terça-feira, 27 de novembro de 2012

REFLEXÕES POLÍTICAS - A DEMOCRACIA PRESA NA ARMADILHA







A integração global anda a par com a difusão de uma doutrina político-económica miraculosa, permanentemente instilada na vida política por uma legião de conselheiros económicos:  o neoliberalismo
  Simplificando, a sua tese fundamental é a seguinte: o mercado é bom e as intervenções do Estado são más.
  Baseado nas ideias do principal representante desta escola, o economista norte-americano  Prémio Nobel Milton Friedmam, a maior parte dos governos ocidentais inspirados pelo liberalismo económico fez deste dogma a linha diretora da sua política depois dos anos 80. Desregulamentação em vez de supervisão do Estado, liberalização do mercado e da circulação de capitais, privatização das empresas nacionalizadas: são as armas estratégicas que se encontram no arsenal dos governos que acreditam no mercado e nas organizações económicas internacionais, por eles  dirigidas. O Banco Mundial o Fundo Monetário Internacional (FMI) Organização Mundial do Comércio ( OMC)  e a União Europeia (UE). Foi com estes instrumentos e protagonistas, que levaram a cabo o seu combate a favor da liberdade do capital. Esta batalha  ainda hoje está a ser travada. Telecomunicações, bancos, seguros, industrias, etc... e claro a gestão da mão-de-obra: nada nem ninguém pode escapar à lei da oferta e da procura.
  A desagregação das ditaduras de partido único no bloco de Leste deram a esta lei um novo impulso e novas forças. Uma vez afastada a ameaça da ditadura do proletariado, começa-se logo a edificar a ditadura do mercado mundial. E, de repente, a participação maciça dos empregados na criação de riqueza surge como uma simples concessão feita ao longo da guerra fria  para atirar areia aos olhos dos agitadores comunistas.
  Mas o «turbo capitalismo»  cuja propagação mundial parece agora irreversível, destrói as próprias bases da sua existência: o Estado viável e a estabilidade democrática. O ritmo da transformação e da redistribuição do poder e da prosperidade provocam a erosão das antigas unidades sociais mais rapidamente do que se pode processar o desenvolvimento de novas. Os outros Estados prósperos consomem a substância social da sua coesão ainda mais velozmente do que a sua substância ecológica. Os economistas e os políticos neoliberais pregam ao mundo o «modelo norte-americano» mas, ao ouvirmos esta divisa, recordamo-nos com um arrepio de horror, da propaganda do governo alemão de leste que, até ao seu último dia, pretendia aprender com a União Soviética a forma de alcançar a vitória. E a decomposição social em parte alguma é mais gritante do que no país de onde nos veio a contra-revolução capitalista, os Estados Unidos. A criminalidade assumiu aí proporções endémicas. No estado da Califórnia, que por sí só constitui a sétima potência mundial, as despesas provocadas pelas prisões ultrapassam o orçamento total da educação. Cerca de 28 milhões de norte-americanos, mais de 10% da totalidade da população, vivem já entrincheirados em edifícios ou em bairros protegidos por guardas armados. Os cidadãos norte-americanos gastam duas vezes mais dinheiro para os remunerarem do que o Estado gasta com a polícia.
  A Europa e o Japão, a China e a Índia estão igualmente a cindir-se numa minoria de vencedores e numa maioria de derrotados. Para milhões de pessoas, o processo globalizado em nada representa um avanço. Chefes de governos querem «fazer da mundialização um êxito que beneficie todos». Os derrotados deste jogo terão dificuldades em não encarar esta frase como uma enorme e descarada gargalhada.


Jorge Neves 

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