Quais serão os princípios fundamentais da estratégia para as empresas que empregam menos de cem pessoas? As recomendações de académicos e de consultores muitas das vezes aplicam-se quase exclusivamente às grandes empresas, afogando-os num mar de conselhos que parecem irrelevantes para pequenas organizações com recursos limitados.
Poderemos ter más notícias. Estratégia é estratégia, quer a empresa seja grande ou pequena. É aquela ideia brilhante - um grande "aha" como lhe chamo que lhe dá uma vantagem competitiva sustentável. Dizendo de outro modo, a estratégia é apenas uma proposta de valor vencedora, isto é, um produto ou serviço que os clientes simplesmente querem mais do que as outras opções disponíveis. Para além disso, a estratégia depende da execução - e, nessa frente as empresas pequenas, na verdade, têm o que parece ser uma vantagem.
Mas não o censuramos por sentir que a maioria dos conselhos sobre estratégia que hoje em dia se ouve se aplica maioritariamente às grandes empresas. É tudo tão complexo, como se a estratégia fosse uma espécie de metodologia científica para génios. Na realidade, devido aos cálculos numéricos árduos e intelectualizados e à fomentação da análise de dados, quer dizer... teria de ser uma grande empresas para ter as pessoas, o tempo e o dinheiro para tentar.
Não se incomode. Quando mais se envolve em detalhes e cenários diferentes, mais fica entalado. Assim que tiver um grande "aha", a estratégia é apenas um rumo geral. É uma linha de Acão aproximada que pode reexaminar e definir de acordo com as instáveis condições de mercado. Tem de parecer fluída - tem de estar viva!
As empresas pequenas - e as grandes - podem encontrar a sua estratégia simplesmente fazendo cinco perguntas chave. Qual o aspecto do campo de jogo? O que é que a nossa concorrência tem feito ultimamente? O que temos feito nos últimos tempos? Que futuros acontecimentos ou mudanças possíveis não nos deixam dormir com tanta preocupação? E tendo em conta tudo isto, qual a nossa jogada vencedora? Este processo não teórico e relativamente rápido não exige manual escolar ou consultores para ser concluído. Aliás, exige apenas uma equipa de colaboradores informados e comprometidos que conseguem sonhar alto e discutir intensamente - e, por fim, surgir com um plano de jogo dinâmico.
Depois, é altura de implementar e é aí que as empresas pequenas têm vantagem. Quando apenas existem cem colaboradores, ou até mil, é muito mais fácil transmitir estratégias e deixar todos entusiasmados, com uma intensidade contagiosa partilhada e espírito dinâmico. E assim que a estratégia estiver lançada, as pequenas empresas, tal como pequenos barcos a motor, têm a capacidade de regular a direção mais rapidamente do que os transatlânticos empresariais. Também conseguem recrutar mais rapidamente, tomar decisões sem tantas barreiras burocráticas e, em geral, encontrar os seus erros (e repará-los) mais depressa dos que os seus pesados rivais.
Assim, pequeno não é exatamente bonito no que diz respeito a estratégia. Aqui está o busílis: com recursos limitados, tem de estar certo mais vezes. As grandes empresas aguentam muitos deslizes: Têm possibilidade de apostar em um, dois ou três grandes "aha" que não funcionam. Pelo contrário, um pequeno erro estratégico pode levar uma pequena empresa à falência.
O essencial para as pequenas empresas resulta de aumentar a sua proposta de valor para um nível mais elevado. Têm mesmo de se certificar de que têm algo único - uma nova ideia patenteada, uma tecnologia inovadora, um processo de custos extremamente baixos ou uma oferta de serviços única. Seja como for - simplesmente tem de ter o poder de atrair clientes e de os fidelizar. E quando o fizerem, as empresas pequenas podem festejar uma estratégia vencedora, sabendo que a elaboraram sem gráficos, diagramas, relatórios, estudos e monte de slides em PowerPoint de que ninguém precisa, nem as grandes empresas.
Jorge Neves
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