Cedo ouvir dizer: "Não existem lucros em vencer se perdermos a alma. Pergunto-me se isto é verdade - se os historiadores do futuro irão olhar para trás, para os nossos tempos, e dizer: "Eles ganharam fortunas pessoais numa nova economia global, mas destruíram famílias, comunidades e até nações." A pergunta que se coloca é então a seguinte: o que significa vencer? Não é algo mais do que o que os mercados podem dar?
Vencer, na realidade, não tem nada a ver com os mercados. Ou, melhor dizendo, não tem necessariamente nada a ver com eles. Vencer defino-o como um trajecto pessoal. Tem a ver connosco próprio, enquanto indivíduo, estabelecer um objectivo e alcançá-lo. Esse objectivo pode ser construir uma família feliz e saudável. Pode passar por fundar ou financiar um centro de acolhimento para os sem-abrigo. Pode ser ensinar crianças a ler. Pode ser velejar pelo mundo fora. E, no entanto, pode ser criar uma empresa próspera que tenha sucesso no mercado global.
Vencer tem a ver com o chegar ao destino que se escolheu. Não tem necessariamente a ver com lucros, embora também possa ter. Mas vencer, no essencial, tem a ver com fazer algo com a vida. Tem a ver com o progresso e significado. Tem a ver com a realização pessoal.
Vencer não tem a ver com a destruição de Famílias, Comunidades ou Nações. Nem quando são empresas que fazem parte da nova economia global que vencem. Na realidade, quando se sugere de que o sucesso económico é, por definição, moralmente corrupto, está-se completamente errado, isto se for exercido com integridade.
Vencer no mundo dos negócios não é um jogo em que os ganhos de um são as perdas dos outros. Como no desporto que quando uma equipa ganha, a outra perde. Pelo contrário, no mundo dos negócios, quando uma empresa ganha geralmente também existem muitos outros vencedores colaterais. Os executivos de sucesso e os accionistas de uma empresa beneficiam, é claro, assim como os seus colaboradores, distribuidores e fornecedores. O sucesso de uma empresa pode levar à criação de dezenas de outras empresas, que fornecem ou vendem à empresa mãe. Por vezes, elas criam sectores de actividade totalmente novos, com muitos novos concorrentes. O mais importante é que estas novas empresas criam emprego, a essência de qualquer sociedade. Quando as pessoas têm trabalho que tem algum significado, têm liberdade para estabelecer os seus próprios objectivos e não apenas para sobreviver. Podem dar educação aos seus filhos, podem viajar ou fazer doações para instituições de solidariedade social, e muito mais. Podem sonhar.
Juntamente com a criação de emprego, as empresas vencedoras pagam impostos, tal como os seus colaboradores, financiando inúmeros programas , desde escolar, saúde, social a infraestruturas.
Nisto tudo, o que é que "destrói?"
É óbvio que existem empresários que perdem a alma em troca de lucros. Essa velha história que, infelizmente, é reavivada nos tempos actuais com um novo relato de fraude, mentiras e roubos empresariais e até governamentais, é porque existem e sempre existirão, idiotas corruptos e não apenas nos negócios, mas como em todas as áreas,desde o sacerdócio à política.
Acredito fortemente que a maioria dos homens e mulheres nos negócios, como as pessoas em geral, são bons. Querem vencer de forma correcta, de forma limpa e justa, seguindo as regras. Querem criar empresas ou ajudar a construí-las. Querem andar todos os dias, à procura de novas ideias. Querem inventar novas tecnologias e novas formas de fazer coisas. Querem um futuro diferente - um futuro melhor para si próprios, para a sua família, amigos e colegas.
Será que os historiadores do futuro irão olhar para eles e dizer que a sua definição de vencer destruiu o mundo? Ou será que irão dizer que tornaram o mundo um lugar melhor?
Jorge Neves
Vencer... Vencer... Vencer. Toda esta conversa sobre vencer dá que pensar. Apenas uma pequena percentagem tem sucesso; mas então o que devem fazer todos os não vencedores, matar-se?
Mas que pergunta! Será que só se pode querer dizer que se vê o sucesso apenas em termos económicos? Claro que não! E não tem de ser assim.
Eu encaro o sucesso de outra forma - passa por estabelecer objectivos pessoais e alcançá-los e (igualmente importante) desfrutar da experiência durante todo o processo.
Vencer não tem nada - ou tudo - a ver com o emprego. Sim, pode-se vencer como um executivo numa grande empresa, mas também se pode vencer de modo igualmente significante como carpinteiro, professor ou cantor de uma banda musical. Pode-se vencer constituindo família, cuidando dos seus pais ou sendo um bom amigo - desde que esses sejam os sonhos que se escolheram. De facto os maiores vencedores do mundo são aqueles que respondem à seguinte pergunta: "ESTAREI A VIVER A VIDA QUE ESCOLHI?" Um dos maiores vencedores que eu conheço é uma pessoa que, pela sua definição económica, provavelmente não se qualificaria para tal. O Francisco licenciou-se em Coimbra. Mas, em vez de seguir uma carreira lucrativa e de prestígio, tem passado os últimos anos a ajudar os sem abrigo pelas ruas do Porto, proporcionando cuidados médicos. Tem uma vida simples, o dinheiro não é importante para ele. E, contudo, a vida do Francisco é cheia de alegria e ele é amado por todos aqueles que tiveram a sorte de o conhecer, desde pessoas da rua até aos cidadãos mais prestigiados da cidade.
Veja-se: vencer e perder não podem ser quantificados.
São estados de espírito e perder acontece apenas quando se desiste.
Visto desta maneira, então, o mundo pode estar cheio de vencedores e existe espaço para todos eles.
Jorge Neves
Após a sua carreira profissional e eis que chegou a altura em que os seus netos lhe pedem conselhos sobre os seus rumos educativos e profissionais... o que lhes diria?
Sempre que esta questão é suscitada, há uma imagem forte que me vem à memória. É a imagem de uma amiga minha que foi encorajada (ela diria "empurrada") pelos pais para ser médica. Naquela altura, tirar o curso de Medicina era como ganhar a lotaria, mas com mais respeito incluído. Então essa minha amiga seguiu o plano. Os seu pais aplaudiram; ela continuou corajosamente.
Avancemos rapidamente até ao presente. A minha amiga tira fotografias como modo de vida. Abandonou a sua carreira de vários anos como neurologista quando tinha 45 anos, a dizer: "A vida é demasiado curta para passarmos os dias a fazer uma coisa que não gostamos".
É isso que aconselharia que dissesse aos seus netos.
Mas compreendo que em cada Era existe algo que vai mudar o mundo. Nos anos 70, os universitários eram pressionados para estudar Geologia, para aproveitarem o crescente número de oportunidades na exploração de petróleo e gás. Nos anos 80, o investment banking e a consultoria eram minas de ouro do futuro e, nos anos 90, o lema colectivo era: "Agarra a Internet, jovem." Afinal, não eram coisas más. As indústrias do petróleo e do gás continuam a florescer. O investment banking e a consultoria continuam a crescer, criando fortunas para muitos. E a Internet, após ter sentido um período de quebra, está forte e a fortalecer-se ainda mais.
Hoje em dia, todas as setas apontam em direcção às indústrias da biotecnologia, da nanotecnologia e das tecnologias da informação; para a convergência delas. É onde o crescimento e o maior entusiasmo provavelmente residirão nas próximas décadas.
Mas estes dados são apenas importantes se os seus netos gostarem de ciências ou tecnologia que nunca se cansam de aprender mais sobre alguma delas , ou ambas.
Se não gostarem, devem seguir o conselho valioso da minha amiga: a única carreira que vale a pena seguir é aquela que nos inspira.
Por isso, fale com os seus netos acerca do que vai mudar no mundo, mas diga-lhes com mais entusiasmo que devem fazer o que gostam. Diga-lhes para agarrarem a carreira que alimenta o cérebro, o coração e a alma, e lhes dá significado. Diga-lhes que, mais cedo ou mais tarde, o dinheiro aparecerá e, se não aparecer, com o tempo, verão que estão ricos com o que o dinheiro não pode comprar.
E isso, obviamente, é a felicidade.
Jorge Neves
Você que sonha em criar o seu próprio negócio como pode saber se tem o que é preciso para ser um empreendedor?
Sente também sentimentos contraditórios em relação às suas capacidades empreendedoras?
Se existem sentimentos contraditórios é preocupante e muito. Ser um empreendedor sem ambivalência já é complicado. Mas deve ser ainda mais difícil se ela existe.
No entanto saber o que é preciso para ser um empreendedor prova a quem faz esta pergunta, que compreende uma verdade fundamental dos negócios: os empreendedores são uma espécie diferente dos outros colaboradores das empresas. A propósito, não existe nenhum julgamento de valor nesta afirmação. Estes dois tipos de vida podem ser igualmente gratificantes. Mas são diferentes.
Por isso deixo aqui quatro perguntas: Se responder SIM a todas, esqueça os sentimentos contraditórios e aventure-se sozinho. Tem o que é necessário para ser empreendedor.
1. Tem uma grande ideia que torna o seu produto ou serviço irresistível para os consumidores de uma forma que nenhum concorrente pode igualar?
Por vezes, sentimos-nos atraídos pelo "estilo de vida" dos empreendedores - controlo, autonomia, a possibilidade de ganhar bom dinheiro, etc - mas não temos a ideia milionária para o tornar realidade. Os verdadeiros empreendedores não só têm uma proposta de valor única para o mercado, como também estão apaixonados por ela. Acreditam apaixonadamente que descobriram a melhor coisa desde a gravidade e, agora, tudo o que têm de fazer é vendê-la ao mundo que espera ansiosamente.
2. Tem a perseverança para ouvir "NÃO" vezes sem conta e continuar a sorrir?
Os empreendedores passam grande parte do seu tempo a pedir (e às vezes a implorar) dinheiro aos investidores de capitais de risco, aos bancos e a outros investidores. Muitas vezes sofrem um revés. Ninguém gosta de ser rejeitado, mas os empreendedores têm resiliência suficiente para não serem desencorajados por isso. Os melhores até ganham energia extra com a experiência; ouvir um "NÃO" apenas os faz ter ainda mais vontade de vender a ideia.
3. Detesta a incerteza?
Se sim, pare de ler aqui. Os empreendedores passam mais tempo em becos escuros do que os gatos vadios; se não estiverem à caça de euros estarão à caça de novos conceitos de tecnologia ou serviços, para além de tudo o resto de que precisam para construir um negócio. Se não for em becos escuros, é a bordo de um barco que deixa entrar água no mar picado - ou dizendo isto de uma forma mais simples, muitas vezes estão a ficar sem dinheiro quando apostam no desconhecido. Se for um empreendedor, isso até parece, bem, divertido.
4.Tem personalidade para atrair pessoas inteligentes para perseguirem consigo o seu sonho?
É claro que no início pode trabalhar sozinho. Mas, com algum sucesso, precisará de recrutar profissionais notáveis a quem não pode pagar muito. Para isso, precisa do talento especial para fazer com que os outros gostem do seu sonho tanto quanto você. precisa da capacidade para converter os colaboradores em verdadeiros crentes.
Certamente não quero desencorajar ninguém de criar o seu próprio negócio. Os mercados livres dependem dos empreendedores; são a essência das economias saudáveis em toda a parte. Saiba apenas, porém, que aventurar-se sozinho é um afastamento radical de qualquer emprego que alguma vez teve numa empresa.
Não arrisque se isso o preocupar - e avance se o entusiasmar verdadeiramente.
Jorge Neves