Você acabou de ser promovido e agora será gestor da equipa da qual fêz parte. Tem aqui alguns conselhos para tornar a transição mais fácil.
Sim - comece uma campanha. Os manda-chuvas da empresa acabaram do o nomear chefe. Parabéns. Agora vem a parte mais difícil: precisa de sair para a rua e ser eleito pelos seus antigos colegas.
E esta parte não é apenas difícil, é muito difícil. Na realidade, a transição de colega para diretor com funções de chefia e liderança é uma das situações organizacionais mais delicadas e complicadas que alguma vez viverá. Durante meses ou até anos, esteve nas trincheiras com os seus colegas enquanto amigo, confidente e, provavelmente, camarada resmungão. Ouviu segredos e contou alguns. Sabe de todas as rixas (brigas) e invejas. Sentou-se em salas de espera de aeroportos e em churrascos de fim-de-semana com os seus colegas mais próximos e classificou todos os outros membros da equipa. Deu opinião acerca de quem sairia e quem ficaria e, em geral, o que faria se chefiasse o grupo.
E é o que faz agora.
Certamente, alguns dos seus antigos colegas estão a festejar a sua promoção e sentem-se ansiosos para seguir as suas pisadas. Isto fá-lo-á sentir-se bem, mas não deixe que o apoio deles o leve a algo desastroso - nomeadamente, sair ao portão "com medalhas ao peito". Não, mantenha-as bem guardadas.
Porquê? Porque tal como uns o aplaudem, outros não. Não importa que tenha toda a certeza de que seja a pessoa certa para o cargo e que tenha sido popular enquanto membro da equipa, pois alguns dos seus antigos colegas sentem-se incomodados com a sua promoção. Alguns até poderiam querer o cargo para eles e pensar que o mereciam, por isso, estão a sentir algo que vai desde a mágoa passando pela inveja e acabando no rancor. Outros estarão ansiosos devido ao facto de passar de "um de nós" para "um deles" - especialmente devido ao que sabe, sem falar nas suas opiniões (conhecidas ou suspeitadas) acerca de certas pessoas e do modo como as coisas são feitas. De qualquer modo, estes antigos colegas estão agora numa fase de apreciação, estão a observá-lo
E é aí que você também deve estar - numa fase de apreciação, também a observá-los. Aliás você deve estar a observar tudo.
É por isso que precisa de começar uma campanha, isto é, conquistando-os para o seu lado. Precisa de criar uma atmosfera de estabilidade e de coesão onde possam ser feitos julgamentos sólidos sobre o futuro - por todos.
A última coisa que vai querer na sua nova função é uma revolução ou um êxodo ou ainda um descontentamento a níveis inferiores. Vai querer que todos estejam calmos e a trabalhar. O motivo é muito simples. Quando e se existirem mudanças em vista, vai querer fazê-las à sua maneira.
Por outras palavras, vai querer fazer mudanças contando com um forte empenho de uma equipa de apoiantes dedicados - e não tendo de enfrentar resistência e queixas de uma equipa confusa e caótica.
E, por falar nisso, não é nada de bom para a sua carreira ou para a sua posição politica numa organização lançar-se no novo emprego durante um período de agitação. É muito melhor ser conhecido como um guardião da paz que entra em ação apenas quando as tropas estão preparadas para lutar por uma missão em que acreditam.
E, por isso a campanha tem de começar.
Mas aqui está a dificuldade: tem de fazer isto sem comprometer a sua nova autoridade. É verdade, tem de se candidatar ao cargo enquanto ocupa esse mesmo cargo - e fazer tudo o que o detentor do cargo tem de fazer!
E aqui está o dilema - a parte difícil, tal como falei - a necessidade de fazer campanha e chefiar simultaneamente. É disso que se trata a transição de colega para director.
Fazer as coisas bem é uma questão de timing.
A sua campanha eleitoral simpática e branda não pode durar para sempre. Aliás, dedique-lhe três meses - no máximo seis. Nessa altura, se ainda não tiver ganho os votos de dois ou três antigos colegas, nunca os irá ganhar. Na verdade, após um certo tempo, quanto mais brando for menos eficaz será, uma vez que a luta em batalhas que não fazem nada a não ser cansá-lo. Assim, guarde as suas energias e a sua atenção para coisas mais importantes e comece o processo de retirar os resistentes inflexíveis, invejosos e broncos. - E a trazer para a sua equipa quem aceita de imediato as mudanças que você e o seu novo núcleo de apoiantes veem como necessárias
A realidade é que concorrer a um cargo faz parte do processo de ser promovido e todos os gestores eficazes passam por isso - habitualmente, várias vezes durante a carreira. Felizmente, o período de transição não dura para sempre e, se lidar bem com a situação - com uma campanha e não com o caos - estará numa boa posição para fazer o que é melhor para a organização e para si.
Lidere com força
Jorge Neves
Jorge Neves