Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.»
Quem não ouviu já este sábio conselho. Estou certo que você, tal como eu, ouviu dizer ou disse isto, centenas e centenas de vezes. Talvez isto não se aplique a si (ou você quer acreditar que não) ou talvez reconheça que isto é um problema que o afeta e gostaria de perceber porquê e como o ultrapassar. Muitas pessoas que conheço, e você também conhecerá, agem de acordo com a máxima «não faças hoje o que pode ser deixado para amanhã». Não conheço nenhum que tenha ido longe.
Outras pessoas, as «eternas esperançosas», vivem em função do amanhã, ou melhor, racionalizam as impossibilidades (por inércia) de hoje com a justificação do depois. Como alguém um dia disse: « A criança diz - quando crescer - mas o que significa isto? Já crescida diz - quando for adulto. Já adulto diz - quando eu casar. Mas já ser casado... o que significa isso afinal? Então passa a dizer - quando me reformar. E, quando chega a reforma, lança um olhar sobre o longo caminho percorrido; um vento frio parece varrê-lo sem bem perceber como tudo se perdeu e ficou para trás.»
Procrastinar. Este é o nome deste terrível hábito que, em diversos graus, nos afeta a todos em algumas alturas da vida.
Várias vezes me tenho interrogado, se ser assim é de «nascença» Quando penso nisto, fico com a leve sensação de que o que eu gostaria de ouvir era: sim é de nascença, para eu poder admitir a mim próprio que nada há a fazer. Mas essa não é a verdade! Na realidade a resposta não é essa. Esta maneira de ser decorre da personalidade de cada um, a qual, por sua vez, deriva de um conjunto de fatores, uns inatos e outros adquiridos.
No entanto, se você que está a ler este texto, e é um procrastinador, existem boas notícias para si: penso que o que vou falar a seguir vai ajudar a alterar essa faceta da sua vida. Preste atenção.
Na realidade, o adiar algo não existe. Você simplesmente faz o que faz, e o que não faz fica por fazer. É claro que para não sentir a ansiedade própria de quem não faz algo que devia, você diz, de si para sí, que o irá fazer algures no futuro. É uma forma de aliviar a tensão e não se sentir culpado. Mas atenção, se você adia as coisas e simplesmente se sente bem com isso, sem culpa, ansiedade ou aborrecimento, então ótimo, nem sequer pense em mudar. No entanto, para a maioria das pessoas, o hábito de adiar é uma forma de se manterem incompetentes perpetuamente, sem que se sintam muito culpados por isso. Para essas pessoas, vários autores têm escrito nos seus livros e artigos que uma das formas de evitar preocupações quando há muitas coisas para resolver é deixar passar algum tempo, porque, algumas delas, se resolverão por si próprias. Bela tentativa de transformar a apologia da mediocridade em teoria de gestão. Abdicar do controlo dos acontecimentos é algo que qualquer gestor de sucesso nunca pode fazer.
Existem três frases que fazem a delícia dos defensores destas teorias:
. Espero que as coisas se resolvam
. Gostaria que as coisas não fossem assim
. Talvez, no final, tudo acabe bem
Isto são algumas racionalizações convenientes que se usam para justificar o facto de as pessoas não se esforçarem e realizarem os trabalhos que os próprios decidiram ser suficientemente importantes para constarem na sua lista de «coisas a fazer.»
De acordo com Wayne Dyner, a procrastinação funciona da seguinte forma: «Você sabe que existem certas coisas que quer fazer, não porque os outros assim decidiram, mas porque foi você mesmo que as escolheu. Entretanto, muitas delas nunca foram feitas, embora dissesse a si mesmo que as faria. Decidir fazer no futuro o que poderia fazer hoje, é uma maneira aceitável de substituir a ação e permite manter a ilusão de não se estar a comprometer, por não ter cumprido o que se tinha decidido. É um artifício conveniente, que funciona mais ou menos assim: sei que preciso de fazer esta tarefa mas receio não ser capaz ou aborrecer-me. Assim, digo a mim mesmo que a farei no futuro, logo, não preciso de admitir que a não vou fazer.» Este é o segredo do insucesso.
Existem ainda pessoas, que embora não sejam procrastinadoras militantes, deixam sempre tudo para a última hora. «Só trabalham bem sob pressão», dizem eles. Em muitos casos, é mais um truque para justificar a mediocridade «fiz o melhor possível para o tempo que tinha». Eles próprios estão a admitir que poderiam ter feito melhor. Imagine o quanto melhor, se tivesse tido o dobro do tempo...
Outros gestores, ainda, podem ser qualificados de «o gestor agitado». Este é o chefe que anda sempre de um lado para o outro, a falar com todos os trabalhadores, a «meter o nariz» em tudo e que chega ao fim do dia exausto, queixando-se a toda a gente que se farta de trabalhar e que não tem tempo para fazer tudo que é realmente importante. É um exemplo de fuga para a frente: não se sente capaz de lidar com os desafios da sua função de gestor e autoconvence-se de que não tem tempo para nada, inventando a necessidade de atividades frenética.
Passo, agora, algumas das razões pelas quais as pessoas protelam:
. A mais óbvia de todas é que o adiamento permite evitar as atividades menos agradáveis.
. É possível que este sistema de auto-ilusão dê um certo conforto. Mentir a si próprio, permite não ter de encarar que é um não realizador.
. É possível manter este estado o resto da vida. Com isto são eliminados os perigos de mudança.
. Ao sentir tédio, é fácil responsabilizar o próprio tédio pela infelicidade que se sente.
. Esperar que as coisas melhorem, permite pôr no mundo, no destino ou em Deus a culpa da infelicidade ou dos insucessos.
. Ao evitar todas as atividades que envolvam risco, não se põe em causa a autoconfiança.
. É possível atrair-se a simpatia dos outros e sentir autopiedade, devido à ansiedade que se sente por não ter feito aquilo que desejava.
. Quando se adia, pode ser que alguém faça.
Jorge Neves
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