sábado, 8 de outubro de 2016

LIDERANÇA PESSOAL - O AUTOCONTROLE NA PRODUTIVIDADE INDIVIDUAL






                                                     A disciplina é a parte mais importante do êxito

                                                                                          Truman Capote



  Muitos de nós propomo-nos a bons objectivos, aspiramos alcançar metas, construir e criar algo duradouro e, claro ser um pouco melhores cada dia que passa. Entusiasmamo-nos com um novo projecto com relativa facilidade, prometemo-nos e conjuramo-nos para perseguir um objectivo ou uma meta mas, depois, a longo prazo, a nossa força de vontade vai-se diluindo ou deixa-se dobrar por qualquer adversidade. Em vez de ser-mos corredores de fundo, capazes de planear, executar e aguentar corridas de longa distância, especializamo-nos em explosivos e efémeros sprints que apenas nos permitem percorrer alguns metros. 
  Os Desvios que falei nos apontamentos anteriores e se você já os pratica por certo descobriu que começaram a tecer dentro de si a infra-estrutura mental necessária para atacar esses projectos com inteligência produtiva. A Pró-actividade, a Perspectiva, a Simplicidade, a Focalização e o Método são essenciais na persecução de qualquer sonho, meta ou objectivo, mas é necessário juntar mais um ingrediente a essa fórmula.
  Todos temos uma disposição inata para a dispersão, a distracção e a indisciplina. Se é verdade que, algumas pessoas, essa natureza indómita é mais acentuada do que noutras, geralmente ela vem à superfície em todos nós, mais tarde ou mais cedo. E devemos tê-la muito presente porque a nossa tendência natural, além de outros factores externos, faz com que tendamos a esquecer e a não fazer os desvios. Ou seja continuamos no lado errado.
  O autocontrole tem de se perseguir e renovar diariamente. Não é uma virtude que se tem ou se adquire e pronto; e asseguro-lhe que não há livro nem perito no planeta que lho possa inculcar da noite para o dia. É um terreno que se tem de lavrar e adubar pacientemente todos os dias do ano, sem excepção. Sem disciplina, sem controle, sem vontade aplicada e consciente, não há nem um nem dois nem sete Desvios na direcção da Produtividade que consigam transformá-lo.

  Vejamos como funciona o mecanismo da disciplina para compreender como age e como podemos estimulá-lo. No momento de cumprir uma obrigação, a nossa mente percorre três fases:

  1. A minha mente apercebe-se de que tenho de fazer alguma coisa ou que devo proceder de acordo com uma conduta ou certos princípios. Pode ser quando estou a realizar uma tarefa ou quando tenho de reagir ante um acontecimento. É a OBRIGAÇÃO.

  2. A minha mente organiza-se e visualiza o facto de ter de o fazer ou de se comportar assim. Valoriza as implicações os prós e os contras do momento, as circunstâncias e EU próprio. É a SITUAÇÃO. 

  3. Finalmente, sou em quem decide fazer ou não fazer essa tarefa ou modificar a minha conduta para agir como dita a obrigação. Isso traz sempre consequências, lembre-se que a Produtividade implica sempre fazer escolhas e tomar decisões. É  ESCOLHA.

  Mais uma vez, posto no papel, este processo mental de selecção pode ser bastante evidente. Afinal de contas, em maior ou menor grau, todos sabemos quais são os nossos deveres e, geralmente, queremos cumpri-los. Temos boa vontade e vontade de fazer as coisas. 
  Posto isto, há uma série de inimigos internos e externos que são tão ferozes e nos golpeiam com tal força que, para alcançar essa prosperidade produtiva, temos de fazer o Desvio de que este apontamento trata. O autocontrole protege-nos desses inimigos que constantemente ameaçam a nossa Produtividade.  Dá-nos a visão, a serenidade e a força necessárias para enfrentarmos e, em último caso, interliga todos e cada um dos Desvios de que falei em anteriores apontamentos.
  Apesar da variedade e da intensidade dos inimigos que terá de enfrentar quotidianamente, você já conta com as armas mais poderosas que possa imaginar. Através da contínua utilização dos seus princípios e fundamentos produtivos verificará que, pouco a pouco, vencer esses inimigos exigirá menos esforço. Isto apesar de, e volto a frisá-lo, ser um esforço grande e contínuo.
  Os Desvios têm a capacidade de se auto-alimentar e de promover o seu próprio desenvolvimento à medida que os for fazendo. Quanto mais Pró-activo for, menos lhe custará «obrigar-se a agir»; quanto mais se guiar pela Perspectiva, menos lhe custará «obrigar-se a recordar» os seus objectivos e princípios para escolher melhor. E o mesmo ocorre com os outros Desvios. Mas é imprescindível ter a disciplina suficiente para os pôr em prática fazê-los trabalhar, «invocá-los» para que o ajudem e entrem em acção sempre que necessário. Talvez isto seja óbvio mas é necessário dizê-lo: para que os Desvios funcionem, temos de nos «lembrar deles», chamar por eles, praticá-los em diferentes alturas do dia. Caso contrário, não servirão para nada, porque tudo aquilo que não se pratica perde-se.
  Esta é, para mim, a disciplina que temos de prosseguir na direcção da Gestão Pessoal plena. O Autocontrole proporciona-lhe a capacidade e o hábito de reclamar e activar os seus férreos princípios produtivos quando estiver a desenvolver qualquer actividade e for assaltado por um desses inimigos. Dito de um modo mais visual: O Autocontrole faz com que, perante o «ataque» de um desse inimigos, gritemos em voz alta: «Venham a mim.»
  Os Desvios acudirão, mas é imprescindível chamar por eles. A melhor forma de explicar o Autocontrole é conhecendo e dissecando os vários inimigos a que faço referência. Descobrir a sua natureza e as soluções para os derrotar são os passos que temos de dar.


  Inimigo 1: PROCRASTINAÇÃO


  Por trás desta palavra, que muitos pensam ser uma espécie de trava-língua quando a ouvem pela primeira vez, esconde-se um dos mais implacáveis inimigos da Produtividade. A Procrastinação não é mais do que a arte de retardar e adiar uma tarefa ou actividade inevitável e que, de forma repetida, nos negamos a fazer. Refiro-me a ela como uma «arte» porque no momento de deixar para trás repetidamente essa tarefa, nós mesmos inventamos as mais complicadas desculpas e formulamos as mais intrincadas razões para não a fazermos.
  Repita comigo as seguintes frases, que de certo lhe serão familiares:  «agora não me calha bem fazer isto, mas amanhã levanto-me uma hora antes e faço-a de certeza»; «é que agora não estou no meu máximo: vou dar uma volta com osj amigos e talvez fique com as ideias mais claras»; «vou responder a uns e-mails e de certeza que depois me dedico a isso»; «agora não estou suficientemente concentrado, acho que amanhã estarei mais fresco»; «pufff, nem pensar em fazer isso agora, mas de amanhã não passa, prometo». São frases sob as quais se escondem , habitualmente, tarefas que resistimos a fazer e que repetidamente adiamos.
  É importante clarificar uma ideia muito difundida e errada sobre a Procrastinação. A Procrastinação não é atraso de uma tarefa mas sim o atraso  - geralmente repetido - de uma tarefa  que resistimos a fazer por falta de iniciativa. Se adiarmos essa tarefa e tomarmos essa decisão baseados numa análise honesta e em férreos argumentos produtivos, não estamos a procrastinar.
  De um modo geral, a Procrastinação apresenta-se quando oferecemos resistência a fazer algo ou evitamos fazê-lo de forma consciente ou inconsciente. Esse estratagema repetido é causado por uma ou várias das seguintes razões:

  . PREGUIÇA. Não somos capazes de arranjar a motivação, o estímulo ou a energia que nos permitam fazer essa tarefa. Simplesmente, «não arrancamos». Há duas semanas que você se propôs arrumar a garagem e está sempre a adiar. Sempre que pensa nisso, é «imenso trabalho» ou «não é a altura mais indicada» por exemplo.

  . MEDO. Evitamos fazer uma coisa e adiamo-la repetidamente porque implica enfrentarmos algo que tememos ou que até nos aterroriza. Geralmente, por trás dela, há uma situação incómoda ou violenta para nós. Uma conversa com o nosso chefe para lhe propor uma melhoria nas nossas condições salariais é um bom exemplo disso.

  . INDECISÃO. Está a meio caminho entre a preguiça e o medo. Não fazemos essa actividade principalmente por falta de iniciativa, antecipação e ausência de confiança. Às vezes, não é claro para nós o que temos/devemos fazer e como solução decidimos atrasar sine die essa tarefa. «Bem, faço-a depois...há tempo que sobra.»

  . OUTRAS CAUSAS. Falta de energia e vitalidade, má organização e planificação, insegurança quanto ao resultado final, falta de auto-estima, incapacidade de medir o esforço necessário e, de um modo geral, ausência de princípios produtivos, que entretanto você já descobriu em si.

  Queria apenas apresentar-lhe, de um modo breve, a raízes da Procrastinação. Mas não é minha intenção analisá-las. Determe-ei, isso sim, no seu resultado final, em que todos os casos, independentemente da origem, é o mesmo: não fazermos o que tínhamos de fazer no momento em que o devíamos fazer, por resistência. 
  De acordo com a minha experiência, o único modo eficaz que conheço para derrotar a Procrastinação é apelar aos princípios produtivos. Poderia destacar muitas soluções mas fico-me com estas dez, que tão bom resultado me deram até ao momento.

  . Valorize e dê sentido a essa tarefa. Pense que não é algo que tem de fazer só «porque sim» mas que é algo que tem de terminar pela sua importância e porque vai ganhar alguma coisa de significativo com isso. Pense no que obterá quando tiver terminado: não pense na «maçada» mas no que vai conseguir ao completar essa tarefa. (Entra em acção a Perspectiva.) 

  . Se a sua tarefa for muito grande, divida-a ao meio, e novamente ao meio, até a decompor em pequenas partes. Em vez de enfrentar a tarefa à «maluca», divida-a em três, cinco ou dez fases a completar. Comece depois por aquela que dominar ou o inspirar mais ou aquela parte que achar mais atractiva. Às vezes é mais inteligente e até necessário começar pelo ponto 4, depois ir ao 7, ao 2 e ao 5. Aqui, você vence a Procrastinação através da criatividade e da inteligência. (Entra em acção a Simplicidade.)

  . Aproveite as horas em que rende mais. O nosso quotidiano  vai-se desgastando durante o dia e você melhor do que ninguém, sabe em que momentos costuma render mais e melhor. Tire partido dessas duas, três ou quatro horas onde as suas reservas internas e atá a sua motivação são claramente superiores para se dedicar à tarefa a que tanta resistência oferece. Decidir fazer uma tarefa a que oferecemos resistência quando precisamente estamos mais cansados é o passaporte directo um para o país da Procrastinação (Entra em acção a Pró-actividade e o Método.

  . Pense nos outros, às vezes são eles que pagam caro a sua Procrastinação. Muitas das nossas tarefas influenciam o trabalho ou a vida de outras pessoas, algumas delas próximas e queridas (familiares, amigos, companheiros,etc.) Antes de adiar, simplesmente por adiar, essa tarefa, pense na repercussão que terá nos outros. Porque ninguém quer cair na falta de solidariedade e de companheirismo, não é? Na grande maioria destes casos, a Procrastinação é sinónimo de egoísmo e maldade (Entra em acção a Perspectiva.)

  . Pratique o exercício do «FAZ ISTO AGORA!», que consiste em, literalmente, gritar consigo mesmo. O gritar visa sacudi-lo por dentro, eliminar a apatia ou a preguiça de uma assentada e pô-lo em acção imediatamente 
  Grite aquela frase com força, de dentro. Aparentemente, pode parecer um exercício ridículo, mas se o fizer com convicção e com suficiente vigor, verá como consegue desfazer-se da preguiça e da indecisão e pôr-se a trabalhar. Comigo sempre funcionou. (Entra em acção a Pró-actividade.)

  . Aplique a regra Minuto de Ouro. Muitas dessas pequenas tarefas que poderíamos despachar em menos de um minuto são matéria-prima para a Procrastinação. As mensagens de correio ou devolver uma chamada telefónica são dois claros exemplos disso. Se conseguir despachá-las, dar uma resposta a alguém que procura algo e fechar o tema em menos de um minuto, faça-o de imediato, tire essa tarefa da frente e não diga «bem, é melhor responder-lhe amanhã». (Entra em acção o Método.)

  . Conjugue essa tarefa com os seus objectivos. Qualquer tarefa, por aborrecida que pareça, há-de ter um lado positivo que o ajudará a enriquecer-se e a formar-se. Procure, analise e encontre, apesar disso, o ponto de ligação com os seus objectivos pessoais. O facto de essa tarefa estar relacionada com o seu Decálogo fará com que possa vencer a resistência com mais facilidade. Quer mesmo cumprir os objectivos do seu mapa de vida? Entre em acção e faça essa tarefa! Agarre-se a esse lado positivo, construtivo e didáctico para começar a trabalhar. (Entra em acção a Pró- actividade, com a Atitude mental Positiva, e a Perspectiva.)

  . Enfrente a Procrastinação que resulta do Medo. Nesses casos é sinónimo de fuga, evasão e desaparecimento. Escapar nunca solucionará o problema, que continuará presente quando regressar. Pense no que ganhará ao fazê-lo, no motivo real para o fazer e como se sentirá quando o fizer. A acção é o melhor remédio para o Medo e, para «tirar esse peso de cima», é imprescindível que se mexa.  Na maioria das vezes, visualizar criativamente o benefício que conseguirá, incentivá-lo-á a dar esse passo, corajoso e decidido. (Entra em acção a Pró-actividade e a Perspectiva.)

  . Estabeleça e ataque objectivos claros todos os dias. Não são poucas as vezes em que acabamos por não nos dedicar a uma tarefa porque não sabemos com nitidez o que fazer, o que queremos alcançar com ela ou até qual é o melhor momento para o fazer. Identifique claramente as Tarefas-Chave, as tarefas periódicas e as pequenas tarefas. Estabeleça alguns objectivos claros para o dia e fixe limites e momentos específicos para cada uma das actividades (entram em acção o Método e a Simplicidade.)

  Dê o primeiro passo e verá como tudo flui por si. A falta de iniciativa é, muitas vezes, uma sensação irreal que expõe o nosso recanto mais rebelde. Comece a caminhar, e verificará que é mais simples do que parecia inicialmente e dar-se-á conta de que «afinal não era uma coisa do outro mundo».

  INIMIGO 2: IMPREVISTOS

  Além da Procrastinação, as tarefas imprevistas e incumbências inesperadas são um dos maiores desafios que a Produtividade enfrenta diariamente. 
  Ao identificar as Tarefas-chave do dia, a nossa Lista de Saída contém o mapa preciso de tudo aquilo que temos de completar e, graças à Focalização, os nossos sentidos estão sincronizados e orientados numa só direcção. Tudo está de modo a explorar ao máximo a nossa criatividade e o nosso talento quando, de repente, uma chamada de um cliente furioso implica que se tenha de resolver um problema imediatamente ou, então, o chefe chama-o ao seu gabinete para o encarregar de um trabalho que «já era para ontem», para falar de dois exemplos muito comuns.
  Como agir para que a planificação e a execução de todas as nossa tarefas não caiam por
 terra? Como conseguir ser produtivo se durante o dia nos deparamos com esse obstáculos que bombardeiam a nossa Gestão Pessoal? 
  Mais uma vez, será a sua base mental produtiva ajudá-lo-á a evitar este inesperado temporal, esta crise de tarefas ou qualquer incumbência imprevista que se nos apresente.

  . Aja com calma e serenidade. Aceite os imprevistos como algo de normal que tem de acontecer e vai acontecer, mais tarde ou mais cedo. Revoltar-se contra eles nunca os solucionará, além de provocar ansiedade e bloquear a sua capacidade produtiva. Proceda de forma tranquila, consciente e optimista. Pense que essa tarefa inesperada não é uma contrariedade nem uma «chatice», mas um desafio que vai poder ultrapassar com decisão e espírito construtivo. Pense também que não é a primeira vez que isso lhe acontece e, em ocasiões anteriores, teve capacidade de superação. (Entra em acção a Pró-actividade, com Atitude Mental Positiva.)

  . Analise durante alguns instantes a dimensão real e os requisitos da tarefa ou incumbência que inesperadamente lhe atribuíram. Tem todos os meios e material de que necessita? Tem de fazer alguma chamada ou pedir alguma coisa a alguém?Tem de procurar informação? Não perca nem um instante a lamentar-se por ter de fazer essa tarefa.  Utilize os meios que tiver na procura de tudo aquilo que necessita para completá-la e meta as mãos à obra sem lamentos nem impropérios. (Entra em acção a Pró-actividade.) 

  . Evite a multitarefa. O inesperado pode acelarar-nos, transmite precipitação e impele-nos a querer fazer tudo ao mesmo tempo. Acreditamos, erradamente, que, ao fazer várias coisas ao mesmo tempo, seremos capazes de terminar essa tarefa muito antes. É precisamente o contrário. Não acelere e, sobretudo, faça uma coisa de cada vez. Ao concentrar-se numa única tarefa, o seu nível de stresse reduzir-se-á, a sua atenção irá apenas numa direcção e custar-lhe-á muito menos avançar para cada uma das fases em que dividiu esse imprevisto. (Entra em acção a Simplicidade.)

  . Não se deixe levar pelo pânico do momento e pelo impacto que esse imprevisto    possa ter sobre as outras tarefas pendentes. Não pense «e como vou fazer as outras coisas que tinha previsto?» Tem mesmo de as fazer todas hoje? Lembre-se  da diferença vital entre o que é urgente e o que é importante, e a divisão capital entre o tenho, devo e posso.  Examine com calma a sua Lista de Saída, visualize o resto do seu dia e preocupe-se especialmente com as Tarefas-Chave. Redistribua-as de forma inteligente por outros momentos em que possa terminar e regresse de imediato à tarefa imprevista que tem de fazer. As outras coisas poderão esperar, logo verá. (Aqui entra em acção o método.)

  . Não procure a perfeição logo à primeira. Em muitas ocasiões, obcecamo-nos e ficamos bloqueados com uma tarefa imprevista porque formulamos a imposição fictícia de que se deve fazer aquilo «na perfeição».  Pense de forma criativa e, sobretudo, prática. O primeiro objectivo é meter-se a caminho, avançar e terminar a tarefa. Depois poderá regressar a ela para melhorar, polir e afinar cada detalhe. Muitas vezes, é o «puxar o lustro» que nos bloqueia, porque os detalhes asfixiam-nos. (Aqui entra em acção a Simplicidade.)

  INIMIGO 3: DIZER QUE SIM A TUDO

  Não sermos capazes de dizer que «NÃO» a uma pessoa que nos pede algo, é uma das razões mais comuns - e, ao mesmo tempo surpreendente - que, na prática, faz com que a produtividade diária se ressinta. Simplesmente porque nos dizem que é «muito urgente» ou porque insistem connosco, acedemos imediatamente, instintivamente, sem calcular as consequências nem o impacto que essa decisão vai ter no fluxo de trabalho.
  Se agirmos guiados pela Focalização, poderemos ter a plena consciência e estar totalmente sintonizados com as nossas prioridades, os objectivos e as tarefas que temos de completar a seguir. Portanto, teremos a perspicácia, o raciocínio e até a liberdade para nos desculparmos a essa pessoa e dizer-lhe «NÃO»... pelo menos naquele momento.
  Naturalmente não estou a promover a falta de solidariedade nem a sugerir a falta de companheirismo. Estou a falar de sermos capazes de distinguir, de ter o raciocínio e a clarividência suficientes que nos permitam agir com perspicácia e ao serviço da nossa Gestão Pessoal.

  IMPORTANTE! Ser produtivo implica cuidar do seu tempo e dos seus recursos internos. Também respeitar as tarefas e os objectivos pelos quais trabalha diariamente. Se os mal tratarmos ou ignoramos, nunca abandonaremos a insatisfação produtiva que nos acompanha. A Perspectiva e a Focalização proporcionar-nos-ão os motivos e farão com que estejamos conscientemente sintonizados no presente. Assim, se as circunstâncias e o momento assim o ditarem, diremos à outra pessoa: «Tens  de me desculpar mas neste preciso momento não posso. Deixa-me terminar isto e logo me dedico ao que me pedes.» Esta frase simples, ou uma semelhante, dita e forma sincera - mas incisiva ao mesmo tempo - e com um amplo sorriso nos lábios, é o passaporte directo para poder continuar a sua tarefa. E a outra pessoa facilmente compreenderá isso.
  No entanto, dizer essa frase custa imenso e a maioria das pessoas tende a aceder a qualquer pedido sem pesar as consequências.
  Recorde a máxima: ser produtivo é uma questão de escolher bem. E ao aceder a qualquer pedido de qualquer forma e em qualquer circunstância, estará, certamente, a escolher mal.
  Como reagir a isto? Como conseguir? Proponho-lhe uma série de segredos que sempre deram resultado comigo: 

  . Antes de aceder, «aguente os cavalos» e pese o impacto que essa tarefa vai ter nas tarefas que tem nas mãos (na sua Lista de Saída). Recorde que as tarefas são peças numeradas de um puzzle que todos os dias vai preenchendo. Para pôr uma peça de outra pessoa terá de tirar uma das suas. Uma escolha irreflectida ou precipitada terá um efeito de ricochete nas tarefas e actividades a fazer depois. As suas tarefas são as tarefas que tem de fazer. As outras são as que talvez possa fazer. (Entra em acção a Focalização o Método e a Perspectiva.)

  . Tente compreender em toda a sua extensão o que lhe estão a pedir. A seguir, avalie se entra em conflito com os seus objectivos pessoais ou se impede de os desenvolver, bem como se terá um impacto benéfico a longo prazo. Se você não beneficiar com isso, é possível que o seu projecto ou a sua empresa beneficiem, ou a outra pessoa que tiver ao seu lado - podemos decidir fazer essa tarefa por solidariedade e companheirismo. Por outras palavras, dê um sentido e motivos â sua acção.)Entra em acção a Perspectiva.)
Mi   . Se a sua resposta tem de ser «não», pelo menos naquele momento, não duvide nem por um instante em pronunciar a frase. Faça-o de forma categórica mas também cortês e educada, com uma linguagem positiva e construtiva, tendo bem claros os seus objectivos e as circunstâncias. Ser solidário e bom colega não é incompatível com o respeito da própria Produtividade. A boa Gestão Pessoal começa por cuidar de nós mesmos e respeitarmo-nos (Entra em acção a Pró-actividade.)

  . Se for o seu chefe ou supervisor a ordenar-lhe que faça uma tarefa, não aceite mudar de planos logo à primeira. Tente fazê-lo perceber a importância do que está a fazer nesse momento e como seria contraproducente interrompê-lo. Claro, não se trata de se revoltar e dizer-lhe que «não» mas de adiar a nova tarefa para evitar prejudicar a outra em que está envolvido. Exponha-lho abertamente, com perspicácia e argumentos produtivos, e certamente que ele compreenderá com facilidade. (Entra em acção a Pró-actividade, a Focalização e a Perspectiva.)

  . Lembre-se da importância de dosear o seu EU quotidiano. Pode fazer algumas coisas mas não todas as coisas que se proponha ou lhe peçam. Você é um corrector que todos os dias tem de agir uma valiosa quantidade de activos internos. Tem de agir com inteligência e decidir onde os quer colocar e investir. Se tentar «chegar para tudo», fá-lo-á de forma precipitada, medíocre e com stresse. Não se esqueça de que é o principal administrador de si próprio e não se pode esbanjar e desperdiçar em todo o lado. (Entra em acção a Perspectiva.) 

  INIMIGO 4: STRESSE 

  Um dos aspectos fundamentais que  venho falando ao longo destes vários apontamentos sobre a Produtividade e Gestão Pessoal, é o da importância de desempenhar o nosso trabalho de forma desafogada e sem tensão. O relaxamento é um benefício directo para a Produtividade. O stresse é uma das mais graves ameaças para a criatividade, talento e a capacidade pessoal e profissional. 
  Deixando de parte as causas psicológicas ou de outro tipo, a dificuldade em nos concentrar-nos adequadamente, a má planificação com datas limite desajustadas, a multitarefa e a incapacidade para distinguir o urgente do importante, costumam ser algumas das principais razões para a ansiedade que domina muitas pessoas no trabalho.
  Se se deixar conduzir pelos Desvios, reduzirá consideravelmente as possibilidades de estar à mercê deste tipo de stresse. A sua cuidada base mental, os seus princípios produtivos e a sua determinação permitir-lhe-ão tomar as rédeas das actividades diárias e ter a desafogada sensação de que nada se lhe escapa.
  A Pró-actividade predispõe para a acção e para resolver as dificuldades que forem surgindo; a Perspectiva ajuda a identificar e a ter presentes os seus objectivos; a Simplicidade fornece os ingredientes para trabalhar de forma racional e sem excessos; a Focalização permite-lhe estar sintonizado no presente e multiplicar a concentração; e com o Método consegue planear e fazer todos os dias tanto Tarefas-chave como as de menos importância.  
  Mas vários factores externos, assim como a nossa própria natureza, fazem com que  o stresse e a ansiedade estejam sempre emboscados. Embora isso varie, sem dúvida, de pessoa para pessoa, é extremamente fácil cair nas suas garras e deitar por terra o contributo e o trabalho que teve a alterar os seus comportamentos diários para poder melhorar a sua Produtividade. Contributos esses a que lhes venho chamando ao longo de vários apontamentos de  "DESVIOS"
  Nunca subestime o stresse e a ansiedade devidos à pressão para terminar as tarefas. É algo muito sério que limita a imaginação e a criatividade, que põe obstáculos à iniciativa e à clareza de ideias e que imobiliza o raciocínio e os princípios produtivos. 
  É o inimigo a combater. Como? Além da contribuição de todos e cada um dos Desvios, e dos passos que damos neste,  pode adoptar várias medidas para o conseguir:

. Descansar e dormir adequadamente. Não rende mais quem mais horas roubar ao sono mas quem aproveitar cada hora do dia. Um descanso adequado fará com que seja mais fácil os níveis de atenção, frescura e criatividade estarem à altura. Na cama, durma e descanse.  Não leve consigo o portátil ou o telemóvel, não veja televisão nem planeie as suas tarefas na almofada.O lugar e o momento para descansar também são «couto de caça privado» da sua Produtividade. (Entra em acção a Perspectiva e a Focalização.)

  . Planeie e visualize com antecipação. A Focalização, especialmente a Matinal, ajuda-o a antecipar, assim que se levante, aquelas tarefas ou os momentos mais exigentes do dia. Esse exercício predispô-lo-á e alterará os seus sentidos produtivos para desempenhar o trabalho com mais sossego e, ao mesmo tempo, mais intensidade. Por outro lado, a dupla revisão das suas listas de tarefas permitir-lhe-á saber, em qualquer altura, aquilo que está a fazer. Tanto um como outro exercício ajudam-no a familiarizar-se com aquilo que o espera. Porque domina-se aquilo que se conhece; aquilo que não é familiar nem se controla origina stresse. (Entra em acção a Focalização e o Método.)

  . Identifique aquilo que lhe provoca stresse. O stresse pontual aparece rapidamente quando surge uma situação muito concreta: uma incumbência inesperada, uma disputa familiar, desajustes na nossa planificação, excessos de comidas e bebidas estimulantes, fazer um discurso ou falar em público, pressas e atrasos, um confronto no trabalho etc. Dedique tempo a detectar as coisas que lhe provocam stresse, analise-as, estude-as e contribua para lhes fazer frente. A iniciativa e o espírito de antecipação ajudá-lo-ão a evitar, destruir ou derrotar essas situações que funcionam como detonadores da sua ansiedade. (Entra em acção a Pró-actividade.)

  . Pare e não faça nada. A frase de  Sydney J. Harris: «É preciso relaxarmos quando não temos tempo para isso» abriu-me os olhos. Vai a mil à hora? Não pára de olhar para o relógio e está sempre a suspirar por nunca mais chegar?» Pare cinco,dez ou quinze minutos e não faça absolutamente nada. Fique em silêncio, relaxado e respirando profundamente. Se alguma coisa aprendi na minha vida é que o corpo tem um limite e que se o ultrapassarmos, é raro podermos fazer marcha-atrás. Faça pausas frequentes, acalme-se, pise o travão e, sobretudo, pare. Parar e descansar sem fazer nada não prejudica o trabalho, antes o favorece. (Entra em acção a Produtividade.)

  . Relaxe, divirta-se ria. O ócio e a descontracção, os pequenos momentos para desanuviar, passear, divertir-se e distrair-se, são determinantes para afastar o stresse. Pode divertir-se sozinho, mas se o fizer na companhia de outras pessoas potenciará os seus efeitos regeneradores. Cavaquear, sorrir, e rir com os amigos, companheiros e família são actividades essenciais em toda a boa Gestão Pessoal. Não há melhor remédio para combater a ansiedade produtiva do que rir a bandeiras despregadas. (Entra em acção a Produtividade.)

  INIMIGO 5: DESMOTIVAÇÃO

  "Uma-dura-lição eu sofri na carne". A motivação e o desejo de melhorar produtivamente, quer em termos pessoais ou profissionais, nunca permanecerão inabaláveis. Haverá dias ou momentos tremendamente difíceis em que desaparecerão e se desmoronarão completamente.
  Existe a espantosa facilidade que as pessoas têm para se comprometerem com algo e, ao mesmo tempo, a propensão para abandonarem esse compromisso passado pouco tempo. «Manter a guarda» não é uma virtude humana e salientamo-nos por perder o interesse com a mesma facilidade com que, pouco antes, nos tínhamos apaixonado.
  Por outro lado, cada novo dia é um mundo e, apesar da paixão e do ardor que tenho pela produtividade, nem sempre é um paraíso onde tudo é cor-de-rosa. Imagine o dia em que se levanta com o pé esquerdo, vai para o trabalho quase sem forças e com o ânimo de rastos. Os seus companheiros parece que estão combinados para deitá-lo abaixo, e os problemas, em vez de se resolverem como costumava ser, emaranham-se entre si formando uma teia de aranha de que não consegue escapar.
  Como enfrentar esses momentos ou dias em que tudo se complica e nos falta motivação? Como podemos fazer também aquelas tarefas que, pela, monotonia e falta de estímulo, temos tanta dificuldade em terminar? Como conseguir «querer fazer as coisas» quando tudo se torna tão difícil e se põe contra nós?

  Eis os segredos que funcionaram comigo:

  . Acarinhe o início do dia. Muitas pessoas descuidam esse precioso momento com maus hábitos: levantam-se tarde, tomam um pequeno-almoço incompleto e desequilibrado, ligam-se logo à Internet sem nenhum objectivo claro, não visualizam  os objectivos do dia, fazem as coisas à pressa, estão irritados, etc. O modo como começa o seu dia determinará, em grande parte como ele correrá. Estude examine os seus hábitos matinais e procure aqueles que revitalizem e reactivem os seus biorrítmos produtivos desde o primeiro instante. (Entra em acção a Pró-actividade.)

  . Não pense  nem diga «não me apetece» Em vez disso, diga «quero fazer isto», «vou fazer isto», e, sobretudo, ponha-se em movimento! Ás vezes, a falta de motivação é uma ilusão fictícia que a mente cria devido a vestígios da nossa natureza improdutiva. Pelo simples facto de se meter ao trabalho, de começar a fazê-lo,e, sobretudo «ver» que o está a fazer e está a avançar, encontrará a motivação suficiente para completar essa actividade com outra predisposição. (Entra em acção a Produtividade.)

  . O êxito dos grandes projectos assenta nas pequenas coisas feitas de forma brilhante. Nem sempre a nossa motivação é activada por pensarmos em coisas grandes, às vezes é preciso recorrer ao pequeno, ao minúsculo. Aprenda a valorizar e a espremer as pequenas  coisas, recrie-se em fazer bem as coisas mais discretas e verá a sua motivação aumentar.Um grande edifício tem de ser construído tijolo a tijolo, e cada um destes faz sentido e cumpre uma missão crucial. Concentre-se em alguma coisa pequena  e «utilize-a» para desencadear a sua ansiada motivação. (Entra em acção a Simplicidade.)

  . Tenha consciência do momento, do agora. Às vezes, falta-nos motivação porque a nossa mente está noutra parte, prisioneira de pensamentos mais abstractivos ou relacionados com os nossos tempos livres. Talvez uma viagem, uma excursão, uma festa, um jantar, etc. Dê a volta aos seus pensamentos e utilize esses momentos de ócio a seu favor, como elemento motivador. Interprete-os como uma recompensa ou um prémio pelo trabalho que tem de fazer e para o qual lhe custa encontrar uma razão. (Entra em acção a Focalização.)
  . Recupere o fôlego. Não é nada do outro mundo ter um dia com falta de motivação ou vontade. Os que perseguem a Produtividade não são máquinas mas pessoas bem vivas. É necessário passar por momentos assim para depois desfrutar mais dos dias bons produtivos. Não tome nenhuma decisão drástica nem se torture com a frase como «que desgraça hoje não consigo render nada». Limite-se, simplesmente, a fazer o que for prioritário e mais importante, deixe passar as horas e o dia terminará. Amanhã será outro dia, a sua motivação regressará e continuará presente. (Entra em acção a Perspectiva.)


  .Tenha sempre à mão o seu Decálogo Pessoal de Produtividade. Por muito que eu o incentive ou lhe forneça segredos, não há melhor motivação do que lutar pelas coisas que verdadeiramente quiser.  Os seus sonhos, as suas metas, os seus objectivos pessoais, a sua família... Não há nada mais poderoso para se inspirar do que isso. Reavive todos os dias a sua motivação com essa lista e, nos momentos de fraqueza ou desalento, volte a lê-la e reflicta sobre cada uma das dez coisas que dão sentido ao seu trabalho e ao seu esforço. (Entra em acção a Perspectiva.)


  RESUMO DO APONTAMENTO


  1. De uma forma gradual, os Desvios foram reprogramando o seu cérebro produtivo, implantando hábitos e costumes positivos. Mas para alcançar um equilíbrio produtivo duradouro é necessário preparar-se para combater certos inimigos internos e externos que, permanentemente, se emboscam contra si.

  2. A Procrastinação, por preguiça, medo ou indecisão, tem sempre o mesmo efeito: você resiste a fazer certas tarefas, adia-as repetidamente e estas continuam por fazer. Deixe-se ajudar pelos Desvios para a derrotar e conseguir meter mãos à obra. É fazendo que as coisas se conseguem e resolvem.

  3. Os imprevistos e as tarefas inesperadas são parte inevitável do seu trabalho, dos seus projectos e da sua vida. A sua primeira reacção perante eles tem de ser calma, calculada e positiva. Com uma reacção desesperada e contrariada nunca ganhará essa batalha e as tarefas continuarão por fazer.

  4. Embora isso vá muitas vezes contra os seus princípios ou temperamento, às vezes é preciso dizer «NÃO». Tem de adiar esse favor ou essa tarefa que um colega ou amigo lhe está a pedir com tanta insistência. Respeite o seu tempo e os seus objectivos, não caia em aparentes «urgências» e não perca de vista que a Produtividade é sempre uma questão de escolher bem.

  5. O stresse laboral-produtivo é um peso para a sua criatividade e para o seu desenvolvimento como profissional e como pessoa.  Utilize activamente os Desvios para se livrar da ansiedade e para fazer o seu trabalho de forma desafogada mas sem perder intensidade.

  6. A falta de motivação é algo que terá de se confrontar, mais tarde ou mais cedo. Na vida, há vales e montanhas dias em que tudo fluirá com naturalidade e outros em que tudo parecerá  correr mal.  Agarre-se sobretudo à lista de coisas que figuram no seu Decálogo Pessoal de Produtividade para conseguir reactivar e recarregar a sua motivação.

  Jorge Neves



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