, muitos de nós vivem melhor em termos materiais do que viviam (os nossos pais) há vinte e cinco anos, mais ou menos quando surgiram algumas tecnologias em que assenta a nova economia - o micro-chip, o computador pessoal, a Internet. Mas aqui é que está o inigma fundamental. Nessa época, estávamos convencidos de que seria mais fácil, e não mais difícil, atender àqueles sectores da nossa vida que existem para além do trabalho remunerado. Contudo, na maior parte dos casos, trabalhamos hoje mais tempo e com mais frenesim do que antes, e o tempo e a energia que sobram para o resto da nossa vida estão a evaporar-se.

  Porque será? Se aquilo que fazemos para ganhar dinheiro nos proporciona uma vida decente, por que motivo é que a nossa vida pessoal está a ficar mais pobre? Os futurólogos dos anos 50 e 60 pensaram no que faríamos no século seguinte com o tempo livre de que passaríamos a dispor, graças à tecnologia. Até economistas da altura previam alegremente que, daí a um século, alguns países mais prósperos estariam oito vezes melhor na esfera económica, ao ponto de poderem optar por trabalhar apenas quinze horas por semana.
  Talvez tenham acertado quanto à probabilidade de a maioria das pessoas ter uma vida material bastante melhor, mas erraram quanto ao menor número de horas de trabalho.

  É claro que nem todas as pessoas têm uma situação material muito mais desafogada do que há vinte e cinco anos. Algumas nem sequer melhoraram. E muitas trabalham mais, porque não têm alternativa. Mas isso é que é estranho: quanto mais ricos somos, mais provável é que dediquemos mais tempo, e com mais angustia, ao trabalho, ao ponto de ficarmos obcecados se não estivermos a trabalhar.  Uma vida profissional frenética pode ou não contribuir para que vivamos melhor, mas o facto de vivermos melhor parece gerar um maior frenesim.

  Ouvimos coros de vozes que nos aconselham a abrandar. No entanto, são cada vez mais aqueles que parecem acelerar. Afirmamos ainda com mais veemência que damos valor à família. Então porque é que as nossas famílias diminuem e os laços familiares se quebram - menos filhos ou ausência de filhos, menos casamentos mais uniões temporárias, mais subcontratação de tarefas familiares a estabelecimentos que vendem comida para fora, terapeutas, psicólogos e educadores infantis? Falamos mais apaixonadamente do que nunca das virtudes da «comunidade». E no entanto as nossas comunidades estão a fragmentar-se em enclaves repletos de pessoas com níveis de rendimentos semelhantes - os mais ricos, protegidos por altos muros e portões; os mais pobres, isolados e ignorados.

  Estamos a ser atingidos por uma hipocrisia de massas? Por um delírio de massas? Provavelmente não. A maioria das pessoas parece ser sincera na sua procura de uma vida mais equilibrada. O problema é que é cada vez mais difícil atingir o equilíbrio entre GANHAR A VIDA e CONSTRUIR A VIDA, porque a lógica da Nova Economia dita que se preste mais atenção ao trabalho do que à vida pessoal.

Em suma:

  A economia emergente, com a turbulência que lhe está associada e tudo o resto, oferece oportunidades completamente novas, uma escolha cada vez maior de negócios, acordos fabulosos, bons produtos, excelentes investimentos a longo prazo e empregos fabulosos para pessoas com as aptidões e os conhecimentos certos. Na história da humanidade, nunca tantos tiveram acesso a tanta coisa com tanta facilidade.

  A tecnologia é o motor. Nas comunicações, nos transportes e no processamento de informação, as novas tecnologias que ganharam ímpeto nas décadas 80 e 90 do século passado avançam hoje a uma velocidade estonteante. Elas permitem descobrir e conseguir melhores negócios em toda a parte e mudar instantaneamente para outros ainda melhores. Estas tecnologias estão a intensificar radicalmente a concorrência entre vendedores, o que por sua vez provoca uma onda de inovação. Para sobreviver, todas as organizações são obrigadas a introduzir aperfeiçoamentos drásticos e contínuos, nomeadamente reduzindo custos, acrescentando valor e criando novos produtos. O resultado desta agitação é o aumento da produtividade produtos e serviços melhores, mais rápidos e mais baratos de toda a espécie.

  Em termos económicos, a longo prazo, tudo isto redunda inequivocamente em nosso benefício. Mas o que faz ao resto da nossa vida - àqueles sectores que dependem de relações sólidas, de continuidade e de estabilidade - é muito problemático. Não existe aqui nenhuma trama diabólica, nenhuma armadilha astuciosamente montada por empresas malévolas e capitalistas gananciosas. É tudo uma questão de lógica, pura e simplesmente.

  Quanto mais depressa a economia muda - com outras inovações e oportunidades que geram mudanças mais rápidas dos clientes e dos investidores -, mais difícil é ter confiança no que qualquer de nós vai ganhar no ano ou mesmo no mês seguinte, no que estará a fazer ou onde. Consequentemente, a nossa vida é menos previsível.

  Quanto mais forte é a concorrência, no sentido de oferecer melhores produtos e serviços, maior é a procura de pessoas com ideias e visão. E como a procura desses pessoas aumenta mais depressa do que a oferta, os seus ganhos são empurrados para cima. Todavia, é essa mesma concorrência que empurra para baixo os salários das pessoas que executam trabalho de rotina, o qual pode ser feito mais depressa e com menos custos por hardware e software, ou por trabalhadores de outras regiões do mundo.  É por isso que as disparidades salariais estão a aumentar cada vez mais.

  Por último, quanto mais amplo é o leque de opções e mais fáceis são as mudanças, menor é a dificuldade de as pessoas se juntarem a outras com o mesmo nível de instrução, riqueza e saúde, em comunidades residenciais, escolas, universidades. E é mais fácil também para elas excluírem os mais lentos, os mais pobres, os mais doentes, ou, por outras palavras, os mais desprotegidos, cujas necessidades são maiores. É por isso que a nossa sociedade está cada vez mais fragmentada.

  Em suma, as recompensas da Nova Economia paga-se com vidas mais agitadas, menos seguras, mais divergentes na esfera económica e mais estratificada no domínio social. À medida que os compradores e os investidores mudam mais facilmente para negócios mais rentáveis, menor vai sendo a nossa capacidade de atraí-los e mais teremos de trabalhar para isso.Quanto menos previsíveis forem os nossos ganhos, mais teremos de lutar pela vida. Quanto mais subirem as apostas - no sentido de uma maior riqueza ou de uma relativa pobreza - mais teremos de lutar por integrar o círculo dos vencedores e por reservar nele um lugar para os nossos filhos.

  Por todos estes motivos, quase todos nós trabalhamos mais e com maior frenesim do que há várias décadas.
  Talvez o preço a pagar valha a pena. Os negócios fabulosos estão a beneficiar todos nós, de mil e uma maneiras. Mas, embora o preço seja aceitável nos dias de hoje, continuará a sê-lo no futuro?

  É inegável que temos muitos motivos para festejar a nova economia. Apesar da turbulência e das incertezas que o caracterizam, o capitalismo triunfou em todo o mundo, e os motivos estão à vista. Os arautos da desgraça que afirmam que as tecnologias mais avançadas eliminarão postos de trabalho e lançarão na pobreza a maior parte da humanidade estão errados, ou mesmo loucos. Os isolacionistas e os xenófobos, que querem trancar as portas e reduzir o comércio e a imigração, estão desorientados, perigosamente desorientados. Os populistas paranóicos que afirmam que as empresas globais e os capitalistas internacionais estão a conspirar contra todos nós estão enganados, talvez alucinados. Nós todos estamos a beneficiar fortemente com a nova economia. Apesar dos altos e baixos, continuamos a arrecadar os lucros das suas inovações, dos seus preços mais baixos e da sua concorrência feroz.

  E no entanto... por muito extraordinário que seja a nova economia, a sua volatilidade e as inseguranças que lhe estão associadas afectam profundamente os outros aspectos da nossa vida - a nossa família, os nossos amigos, as nossas comunidades, nós próprios. Estas perdas acompanham de perto os nossos ganhos. São, de certo modo, as duas faces da mesma moeda. E tanto as perdas como os ganhos tendem a aumentar no futuro.Trabalharmos ainda mais para competir num sistema em que a competição é cada vez mais feroz; vendemo-nos com uma determinação crescente num sistema que está a transformar quase todos nós em auto promotores; separarmo-nos pela riqueza, pela educação e pela saúde num sistema em que a discriminação é cada vez mais fácil... Estes fenómenos são os motores de si próprios. Quanto mais pessoas se lhes juntarem, mais desequilibrada será a situação e mais difícil será para qualquer indivíduo escolher um caminho diferente.

  Estas tendências são verdadeiramente fortes, mas não são irreversíveis, ou pelo menos não são inalteráveis. Podemos, se assim o desejarmos reavaliar o nosso padrão de sucesso. Podemos afirmar que o valor da nossa vida não se mede em números, que a qualidade  da nossa sociedade o o nosso PNB são realidades diferentes. Podemos alterar prioridades subitamente abaladas por uma tragédia de massas, como um ataque terrorista, e reconhecer que as relações com a família, os amigos e a vida em comunidade constituem a principal razão de ser da nossa vida. Podemos, se assim o desejarmos, optar por uma vida mais cheia e equilibrada, e podemos criar uma sociedade igualmente mais equilibrada e justa. chegou o momento em que alguma coisa tem de ser feita.

  Em próximos apontamentos aqui no meu blog, tentarei explicar algumas desta tendências.


  Jorge Neves

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

LIDERANÇA PESSOAL: NA GESTÃO DO TEMPO A LEI DA COMPETÊNCIA







  Pode aumentar a sua eficiência e a sua eficácia se se tornar melhor a completar as sua tarefas.


  Uma das técnicas mais poderosas da gestão do tempo é tornar-se melhor a fazer as coisas que faz. São as suas competências principais, aquilo em que é absolutamente excelente, que determinam a sua produtividade, o seu  nível de vida e as coisa que consegue alcançar na sua área de trabalho.

  O mercado paga excelentes recompensas a trabalhadores excelentes. O seu sucesso depende disso, das coisas que consegue fazer melhor do que os outros. A sua maior responsabilidade na vida é determinar quais as coisas que pode e deve saber fazer bem e depois criar um plano para ser extremamente bom nessas áreas.

  Aqui fica uma pergunta: «Qual é a competência que, se a desenvolvesse e a desempenhasse de forma excelente, teria o maior impacto positivo na sua carreira?

  A competência mais importante em que é mais fraco determina a sua capacidade para usar as suas competências. Seja honesto consigo. Qual é a competência que o está a limitar? Qual é a competência que determina a velocidade com que completa as suas tarefas e atinge os seus objectivos? Qual é a competência, ou falta da mesma, que o está a impedir de ir mais além?

  O Princípio de Pareto, a regra dos 80/20, aplica-se às competências que limitam o seu sucesso. 80% das razões pelas quais não está a progredir como pretende são explicadas pelos 20% de competências e capacidades que lhe faltam.

  Esta regra também diz que 80% das limitações na nossa vida existem dentro de nós próprios. 80% das razões pelas quais não consegue atingir os seus objectivos tão depressa quanto desejaria são explicadas pela falta de uma competência em particular, uma capacidade ou uma qualidade.

  As pessoas com os resultados medíocres procuram sempre explicações para os seus problemas no mundo exterior. As pessoas que alcançam bons resultados olham para dentro de si. E perguntam-se sempre: «O que é que existe dentro de mim que me está a impedir de seguir em frente?»

  As pessoas bem-sucedidas procuram dentro de si próprias as respostas às suas questões e as soluções para os seus problemas. As outras pessoas procuram sempre no exterior. Quem é que você acha que encontra a solução primeiro?

  COMO COMEÇAR A APLICAR ESTA LEI IMEDIATAMENTE?

  1. Identifique as suas principais áreas de resultados e as suas competências mais importantes. Quais são as coisas mais importantes que faz no seu trabalho e quão bem as faz? Dê uma pontuação de um a dez a cada uma, sendo um o valor mais baixo e o dez o mais alto, em termos de quão bom você é nessa área.

  2. Peça às pessoas à sua volta que o avaliem no desempenho das suas competências  mais importantes, também numa escala de um a dez. Quanto maior precisão conseguir com este exercício, mais fácil será concentrar-se nas competências que são mais importantes para si.

  3. Identifique a sua competência mais importante, aquela que, se a desenvolver e a desempenhar de forma excelente, tenha um maior impacto positivo na sua carreira. Seja qual for, estabeleça uma meta, faça um plano e comece a trabalhar para se tornar excelente nessa área. Ficará verdadeiramente surpreendido com a diferença que isso fará na sua carreira.


  Jorge Neves