segunda-feira, 24 de agosto de 2015

LIDERANÇA PESSOAL - VIVER É PARTLHAR






  O Carlos era muito reservado e isso tinha-lhe saído muito caro. Guardava tudo dentro de si durante a maior parte da sua vida e pouco tinha  libertado. Quando fez 50 anos, a vida começou a tornar-se insuportável. Todos que estávamos a frequentar o mesmo seminário falámos de nós, mas o Carlos não disse uma palavra e a sua linguagem corporal revelava como era introvertido.

  Perguntei-lhe se queria falar comigo. "Sim, respondeu. "Tem a certeza?" "Sim",respondeu novamente.
  Era difícil obter dele mais do que uma sílaba de resposta mas percebi que queria realmente falar.
  Durante a nossa conversa, limitei-me a ouvir a minha voz interior e deixei-a indicar-me as perguntas que me ajudariam a compreender e a guiar o Carlos.
  Por fim, uma questão teve algum efeito e estimulou a sua necessidade de falar: "Não sente vontade de me contar o que realmente aconteceu, Carlos?"
  "Cheguei a casa e encontrei a minha mulher na cama com outro homem."
  O alívio que surgiu na sua cara quando desabafou foi evidente. Neste seminário, a maioria dos participantes eram homens e cada um já tinha abordado os seus problemas e os seus desafios. À medida que os partilhamos, foi-se desenvolvendo  uma atmosfera de confiança. Outros homens no mundo já tinham chegado a casa e encontrado as mulheres na cama com outro, mas poucos esperaram 20 anos para falar sobre o assunto, como aconteceu com o Carlos. Quando começou a falar, sentiu algumas dificuldades e era óbvio que se sentia desconfortável mas, à medida que as palavras fluíam, foi recuperando a voz. O Carlos tinha estado "morto" em muitos aspectos durante aqueles 20 anos e estava a dar um passo importante no seminário.
  Em privado, sugeri-lhe que contacta-se um psicólogo que o poderia ajudar a expressar melhor os seus sentimentos. Concordou. "Não é fácil falar sobre mim. Penso que prefiro ir ao meu quarto e escrever já", disse ele quando lhe perguntei qual seria o próximo passo. Parecia aliviado. Mais tarde, o Carlos disse-me que o processo era lento, mas sentia-se mais vivo e mais próximo dos outros.
  Mais importante ainda, disse que estava a gostar da "viagem" ao seu interior e de aprender a partilhar cada vez mais. Em resumo, o Carlos tinha-se tornado visível para si próprio e para os outros.


  Jorge Neves

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