domingo, 1 de junho de 2014

VENDAS - O PRIMEIRO CONTACTO COM O CLIENTE






  Observemos uma cena que se repete milhares de vezes todos os dias nas lojas de qualquer país. Um casal entra numa loja, atraído por artigos na montra. Instantaneamente, vêem-se assediados por um vendedor que os ataca como uma ave de rapina:
  «Boa tarde, chamo-me Luís Paixão, ao vosso serviço. Ainda bem que entraram. Sinto-me feliz por dizer-vos que vieram ao sítio certo. Fazemos os preços mais baixos da cidade e temos artigos e condições de venda inacreditáveis!»
  «Estamos só a ver...» diz a esposa. 
  «Muito bem... Sei que procuram uma boa compra. Podem ter a certeza de que aqui serão tratados correctamente».
  «Vamos embora», diz o marido- e saem. O bom Luís Paixão limita-se a encolher os ombros e resmunga algo do género: «Parvos!... Não sabem aproveitar as boas oportunidades . O que vale é que há mais marés do que marinheiros». 
  Que aconteceu? Porque razão está o Luís Paixão a falar sozinho? Não ignorou as pessoas! Aproximou-se delas, sorrindo  e apresentou-se. Agradeceu-lhes terem entrado. Ofereceu-se para os ajudar. Foi tão simpático - eles praticamente fugiram porta fora. Porquê?  Porque estava literalmente a gritar-lhes. «Vou vender-vos qualquer coisa, seus tansos!»
  Esta atitude provocou um  verdadeiro abismo entre o Luís Paixão e os seus clientes.  Estes perceberam imediatamente que qualquer que fosse a sua atitude teriam de ouvir o vendedor a tentar convencê-los a levarem alguma coisa. E eles, em princípio, não queriam comprar nada, embora houvesse uma hipótese de acabarem por adquirir algum artigo senão não teriam entrado. Mas Luís Paixão correu-os da loja antes sequer de terem tido tempo de ver o que havia lá...
  A impressão inicial pode arruinar uma venda com grande facilidade. É por isso que vou falar de seguida sobre a forma como deve decorrer o primeiro contacto com qualquer cliente.
  O primeiro princípio a respeitar, ao entrar em contacto com um cliente é fazê-lo tão suavemente que o cliente se descontraia suficientemente para permitir que o desejo de possuir um dado produto se torne mais forte do que o receio. Você Pretende levar o seu cliente a desejar o artigo, em vez de pôr em acção as suas defesas contra si e a pensar: «Cuidado! Este tipo é capaz de me vender a mãe dele!» O cliente diz portanto: «Estamos apenas a ver»
  Se a frase é dita como uma espécie de defesa, você deve ter bastante cuidado para não forçar esta atitude negativa, anulando qualquer hipótese de venda. 
  Isto também pode acontecer numa entrevista realizada no local de trabalho do cliente. A única diferença é que, quando você «ataca», encontra hostilidade em vez de fuga. Em ambos os casos o cliente faz o que lhe é mais fácil: sai da loja ou põe-no na rua...
  Como poderemos evitar que isto aconteça?» Devemos actuar de acordo com a seguinte noção: 

  O nosso principal objectivo, ao entrar pela primeira vez em contacto com um cliente, é eliminar o receio e permitir-lhe descontrair-se.

  Se a emoção dominante no íntimo do cliente é medo - de que você o pressione, de que tenta impingir-lhe, de que o force a comprar - ele fica bloqueado e torna-se incapaz de tomar a decisão positiva que você deseja. Nem sequer concorda com perguntas «inocentes» que lhes possa fazer, tal é o seu receio. Antes de mais, portanto, tente levar o cliente a descontrair-se.
  Todos temos medo instintivo dos vendedores. É por isso que é tão importante criar uma sensação de confiança logo no primeiro contacto.
  Analisemos os passos que conduzem a uma boa impressão no cliente. 

  1. SORRIA ABERTAMENTE

  Algumas pessoas esquecem-se de como se sorri simplesmente porque nunca o fazem. Os vendedores devem treinar o sorriso. Exercite os seus músculos faciais sempre que se senta a descansar ou vai à casa de banho: Tem tudo aí, um espelho, solidão e a sua cara. Estou a falar a sério. Um campeão não se esquece de nada ao desenvolver as suas capacidades. A de sorrir agradavelmente - quer se tenha ou não vontade disso - é certamente uma das mais importantes. 
  O sorriso irradia calor humano. Para haver calor humano nos seus contactos, sorria abertamente ao falar com os outros. Claro que em certas situações não se proporciona sorrir, mas um sorriso aberto e agradável constitui quase um preliminar necessário para realizar uma venda.
  Certas pessoas têm dificuldade em sorrir quando é necessário fazê-lo por qualquer razão: são incapazes de pôr de parte as suas preocupações e problemas, quando têm de visitar novos clientes. Você pode estar certo de duas coisas: o seu novo cliente não é responsável nem está interessado nos seus problemas; e você não ajuda a resolver os seus próprios problemas aborrecendo o cliente com uma atitude antipática. Tome a firme decisão de esquecer por algum tempo os seus problemas e sentimentos negativos de cada vez que encontrar pela primeira vez um cliente. Depois, se for mesmo necessário, volte aos seus velhos problemas  - mas depois de ter feito algo pela resolução dos mesmos, ao ser delicado e agradável com o novo cliente.

  2. OLHE PARA O CLIENTE ABERTAMENTE

  Por que razão pensa você considero essencial sublinhar esta questão tão óbvia? Porque muitos vendedores destroem todas a possibilidades de fazerem uma venda evitando olhar o cliente nos olhos. Olham para baixo ou para além de outra pessoa. Estes comportamentos são bastante agressivos. E além disso, as pessoas que agem deste modo lançam nos outros a suspeita de que não estão a ser honestos.

  3. CUMPRIMENTE-OS CORRECTAMENTE

  Pense um pouco no seu modo habitual de cumprimentar um cliente. Se o faz sempre da mesma maneira, é provável que não agrade a muitos dos seus clientes. Treine pelo menos três modos diferentes de cumprimentar. De início, treine um cumprimento formal, respeitoso; um cumprimento amistoso e um cumprimento descontraído, despreocupado. Mais tarde talvez você decida desenvolver ainda mais formas de cumprimentar. Estude cada pessoa durante um instante e escolha o modo de cumprimentar que lhe pareça mais apropriado à sua personalidade. Trata-se de um óptimo método de concentrar a sua atenção na personalidade do cliente e de começar a estudar a melhor maneira de trabalhar com essa pessoa concreta.

  4. APERTE OU NÃO A MÃO

  Muitos vendedores médios gostam de apertar a mão ao cliente. Inconscientemente, estão convencidos de que se conseguirem fazer a outra pessoa apertar-lhe a mão, a venda se torna mais provável. É quase uma superstição desses vendedores. O erro disto é que o vendedor está a fazer um juízo em função de si próprio, não daquilo que o cliente sente. Muitas pessoas não gostam de ser tocadas por aqueles que não conhecem. Que acontece então? Como estes vendedores, estão ansiosos por apertar a mão a pessoas que não o querem fazer, vêm-se frequentemente rejeitados e esta rejeição torna-os ainda mais ansiosos de apertar a mão ao cliente... Começam portanto a ficar cada vez mais preocupados com o assunto. Esta maior tensão é comunicada aos clientes, que se tornam ainda mais relutantes em apertar a mão a estes vendedores ansiosos; é um verdadeiro círculo vicioso.
  Não estou a exagerar. Um amigo meu possui uma cadeia de lojas de limpeza a seco. Uma vez disse-me.«Neves, consigo adivinhar quais dos meus clientes trabalham em vendas. Todos têm a mania de esfregar a mão nas calças para limparem o suor antes de apertarem a mão...»
  Para o vendedor vulgar, esse gesto transforma-se num reflexo condicionado, juntamente com a frase: «Bom dia. Sou...»
  Nas vendas altamente competitivas de hoje, o nosso principal objectivo é encontrar e trabalhar com pessoas. E a nossa maior preocupação ao falar com pessoas, é levá-las a confiarem e gostarem de nós. É por isso que o bom vendedor sente intimamente, quando está a entrevistar alguém, que essa pessoa vai gostar dele e confiar nele, porque está convicto da sua honestidade e do calor humano que sabe que é capaz de dar às relações. 
  Não será extremamente positiva esta convicção de que se é capaz de inspirar simpatia e confiança? Não diga a si próprio: «tenho de conseguir!» Sentir-se-á ansioso, talvez até um pouco assustado. Se estiver à vontade e confiante você comunica esse estado ao entrevistado, se estiver tenso e preocupado, você transmitirá medo e o cliente também será influenciado.
  Tenha uma fórmula simples para facilitar a resolução deste problema: se está a cumprimentar um cliente sobre o qual não dispõe de referências (o tipo de pessoa que aparece no seu gabinete ou sala de demonstrações) não tente logo apertar-lhe a mão. Evidentemente, se for o cliente a tomar a iniciativa você corresponderá; mas isto será raro. Se se tratar de um segundo contacto ou alguém de quem já possui referências, pode apertar-lhe a mão ou não - mas é melhor deixar que o próprio cliente tome a iniciativa. O importante é você libertar-se desse hábito compulsivo de apertar a mão indiscriminadamente.
  Seguidamente irei fazer uma análise mais aprofundada de duas situações - tipo de encontro com clientes.

  O CLIENTE COM REFERÊNCIAS

  Suponhamos que estou a falar pela primeira vez com um casal em circunstâncias tais que conheço os seus nomes. Marcamos uma entrevista no meu gabinete, por exemplo, e vejo-os aproximarem-se. Ao avançar em direcção a eles com a mão descontraidamente ao lado do corço, começo a sorrir porque estou genuinamente interessado em conhecê-los.
  Vou apresentar-me. Isto é lógico porque nunca me viram antes e quero tranquilizá-los fazendo-lhes saber que estão no sítio certo, a falar com a pessoa certa. Digo portanto: «Boa tarde, Sr e Sra. Silva. Jorge Neves, da Unilever» Ao dizer Sr. Silva, olho-o directamente nos olhos; procedo do mesmo modo ao pronunciar o nome da esposa, fixando-a também nos olhos, e volto depois a olhar para o Sr. Silva quando a apresentar-me. Se eu fosse uma mulher, estaria provavelmente a olhar para a esposa ao dizer o meu nome.
  É importante para mim não olhar para as mãos de qualquer dos esposos para ver se me vão apertar a mão. Aliás não preciso de o fazer, porque disponho, tal como todos os outros seres humanos, de uma coisa a que se chama «visão periférica». Isto significa que podemos ver objectos, que estejam dentro do nosso campo de visão, mesmo quando não temos os olhos exactamente dirigidos para eles. Muitas pessoas usam a sua visão periférica apenas para localizarem coisas que depois observam directamente. Mas a visão periférica tem outra função importante: pode dar-nos informações sobre o ambiente em que nos encontramos ao mesmo tempo que nos permite continuarmos a olhar para outro lado. Para ilustrar melhor esta questão, coloque-se de pé a cerca de nove metros de uma árvore quando está uma ligeira brisa. Olhe para o tronco no ponto onde entra no solo e, sem deslocar os olhos, note o movimento das folhas e ramos. Pode fazer o mesmo olhando para a porta de um edifício de vários andares; enquanto olha para a porta, consegue ver as janelas do segundo andar.Treine a aquisição de informações sobre as janelas, paredes e tecto do edifício sem tirar os olhos da porta. É incrível o que consegue ver, mesmo quando não se está a olhar directamente. Você pode praticar isto em qualquer momento ou local, desenvolvendo a sua atenção ao que o rodeia. Para o caso que estou a tratar, uma das vantagens disto é ser capaz de aperceber-se de um movimento de ombro ou mão que indique que a outra pessoa lhe vai estender a mão. Você observa esse movimento, mesmo sem olha directamente para a parte do corpo em questão mantendo assim um contacto directo com os olhos do seu cliente, o que permite aumentar a confiança que este tem por si.
  Treine a visão periférica. Convença-se a si mesmo de que não tem necessariamente de tocar nos seus clientes. Depois deixará de limpar o suor da mão porque já não estará a transpirar. Estará verdadeiramente à vontade porque passou a dominar o encontro inicial com os seus clientes e será maior o número de pessoas que confiarão em si, porque você irradia calor e confiança em vez de tensão.
  Ao aproximar-se do Sr. e da Sra. Silva você sorri descontraidamente; a sua mão oscila com naturalidade ao lado do corpo. Se sentir um movimento do braço do sr. Silva, você corresponde normalmente, aperta-lhe firmemente a mão e vira-se depois para a esposa. Se você apertou a mão ao marido, é muito provável que a esposa faça o mesmo gesto. Ao olhá-la directamente nos olhos, tente aperceber-se de um possível movimento que ela também  lhe vai apertar a mão. Se não, o seu movimento de virar-se para ela, e de deixar cair a mão pode transformar-se numa espécie de aceno de cumprimento.

  CLIENTES SEM REFERÊNCIAS

  Suponhamos que entra um casal na sua sala de demonstrações. Você não conhece os seus nomes. Você sente-se imediatamente na obrigação de apresentar-se. Todas as possibilidades de obter uma relação tranquila e de confiança são muitas vezes perdidas por vendedores demasiado ansiosos que estendem a mão e se apresentam precipitadamente. Os clientes ficam admirados e embaraçados porque não estavam à espera de tanta atenção e empenhamento. 
  Esta situação converte-se  muitas vezes numa verdadeira calamidade. O vendedor compreende que foi demasiado longe e deixa cair a mão enquanto o cliente sem grande vontade levanta a dele. Depois o cliente retira rapidamente a mão, mas não antes de o vendedor começar novamente a elevar a sua... Neste momento toda a gente está embaraçada e os clientes começam a pensar numa maneira de desaparecerem rapidamente.
  Vejamos como é possível evitar esta situação. Entra um casal na sala. Você não conhece os nomes das pessoas e não tem qualquer razão para crer que queiram conhecê-lo. Quando se dirige para eles, pare a alguma distância a fim de não «invadir» o espaço que é deles, opte por uma destas fórmulas:
  «Boa tarde. Prazer em ver-vos. Fiquem à vontade e vejam os nossos artigos. Se tiverem alguma dúvida, chamem-me.
  « Bom dia. Prazer em ver-vos. Podem ver o que quiserem; se eu puder dar-vos alguma informação, façam o favor de perguntar». 
  «Boa tarde. Bem vindos a...... (nome da loja). Espero que os nossos artigos vos agradem. Se tiverem alguma pergunta a fazer, estarei ao vosso dispor».
  Depois de ter aplicado uma destas versões, afaste-se.
  Não é preciso precipitar-se nem desatar a correr, evidentemente. Se você estiver onde deve estar, os seus clientes poderão facilmente fazer-lhe qualquer pergunta se o desejarem.
  É curioso verificar quantas pessoas começaram automaticamente a dirigir-se para a porta, se você for demasiado insistente e quantas lhe farão perguntas sobre o produto ou serviço que procuram, quando você e lhes fala delicadamente e se afasta depois deixando-as à vontade. Mostrando que respeita a privacidade dos clientes, você garante-lhes que poderão fazer-lhe perguntas sem serem pressionadas.
  Há clientes que não são muito faladores - especialmente em estabelecimentos que vendem artigos caros. Mesmo assim, afaste-se. Você fez tudo o que podia fazer e deve esperar que sejamos clientes a dar o próximo passo.
 Muitos deles dão uma volta pelo interior do estabelecimento sem se demorarem especialmente em qualquer ponto e depois saem. A maior parte das vezes são pessoas que estão apenas a passar tempo, não podem pagar os artigos ou querem simplesmente ficar com a ideia do que existe no mercado, antes de terem necessidade ou desejo de comprar.
Se assim for, você ganhará muito tempo deixando-os sair sem as importunar. É muito mais provável que voltem quando estiverem verdadeiramente decididas a comprar, quando não são assediadas da primeira vez que visitam a loja. E, ao deixá-las verem à vontade, você não desperdiçou a sua energia nem o seu entusiasmo em casos sem esperança.

  5.DEIXE OS CLIENTES ADAPTAREM-SE

  Se você deixa os clientes à vontade, depois de os ter cumprimentado, se eles tiverem algum interesse no seu produto ou serviço e possibilidades de o comprarem, acabarão por ir ter consigo pedindo-lhe informações. Tudo o que tem a fazer é esperar que se adaptem ao ambiente.
  Se você vende electrodomésticos e a sua loja contém vários tipos destes aparelhos, incluindo por exemplo receptores de televisão, observe se os clientes sem dar nas vistas. Usando a sua visão periférica, você pode estar a observar aparentemente qualquer coisa numa máquina de lavar, mas apercebe-se simultaneamente de que os clientes estão interessados num receptor de televisão em particular. Se o observarem durante mais de um minuto já estão familiarizados com o ambiente. Será o momento adequado para você deixar o seu posto e dirigir-se a eles, como se tivesse passado ali por acaso. Passe então, naturalmente ao passo seguinte.

  6. FAÇA PERGUNTAS DE ENVOLVIMENTO

  Uma pergunta de envolvimento será evidentemente qualquer pergunta positiva que os clientes teriam feito a si mesmos, sobre os benefícios que poderiam tirar com o produto, no caso de o adquirirem. Esta pergunta, a ser posta no início do diálogo, será muitas vezes estruturada em função do artigo que os clientes estiverem a apreciar durante um minuto ou mais. Você não conhece os nomes deles, nas é ainda muito cedo para lhes perguntar.
  Diga por exemplo: «Este receptor poderia substituir o que possuem, ou destiná-lo-iam a um outro compartimento da vossa casa?» 
  Com pequenas variações, você pode adaptar esta pergunta inicial a praticamente qualquer serviço ou produto. Depois de conseguir pô-los a falar sobre o que lhes interessa no artigo que você tem para vender, é fácil entrar na sequência de qualificação dos clientes, preparando um possível fecho de venda, e envolvê-los de forma positiva na aquisição do artigo.


  Jorge Neves




  

                                                                   
  

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