Creio, que entre esses inúmeros novos desempregados espalhados pelo mundo inteiro, encontrar-se-ão dezenas de milhões de pessoas que, até agora, viviam uma confortável vida quotidiana do que pessoas que já se encontravam nessa luta pela sobrevivência.
Desenha-se uma nova ordem social, um universo de países ricos sem classe média digna desse nome. Nesta realidade, muitos defendem que a receita para neutralizar ou minimizar este descontentamento da classe média está em encontrar, uma mistura sábia de divertimento estupidificante com alimentação quanto baste, para que permita manter de bom humor a população frustrada do planeta.
Pergunta-se como poderá o quinto da população (os afortunados) ocupar o resto supérfluo dos habitantes do globo?
Uns pensam, e dada a pressão crescente da concorrência, não permitirá que se peça ás empresas que participem nesse esforço social. Outras instâncias deverão ocupar-se dos desempregados. Vaticinam que uma solução passa por voluntariado a favor da coletividade. «Poderia valorizar-se essas atividades de voluntariado mediante a atribuição de uma remuneração modesta, o que ajudaria milhões de cidadãos a serem conscientes do seu próprio valor»,
Outros esperam porventura os mais extremistas darwinianos, os patrões do grande capital, que a breve prazo, nos países industrializados sejam postas as pessoas a varrer as ruas por um salário praticamente nulo ou que haja quem aceite um emprego de criado a troco de um miserável alojamento.
Estamos a assistir à emergência da sociedade dos dois décimos, a sociedade que terá que recorrer ao divertimento estúpido para que os excluídos permaneçam tranquilos. Será tudo isto desmesuradamente exagerado? Temo que não.
Jorge Neves
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