quarta-feira, 18 de março de 2015

GESTÃO E LIDERANÇA - O MAIOR E MELHOR LÍDER É AQUELE QUE SERVE MAIS






  Dei comigo a sentir-me muito irritado e tenho dificuldade em concentrar-me! Foi desta forma que desabafei com o formador num dos muitos cursos sobre liderança a que assisti.

  - O Pedro contesta tudo. Suponho que essa atitude esteja relacionada com a formação que recebeu quando esteve no exército. Porque é que não o põe no seu lugar ou lhe pede para sair em vez de o deixar perturbar toda a gente?

  - Eu peço a Deus para ter pessoas exactamente como ele nas minhas aulas... Respondeu-me o formador

  - Você quer realmente ter tipos como o Pedro nas suas aulas? - Perguntei incrédulo

  - Pode acreditar que sim. O meu primeiro mentor ensinou-me uma lição muito difícil acerca da importância da opinião contrária. Como vice presidente (continuou o formador), de uma empresa produtora de bens, eu era do tipo de líder que defendia que o trabalho devia ser uma fonte de prazer e que nos devíamos ajudar uns aos outros. Os outros dois vice presidentes, de quem ainda me lembro bem, João e Tiago, pensavam exactamente o contrário, pois acreditavam que as pessoas eram preguiçosas, desonestas e que tinham se ser espicaçadas para começarem a trabalhar.

  -Mais ou menos como o Pedro?
  - Não sei em que é que o Pedro acredita, Neves, mas sei que as coisas não são sempre o que aparentam ser. Devemos ter cuidado para não julgar as pessoas de uma forma apressada e irreflectida. Além disso o Pedro  não está aqui para se defender e eu esforço-me sempre muito para não falar de uma forma negativa das pessoas que não estão presentes.

  -Acho que é uma boa política...concluí eu.

  - Tentei viver, muitas vezes sem sucesso, com a filosofia de que nunca devemos tratar as pessoas de forma diferente da que queremos que nos tratem. Não me parece que queiramos que as pessoas falem de nós nas nossas costas, pois não Neves?

  -Voltemos ao  João e ao Tiago. Durante as reuniões eu e eles entrávamos  em conflito sempre que eram discutidas questões relativas aos funcionários. Aqueles dois estavam sempre a defender e a exigir políticas e procedimentos mais rígidos e eu lutava sempre por estilo de gestão mais democrático e aberto. Sempre acreditei que o João e o Tiago arruinariam a empresa com as suas atitudes despóticas. Eles, por sua vez, sempre acreditaram que eu era secretamente comunista e que queria dar cabo da empresa. O meu chefe, Abel (presidente da empresa) e meu amigo pessoal, moderava pacientemente estas batalhas algumas delas muito intensas, por vezes apoiando-os a eles, outras vezes apoiando-me a mim.

  - Não devia ser fácil - comentei eu

  -Para o Abel não era difícil - respondeu ele imediatamente

  -Ele tinha sempre os limites bem definidos, sobretudo quando se tratava de interesses da empresa. Depois de uma reunião muito acalorada, chamei o Abel à parte e perguntei-lhe : «Porque é que não despede aqueles dois idiotas para podermos começar a ter reuniões civilizadas e optimistas?»
  Lembrar-me-ei da sua resposta até ao fim da minha vida.

  -Ele concordou em despedi-los?

  - Pelo contrário, Neves. Ele disse-me que despedi-los seria a pior coisa poderíamos fazer à nossa empresa. Claro que lhe perguntei porquê.
 -Ele olhou-me nos olhos e disse-me: «Porque se você pudesse fazer as coisas à sua maneira, daria cabo da empresa. Aqueles tipos ajudam-no a manter o equilíbrio».

  O formador reconheceu que pese embora existirem discussões acesas entre ele e o Abel as decisões finais eram muito equilibradas e pressupunham um compromisso de ambas as partes. Ele precisava daqueles tipos e eles precisavam dele.

  De facto o chefe deste nosso formador era um indivíduo inteligente. Com isto ela queria lembrar para não nos rodearmos de pessoas que dizem que sim a tudo nem de pessoas parecidas connosco.

  Uma coisa é certa: «Se nas vossas reuniões, todas as dez pessoas presentes estiverem de acordo em tudo, provavelmente nove são desnecessárias.»

  No final do segundo dia de formação, tivemos todos uma discussão maravilhosa sobre quem seria o maior líder de todos os tempos.
  Foram sugeridos muitos nomes, mas não conseguimos chegar a um consenso relativamente a um nome. Questionámos o formador (Ribeiro de seu nome), quem seria na sua opinião o maior líder de todos os tempo?
  -Jesus Cristo - respondeu ele imediatamente. E argumentou porquê.

  - Ele não foi um bom líder, foi o maior líder de todos os tempos - insistiu de novo o formador. - Cheguei a esta  conclusão por razões que muitos de vocês não podem sequer imaginar, e várias dessas razões são muito pragmáticas.

  O formador Ribeiro prosseguia entretanto recordando que a liderança era a capacidade de influenciar as pessoas para trabalharem com entusiasmo no sentido de alcançarem objectivos identificados  como sendo para o bem comum.
  Ele não conhecia ninguém, vivo ou morto, que se aproxime de Jesus como personificação dessa definição. Observando os factos dizia ele, actualmente, mais de dois mil milhões de pessoas um terço dos seres humanos que habitam este planeta, consideram-se cristãos. A segunda maior religião do mundo, o Islamismo, tem menos de metade das dimensões do Cristianismo. Os dois principais feriados o Natal e a Pascoa, baseiam-se em acontecimentos da vida de Jesus e o calendário até regista os anos a partir do seu nascimento, há mais de dois mil anos. Quer se seja budista, hindu, ateu ou de qualquer outra religião ou crença, ninguém pode negar que Jesus Cristo influenciou milhões se pessoas, no presente e ao longo da história. Mais ninguém consegue aproximar-se disto.

  Mas afinal como se descreve o estilo de gestão, perdão, de liderança de Jesus Cristo?

  Recordo que Jesus disse que para liderar é preciso estar disposto na servir. Pode chamar-se uma liderança baseada no serviço. O modelo de Jesus Cristo não assentava no poder porque Ele não tinha poder. O rei Herodes, Pôncio Pilatos e os Romanos - todos tinham poder. Mas Jesus tinha muita influência, muita autoridade, e ainda hoje consegue influenciar as pessoas. Ele nunca fez uso do poder, nunca forçou nem coagiu as pessoas a seguirem-n'O.

  Podemos descrever este estilo de liderança da seguinte forma:

  No exemplo seguinte no desenho em pirâmide invertida, dividímo-la em CINCO PARTES.

  Na parte superior vamos escrever «LIDERANÇA», dizendo:

  A liderança é para onde nos dirigimos, por isso vou colocá-la no topo da pirâmide. Pense na pirâmide invertida que simboliza o modelo da liderança baseada no serviço.



LIDERANÇA

AUTORIDADE

SERVIÇO E SACRIFÍCIO

AMOR

VONTADE



  Uma liderança que se pretende duradoura tem de assentar na autoridade.
  Poderá ser possível retirar  alguns benefícios do poder, mas com o tempo as relações acabam por se deteriorar, bem como a influência.

  Pegando no conceito de autoridade, como sendo a capacidade de levar as pessoas a fazerem voluntariamente o que lhes pedimos por causa da nossa influência pessoal, e então, como é que construímos a influência sobre as outras pessoas? Como é que devemos proceder de modo que as pessoas cumpram voluntariamente a nossa vontade? Como devemos agir para que as pessoas se empenhem e envolvam intelectualmente? Em que bases assenta a autoridade?
  Quando nos lembramos da pessoa que exerce ou exerceu influência e autoridade na nossa vida, essa pessoa foi de facto para cada um de nós o nosso mentor. Ela preocupa-se genuinamente connosco e com a progressão das nossas carreiras das nossas vidas, acho que até mesmo mais do que com a dela.
  Ela satisfaz as nossas necessidades, mesmo antes de sabermos que eram necessidades.   Ela serve-nos sem nos apercebermos de que isso estava a acontecer.
  A autoridade assenta sempre no serviço e no sacrifício. Se cada um de nós reflectir por um momento sobre a pessoa que escolheu para realizar o exercício da autoridade, vai perceber que escolheu uma pessoa que de certa forma serviu e se sacrificou por si.

  Outro exemplo grande exemplo recente de capacidade de influenciar e exercer autoridade vem desse grande homem que tinha menos de um metro e meio de altura e pesava cerca de 45 quilos! Gandhi viveu num país oprimido com cerca de um terço de mil milhões de habitantes, praticamente um país escravo do Império Britânico. Gandhi declarou que conseguiria obter a independência de Inglaterra sem recorrer à violência. A maioria das pessoas riu-se dele, mas o facto é que consegui. E como é que consegui isso? Gandhi sabia que tinha de atrair a atenção do mundo sobre a Índia, para que as pessoas pudessem ter conhecimento das injustiças que estavam a ser cometidas naquela nação. Ele disse aos seus seguidores que teriam de se sacrificar para servir a causa da liberdade, mas através do seu sacrifício começariam a construir influência junto das pessoas de todo o mundo que os estavam a observar.
  Ele serviu e sacrificou-se pela libertação do seu país até o mundo tomar conhecimento do que estava a acontecer. Finalmente, em 1947, não só o Império Britânico concedeu à Índia a independência, como Gandhi foi recebido no centro de Londres com honras de herói. Ele consegui tudo isto sem recorrer às armas, à violência ou ao poder. Consegui-o através da sua influência.
  Idêntico exemplo vem também de Martin Luther King.

 A função de liderança é servir, ou seja, identificar e satisfazer necessidades legítimas. No processo de satisfação das necessidades, é-nos pedido com frequência que façamos sacrifícios em prol das pessoas que servimos. É como a lei da «colheita» que qualquer agricultor conhece. Colhemos o que semeamos. Tu serves-me e eu sirvo-te em troca. Tu arriscas-te por mim e eu arrisco-me por ti.
  Quando alguém nos dá uma coisa boa, não nos sentimos naturalmente em dívida para com essa pessoa?
  Não é uma questão complicada nem tem a ver com magia.
  De forma reduzida falei que a liderança que vai perdurar tem de se basear na influência e na autoridade. A autoridade assenta sempre no serviço e sacrifício que é feito em prol das pessoas que lideramos. O serviço que prestamos deriva da identificação e da satisfação das necessidades legítimas destas mesmas pessoas. Então, em que é que assentam o serviço e o sacrifício?

  Muito esforço... Muito esforço!
  Muito amor...Muito amor!

  Mas porquê introduzir a palavra «amor» nesta equação? O que é que «amor» tem a ver com isto?

  A razão pela qual nos sentimos muitas vezes pouco à vontade em relação a esta palavra, é porque pensamos no amor, de um modo geral, como um sentimento. Quando falo de amor, não estou a falar de um sentimento.
  Quando uso a palavra «amor», me estou a referir ao verbo amar para descrever um comportamento e não ao nome que descreve sentimentos.
  Numa frase: «o amor reside nas acções»! «O amor baseia-se sempre na vontade»!


  VONTADE


  Na verdade, consigo definir a palavra «vontade» mediante uma fórmula que um dia li da autoria  do Ken Blanchard, o autor daquele pequeno clássico " o Gestor Minuto". Aqui vai a primeira metade da fórmula.

  INTENÇÕES - ACÇÕES = NADA 

  Intenções menos acções é igual a nada. Todas as boas intenções do mundo deixam de ter qualquer significado se não forem acompanhadas pelas nossas acções.
  Diz-se muitas vezes que o inferno está cheio de boas intenções.

  Na minha vida profissional, ouvi as pessoas afirmarem que os seus funcionários eram o bem mais valioso. Contudo, as suas acções revelavam sempre aquilo aquilo em que acreditavam realmente, ou seja, as acções não correspondiam ao que elas diziam.
  À medida que vou envelhecendo, dou menos atenção ao que as pessoas dizem e mais atenção ao que as pessoas fazem.
  As pessoas dizem todas coisas muito semelhantes, mas normalmente é só da boca para fora. As diferenças só são reveladas quando elas agem.

  A verdadeira liderança é difícil e requer um grande esforço. Concordarão que as nossas intenções pouco significam se não forem acompanhadas pelas nossas acções.

  Agora  aqui está a segunda metade da fórmula de "Ken Blanchard"

  INTENÇÕES + ACÇÕES = VONTADE

  As intenções mais as acções é igual a vontade. Só quando as nossas acções estiverem em consonância com as nossas intenções é que nos tornamos pessoas congruentes e harmoniosas e líderes coerentes.


  Eis, portanto, o modelo para liderar com autoridade.





   A liderança começa com a vontade, que é uma capacidade única que os seres humanos possuem de sintonizar as suas intenções com as suas acções e de escolher o seu comportamento. É preciso ter vontade para escolhermos amar, isto é, identificar e satisfazer as necessidades legítimas e reais, e não os desejos, daqueles que lideramos. Quando satisfizermos as necessidades dos outros, teremos de nos predispor a servir e inclusive a fazer sacrifícios. Quando servimos e nos sacrificamos em prol dos outros, construímos autoridade e influência, a tal «Lei da Colheita». E quando exercermos a nossa autoridade sobre as pessoas, teremos ganho o direito de sermos designados por líderes.

  Então quem é o maior líder? É aquele que serviu mais.

  Parece-me que a liderança se resume a uma simples descrição de uma tarefa composta por quatro palavras.  Identificar e Satisfazer Necessidades.


  Jorge Neves

  





  


  



  

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